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Museu Nacional da Geórgia possui setor dedicado à ocupação soviética

No Museu Nacional da Geórgia, em Tbilissi, um dos meus objetivos era visitar o setor dedicado à ocupação soviética. Centenas de objetos, documentos, fotografias e filmes mostram tanto o desenvolvimento industrial e econômico que Moscou proporcionou, bem como a opressão política, cultural e religiosa à qual o país foi submetido no período em que a nação foi uma das repúblicas da URSS. Há destaque especial para o mais famoso georgiano da história, admirado até hoje por muitos em seu país natal.

Filho de um sapateiro alcoólatra e de uma resiliente faxineira, Ioseb Besarionis dze Jugashvili (1878-1953) nasceu em Gori, norte da Geórgia, na época parte da Rússia Imperial. Na adolescência, a mãe o enviou para o Seminário Espiritual Ortodoxo em Tiflis (atual Tbilissi). Mais que o sacerdócio, era uma oportunidade única para famílias com poucos recursos de dar uma educação de qualidade aos filhos. Na capital, o jovem entrou em contato com os livros de Karl Marx e, expulso pelos religiosos, dedicou-se ao idealismo anti-czarista liderado por Vladimir Lenin. Sua primeira função foi a de editor do Pravda, jornal do Partido Social Democrata dos Trabalhadores Russos.

Foi então que o georgiano adotou o famoso nome: Josef Stalin (“de aço”, em russo). Como parte do movimento bolchevique, Josef passou a organizar operações paramilitares no Cáucaso, incluindo atividades criminais para obter fundos para a facção revolucionária organizada por Lenin. Em 1913, após várias prisões e fugas, Stalin foi exilado na Sibéria pela polícia czarista, onde permaneceu até a abdicação do imperador Nicolau II, em fevereiro de 1917.

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De volta à Rússia ocidental, Stalin foi membro ativo da Revolução de Outubro e, com a morte de Lenin, sabotou o adversário político Leon Trótski para assumir a liderança da União Soviética, em 1922. Oito anos depois, centralizou o poder, transformando o que era uma liderança coletiva no período totalitário que ficou conhecido como Stalinismo, que duraria até sua morte.

O ditador conduziu o país durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1939, a URSS assinou um acordo de não agressão com os nazistas (Pacto de Molotov-Ribbentrop). Traído em 1941 por um líder ainda mais nefasto, Adolf Hitler, Stalin se uniu aos aliados. O Exército Vermelho invadiu Berlim em 1945 e a determinação das tropas soviéticas foi fator fundamental para a queda do nazismo. A partir daí, Stalin consolidou a União Soviética como uma das duas grandes potências mundiais, no período de tensão conhecido como Guerra Fria.

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Embora fizesse a autopropaganda de homem benevolente e herói nacional, a paranoia de Stalin no politburo soviético se tornou notória. Dos 139 membros do comitê central, ele mandou executar 93. No âmbito militar, 81 de seus 103 generais foram executados, sem falar nas centenas de milhares de prisioneiros políticos que receberam passagens só de ida para campos de trabalho siberianos (gulags). O georgiano tem até hoje sua reputação dividida entre a de um ditador cruel, que causou a morte de milhões em seu próprio país, e a de um líder revolucionário, que transformou uma sociedade agrária e desigual em potência econômica mundial.

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A Geórgia só iniciou oficialmente o processo de desestalinização em 2003, com a renúncia do presidente pró-russo Eduard Shevardnadze. Disputas territoriais com o país de Putin resultaram em um violento conflito, culminando na guerra entre a Rússia e a Geórgia, em 2008. Até hoje, não há relações diplomáticas entre as duas nações, embora exista intensa atividade comercial entre ambas. A dissolução da URSS ainda gerou, em território georgiano, dois países que teoricamente não existem: a Ossétia do Sul e a Abcázia, regiões autônomas no período soviético que declararam independência em 1991 e seguem protegidas por tropas russas.

Um indício de que o Stalinismo ainda exerce forte influência geopolítica, sete décadas após a morte de Stalin, é o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia. As políticas agrícolas de três décadas de centralização stalinista geraram frequente escassez de alimentos na Ucrânia, notadamente no período de fome e morte conhecido como Holodomor. Entre outras coisas, tal penúria criou nos ucranianos um forte movimento anti-Moscou e, consequentemente, pró-nazista durante a Segunda Guerra, sentimento ainda não bem resolvido. Um dos argumentos usados por Putin durante a atual invasão foi o propósito de desnazificar a Ucrânia.

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