A hashtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo está entre os tópicos mais comentados no Twitter nesta terça-feira, 11. São milhares de relatos de abusos, agressões físicas e psicológicas a mulheres, e também homens, que evidenciam situações de abuso presentes, às vezes, em pequenas atitudes que não podem deixar de ser notadas.
“Eu vivi um relacionamento abusivo duas vezes”, diz uma das usuárias da rede social. “Na primeira, eu era agredida fisicamente. Na segunda, psicologicamente. Nenhum dos relacionamentos me fez bem. E sair foi a parte mais difícil. Depois de negar o que eu passava, finalmente enxerguei o que acontecia. Duas vezes. Em ambas, eu era colocada como a louca, a desequilibrada. E pior, eu defendia a pessoa”, relata.
Em outro comentário, uma mulher diz: “Me empurrava, gritava, por mais de uma vez tentou me socar. Depois, chorava igual a um bebê. E os amigos diziam ‘a culpa é de vocês dois, porque vocês brigam’.”
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Os relatos são muitos. Há descrições de relações que, segundo os depoimentos, levavam à paranoia: “Fui vigiada e seguida, tudo que eu fizesse, tinha alguém que ele mandava para olhar e contar tudo depois.”
As situações aparecem também em comentários feitos pelos companheiros das mulheres, que à primeira vista podem parecer inocentes. “Eu vivi um relacionamento abusivo quando disse que cortaria o cabelo, e ele disse: “eu mato, se vc fizer isso”. Em outro comentário, uma usuária diz que “quando estava de tpm [tensão pré-menstrual], ele se recusava a falar comigo porque não queria lidar com as minhas frescuras”.
Para algumas pessoas, pode parecer absurdo a vítima se manter em uma relação abusiva, mas um dos depoimentos mostra a dificuldade que é sair desse tipo de relacionamento. “No começo é sempre às 10 mil maravilhas, a gente pensa que vai voltar a ser como era no começo, é horrível a sensação de estar presa à alguém que tu ama mesmo essa criatura te deixando no fundo do poço.”
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“Violência Doméstica não é só agressão física. É mais difícil escapar da agressão psicológica”, diz outra usuária da rede social.
Hashtag
A hashtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo começou a ser usada nas redes sociais depois de um caso de abuso ocorrido no programa Big Brother Brasil, da TV Globo. Um dos participantes, o médico Marcos, foi expulso do programa, acusado de agredir Emily, com quem mantinha relacionamento amoroso dentro da casa do reality show. Diversos movimentos, que buscam conscientizar as mulheres sobre relacionamentos abusivos, também passaram a usar a mesma hashtag em redes sociais.
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Esta não é a primeira vez que uma campanha virtual contra abusos ganha dimensão. Na semana passada, mulheres se uniram sob o mote “Mexeu com uma, mexeu com todas”, na campanha que surgiu após denúncia de assédio no mesmo canal de televisão, que mobilizou também milhares de pessoas nas redes.
Segundo a cofundadora do coletivo Mete a Colher, Renata Albertim, campanhas como essas têm muita repercussão e podem ajudar mulheres que vivem relacionamentos difíceis e abusivos. “Elas vão lendo o que outras mulheres já passaram e ficam em alerta sobre o que estão passando. Ajudam a ver que não estão sozinhas, e isso as fortalece para sair de relacionamentos abusivos”, disse Renata, em entrevista à Agência Brasil.
O coletivo Mete a Colher, criado nas redes sociais, tem como principal missão enfrentar a violência doméstica e ajudar mulheres a entender, evitar e se livrar de relacionamentos abusivos.
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Denúncias
Um dos principais canais de apoio às vítimas é o Ligue 180, ligação que pode ser feita gratuitamente de qualquer lugar do país. De acordo com os dados, neste ano o canal registrou aumento de 51% no número de denúncias em todo o país, em relação a 2015. Foram cerca de 1 milhão e 300 mil denúncias, em mais de 3 mil atendimentos por dia: 50% delas são de violência física, 31% de violência psicológica e 5% de violência sexual.
Em 65% dos casos, a violência foi praticada por homens contra as companheiras. E em 38%, o relacionamento entre a vítima e o agressor tem mais de 10 anos de duração.
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O Ligue 180 foi criado pela então Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, em 2005, para servir de canal direto de orientação sobre direitos e serviços públicos para a população feminina em todo o país. Hoje, a secretaria foi integrada ao Ministério da Justiça.