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Mulheres lotam o Ginásio João Lazzari e mostram sua importância

A última sexta-feira, 8, foi delas. No Dia Internacional da Mulher, trabalhadoras rurais de toda a região mostraram porque são tão importantes na sociedade e reforçaram que a luta por seus direitos e por maior espaço ainda existe, apesar de avanços nas últimas décadas. O Encontro Intermunicipal de Mulheres do Centro Serra lotou as dependências do Ginásio de Esportes João Lazzari, em Ibarama, durante toda a manhã e tarde.

Com o tema “Mulher capaz, em busca de união e paz”, a 27ª edição do Encontro Intermunicipal reuniu mais de 3 mil pessoas, que circularam pelo ginásio e pelos estandes montados do lado de fora. As caravanas dos dez municípios começaram a chegar ainda cedo no local, e durante o decorrer do dia, foram se misturando ao público regional e também às autoridades e representantes das empresas e entidades parceiras do evento.

O evento, segundo a extensionista da Emater/RS-Ascar de Ibarama, Letícia Fagundes, objetivou fortalecer o papel da liderança feminina na organização e desenvolvimento da sociedade, bem como integrar as organizações de mulheres agricultoras da região. Também buscou sensibilizar o Poder Público em suas diferentes esferas, entidades e comunidade em geral sobre os desafios da agricultura familiar e o papel da mulher neste processo, assim como as dificuldades enfrentadas por elas no século atual, despertando seu empoderamento e valorizando sua inserção na vida da família e da sociedade.
 

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Foto: Evanir Bertó/Gazeta da Serra
Desfile das delegações foi um dos momentos mais marcantes do Encontro Intermunicipal

 

As palestras da manhã tiveram importante papel dentro da programação. A psicóloga Renata Pfutze e a tenente-coronel da reserva da Brigada Militar, Nádia Rodrigues Gerhard, abordaram, de diferentes formas, a preocupação com os casos de feminicídio – que é o assassinato de mulheres por questões de gênero – e os desafios da mulher em uma sociedade onde o machismo ainda está impregnado nas mais diversas áreas.

Carta de Ibarama destaca reivindicações das mulheres do campo

Pela parte da tarde, foi realizada a abertura oficial do evento com a presença de diversas lideranças locais e regionais. A gerente do escritório regional da Emater/RS-Ascar de Soledade, Lúcia Souza, destacou a atuação da Instituição junto aos grupos de agricultoras. “Nos sentimos muito honrados em contribuir com a organização das mulheres rurais e em colaborar com a realização de eventos como o de hoje que promovem a reflexão do papel da mulher e celebra uma data tão significativa que é o Dia Internacional da Mulher”, frisou.

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A presidente da Associação das Agricultoras de Ibarama, Santa Cleria Secretti frisou o trabalho para a realização do evento. “Este encontro foi planejado com muito carinho. Queremos que este encontro estimule ainda mais a união de todas nós, mulheres”. O prefeito de Ibarama, André Carlos Da Cas também discursou e abordou a força da mulher, agradecendo ao empenho de todos que se envolveram na organização.

Outro ponto importante do Encontro foi a leitura da Carta de Ibarama para as lideranças presentes. No documento, as agricultoras reivindicam questões como segurança da mulher, valorização da trabalhadora rural, manutenção dos atuais critérios para a concessão de aposentadorias para mulheres agricultoras aos 55 anos de idade e para os homens aos 60 anos, licença maternidade de seis meses para agricultoras, segurança pública no meio rural, ampliação das práticas integrativas no SUS, fortalecimento do Programa Estadual de Agroindústrias Familiares do Governo do Estado e da Assistência Técnica e Extensão Rural, entre outros.

Viviane Redin Mergen é eleita rainha das Trabalhadoras Rurais

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Um dos grandes momentos do 27º Encontro Intermunicipal de Mulheres ocorreu pela tarde, com o desfile para a escolha da corte das Trabalhadoras Rurais da região Centro Serra. A agricultora Viviane Redin Mergen, do município de Arroio do Tigre – onde também é vereadora – foi eleita a rainha do concurso. Adriana Maria da Silva de Moraes e Rita Juliane Karnopp, dos municípios de Segredo e Tunas, respectivamente, são as princesas.
 

Foto: Evanir Bertó/Gazeta da Serra
Nova corte de soberanas das Trabalhadoras Rurais com o prefeito de Ibarama, André da Cas, e a primeira dama Neiva

 

A Mulher Simpatia escolhida foi a agricultora Genete Fátima Lazzari Machado, do município de Lagoa Bonita do Sul. E o prêmio de melhor torcida ficou também para Arroio do Tigre, que levou uma grande delegação de trabalhadoras rurais para o evento.  Durante todo o dia também houve a exposição e comercialização de produtos e artesanatos da agricultura familiar dos dez municípios participantes.

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O 27º Encontro Intermunicipal de Mulheres do Centro Serra foi promovido pela Emater/RS-Ascar, Associação das Mulheres Agricultoras de Ibarama (Amai) e Prefeitura Municipal e contou com o patrocínio do Banrisul. Participam do evento agricultoras dos municípios de Arroio do Tigre, Estrela Velha, Ibarama, Jacuizinho, Lagoa Bonita do Sul, Lagoão, Passa Sete, Segredo, Sobradinho e Tunas.

* Com informações das assessorias de comunicação da Emater/RS-Ascar e Prefeitura Municipal de Ibarama.

 

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É preciso falar sobre feminicídio e a violência contra a mulher

Mateus Souza
mateus@gazetadaserra.com.br

A cada duas horas, uma mulher é morta no país. Os casos de feminicídio no Brasil aumentam a cada ano e atingem tristes índices. No mais recente levantamento, feito pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias, desde que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a acompanhar esses crimes, a quantidade de processos saltou 34% entre 2016 e 2018, mostrando que o assunto é, sim, preocupante e não pode ser ignorado pela sociedade.

A violência contra a mulher e o machismo na sociedade nortearam duas das palestras que marcaram a manhã da última sexta-feira, 8, no 27º Encontro Intermunicipal de Mulheres do Centro Serra. O tema foi abordado pela psicóloga Renata Pfutze, profissional no município de Butiá, e da tenente-coronel da reserva da Brigada Militar, Nádia Rodrigues Silveira Gerhard, que também é secretária do Desenvolvimento Social e Esporte em Porto Alegre.

Primeira mulher a comandar um batalhão dentro da Brigada Militar, Nádia acostumou-se a quebrar tabus. E conhece a realidade de muitas que foram vítimas de agressão nos últimos anos. “Infelizmente, a grande maioria das mulheres não denuncia, por medo. Tivemos um acréscimo no número de feminicídios de 2017 a 2018. Não podemos aceitar isso num país que quer ordem e progresso”, salientou ela, que também é criadora da Patrulha Maria da Penha.
 

Foto: Mateus Souza/Gazeta da Serra
Nádia: pioneira em comandar batalhões na Brigada Militar

 

Segundo Nádia, é necessária a criação de redes de atendimento e proteção dentro dos municípios, dando maior amparo às mulheres que são vítimas de agressão. “Seria uma rede com órgãos como o Cras, CAPS, Coordenadoria da Mulher, psicólogas, Assistência Social, Ministério Público, Polícia Civil e Brigada Militar. Órgãos que possam fazer um enfrentamento e dar todas as condições para a mulher se retirar do lar e fazer sua denúncia com tranquilidade, sabendo que não correm risco de vida”, explicou.

Ela lembra que, em muitas situações, a violência contra a mulher também acaba se tornando violência intrafamiliar, pois afeta os filhos, em especial as crianças e adolescentes.

Machismo é estrutural e cultural

Com outro viés, mas falando do mesmo tema, a psicóloga Renata Pfutze destaca avanços com a Lei Maria da Penha, mas que ela ainda não dá a proteção necessária para as mulheres. “É uma lei com medidas protetivas importantes, mas o Estado não dá conta de proteger integralmente. É imposta uma distância de tantos metros, mas o agressor viola e mata. Depois vai ser indiciado e preso, mas o leite já está derramado. Muita mulher não denuncia porque tem ameaça grave de vida”, explicou.

O grande desafio, para Renata, é encorajar e fazer com que a vítima de agressão se sinta fortalecida para denunciar o agressor, citando o exemplo que levou o médium João de Deus para a prisão. “O machismo é estrutural, e para combater a violência e lutar por direitos iguais, precisamos combater a cultura machista. Não somos inferiores. Somos tratadas assim por algo ilusório de que somos uma  ameaça”, ressaltou.
 

Foto: Mateus Souza/Gazeta da Serra
Renata Pfutze: palestra para encorajar mulheres

 

Quanto a mulher do campo, público-alvo da palestra de sexta, Renata vê uma “ameaça em dobro”, pois a mesma está afastada da cidade, das autoridades e há uma questão maior de dependência financeira, pois na maioria das propriedades o trabalho é familiar. “O importante é justamente encorajá-las e faze-las refletir: Se a palestrante está lá, se expondo, por que não posso fazer o mesmo e denunciar. A partir do momento que uma fala, dá voz às outras”, disse.

A agricultora de Arroio do Tigre, Marilei de Almeida Hermes, acompanhou atentamente as palestras e destacou a importância em falar sobre os temas. “Gostei muito das palestras. Os temas abordados são importantíssimos pois, infelizmente, isso acontece com muitas mulheres que não encontram o apoio necessário para sair dessa situação. Tenho certeza que todas nós aproveitamos muito o que foi dito hoje”, ponderou.

Dados preocupantes

Os últimos anos têm sido marcados pelo aumento no número de casos de feminicídios que chegam ao Poder Judiciário. Desde 2016, quando esses crimes passaram a ser acompanhados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a quantidade de processos vem crescendo. Em 2018, o aumento foi de 34% em relação a 2016, disparando de 3.339 casos para 4.461.

Os tribunais de Justiça também perceberam crescimento no número de processos pendentes relativos à violência contra a mulher. Em 2016, havia quase 892 mil ações aguardando decisão da Justiça. Dois anos depois, esse número cresceu 13%, superando a marca de um milhão de casos. Os dados dos tribunais foram consolidados pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ/CNJ).
 

Foto: Evanir Bertó/Gazeta da Serra
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