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Ela faz a diferença

Mulher, mãe, surda e mestre

Foto: Rafaelly Machado/Banco de Imagens

Por Daniela Neu
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Karoline Kist, 37 anos, mais conhecida como Kaká, é santa-cruzense, mulher, mãe e a primeira surda a defender dissertação de mestrado na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Na infância, frequentou a classe especial de deficientes auditivos e o ensino fundamental na Escola Estadual Gaspar Bartholomay, que então atendia os surdos na cidade. O ensino médio foi cursado na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira. Após, fez faculdade de Administração na Unisc, onde também trabalhou no setor de Recursos Humanos durante 12 anos. Com o objetivo de seguir carreira na docência, cursou Pedagogia na Facibra e pós-graduação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) pela Uniasselvi. Em fevereiro deste ano, concluiu o mestrado em Educação, com o trabalho Narrativas de professores surdos no ensino superior sobre os processos de produção acadêmica.

“Quero destacar que é uma grande conquista para mim, e também para a comunidade surda na busca de uma inclusão verdadeira. Essa pesquisa abrangeu temáticas muito relevantes, abordando a escrita, que, como reforça sempre o meu orientador, professor Camilo Darsie, é um dos principais problemas relacionados à educação dos surdos. Dando uma oportunidade para o processo inclusivo em todas as etapas e voz a essa comunidade, podemos avançar. Precisamos garantir a educação dos surdos, a continuidade na sua formação e na conquista dos espaços no mercado de trabalho, levando em consideração que cada pessoa surda tem perfil diferente”, reforça.

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Ela já atuou como professora substituta de Libras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 2017, e periodicamente leciona em unidades da Uníntese no Sul do País, além de ministrar palestras em escolas. Desde 2019, é professora de Libras para surdos e ouvintes na Escola Nossa Senhora do Rosário, atualmente a única referência para o ensino de surdos em Santa Cruz e que também atende alunos de outros municípios da região, como Passo do Sobrado, Venâncio Aires e Rio Pardo.

Presidente da Associação de Surdos do município desde 2018, Karoline trabalha na defesa de políticas públicas que visem ao reconhecimento da comunidade surda e no desenvolvimento de parcerias com empresas, instituições e órgãos públicos, como a integração com a Secretaria de Segurança, Defesa Civil e Esporte de Santa Cruz. Um exemplo dessa parceria é a realização do Primeiro Torneio Estadual de Futebol de Salão de Surdos, no próximo dia 14, no Ginásio Poliesportivo. “A promoção de eventos e encontros dos surdos tem o objetivo de reunir a comunidade surda para fortalecer a sua identidade, ampliar sua união, comunicação, troca de informações e conhecimentos, diversão”, destaca.

Kaká sempre foi engajada na luta pelos direitos dos surdos. Ainda na época em que trabalhava no setor de RH da Unisc, dava palestras em escolas sobre mercado de trabalho para surdos e ensinava Libras a funcionários, estagiários e professores da universidade. “Procuro sempre unir esforços nas questões que surgem. Há um mês, queriam tirar a disciplina de Libras do ensino médio da escola onde trabalho. Fui atrás da solução, o que foi conseguido com apoio de pessoas próximas, garantindo a continuidade desse serviço, importante para o público surdo e também para os ouvintes.”

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A barreira da comunicação, segundo Karoline, é a principal dificuldade enfrentada pela comunidade surda, pois o atendimento aos surdos ainda não é amplamente contemplado em questões de acessibilidade. “Embora pessoalmente consiga superar algumas dificuldades por ter aprendido a leitura labial, isto não é suficiente e não atende à real necessidade dos que não têm audição.” Como exemplo positivo, ela cita a Central de Libras da Prefeitura de Santa Cruz, que disponibiliza intérprete para acompanhamento a consultas médicas, atendimento bancário, entre outros. “Mas existe ainda muita demanda para atender neste sentido, e queremos alcançar progresso em nossa constante luta.”

Karoline enfatiza que os pais, Benno e Ângela, foram fundamentais para que ela e as irmãs, Kristine, 33 anos, e Karin, 31, também surdas, pudessem vencer ou minimizar as limitações impostas pela deficiência, buscando os recursos disponíveis para tanto e oferecendo todos os estímulos possíveis para que se sentissem mais incluídas na sociedade. Além da filha, Isadora, 13 anos, ouvinte, que com 1 ano e 6 meses já aprendeu os primeiros sinais para se comunicar com a mãe, e do namorado, Alexandre Treiber, 38, que também é ouvinte, mas já domina os sinais básicos de Libras. “Eles, sem dúvida, são os melhores pais, e minha filha foi o melhor que aconteceu na minha vida. Junto com meu namorado, são minha fortaleza de amor!”

Por que a Karoline faz a diferença? “Creio que faço a diferença ao fazer com que minha diferença seja superada e se transforme em igualdade de oportunidades.”

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