A cabeleireira e manicure Rochelle dos Santos Barros, de 37 anos, moradora do Bairro Bom Jesus, em Santa Cruz do Sul, aguarda desde 2008 para fazer uma cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela está com 160 quilos e mede 1,63 metro de altura, o que caracteriza obesidade mórbida, que ocorre quando o peso de uma pessoa ultrapassa o valor de 40 no Índice de Massa Corporal (IMC). Além disso, ela tem problemas na coluna, dificuldades para respirar, diabetes, hipotireoidismo e dores no corpo.
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No próximo dia 19, completa-se um ano desde que ela teve a primeira e última consulta no Hospital Universitário, de Canoas, que é referência na área. Rochelle foi avaliada e iniciaria uma bateria de exames para realizar o procedimento cirúrgico. Porém, conforme ela, desde então ninguém mais entrou em contato. “Estou desiludida, cansada. E quando todas as portas se fecham, você fica com as mãos amarradas e desiste”, desabafou.
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Com dificuldades para se locomover e realizar suas atividades diárias, Rochelle se entristece ao contar que não consegue ficar mais de cinco minutos em pé. “Para lavar a louça, eu tenho que colocar uma cadeira e sentar. Varrer a casa, eu não consigo.” Com dores por todo o corpo, ela ultimamente tem conseguido fazer apenas as unhas das mãos das clientes que vão até o seu salão, anexo à residência.
No documento da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul, solicitado pelo médico da Estratégia Saúde da Família (ESF) Bom Jesus e encaminhado à Central de Marcação do município em 2008, consta: “paciente pesando 160 kg, IMG 47 – Obesidade grau 3, em tratamento para hipotireoidismo. Solicito encaminhamento cirurgia bariátrica”. Dois anos depois, após procurar o local por diversas vezes, ela descobriu que não havia mais nenhum pedido em seu nome. “Eles perderam minha solicitação. Voltei ao posto de saúde novamente e peguei uma nova requisição”, afirmou.
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Coordenadoria diz que paciente não foi encontrada
A coordenadora da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Mariluce Reis – que tomou conhecimento da situação nesta semana por meio da Gazeta do Sul –, afirmou que uma falha na comunicação entre a paciente e o hospital impediu que o procedimento tivesse andamento.
“Ela não deixou nenhum contato na recepção do hospital, na ficha cadastral. Já deveria ter retornado com exames laboratoriais e consulta com outros especialistas. Mas não conseguiram marcar. A responsabilidade de ir atrás, de atualizar o cadastro é do paciente”, declarou. Uma consulta com uma nutricionista foi agendada para o próximo dia 19, quando se completará um ano desde que ela deveria ter iniciado o tratamento.
Segundo Mariluce, a 13ª CRS assumiu a regularização das cirurgias bariátricas somente em 2018. “Antes o fluxo era feito direto entre o Município e a Prefeitura de Porto Alegre, para onde os pacientes eram encaminhados”, explicou. Sobre a perda de requisição da paciente, ela definiu como um problema administrativo da Prefeitura. “Foi feita uma mudança no sistema, e a pessoa responsável por fazer a atualização não a fez. Foi um problema administrativo na época.”
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Atualmente, a 13ª CRS tem uma lista de espera de 34 pessoas para a cirurgia bariátrica. Por mês, oito pacientes são encaminhados para a primeira consulta e avaliação.
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Episódio com final feliz
A cirurgia bariátrica mudou não só a aparência, mas a autoestima e qualidade de vida da professora Camila Cheuiche de Souza, de 44 anos. Em 2012, ela pesava 115 quilos e tinha diversos problemas de saúde, como hipotireoidismo, pressão alta, pré-diabetes, complicações nos ovários e no pâncreas. Então, foi atrás do procedimento cirúrgico. Atualmente, ela pesa 59 quilos.
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Antes da cirurgia, passou por situações constrangedoras que mexeram com sua autoestima. “Eu entrava em uma loja de roupas e a vendedora já dizia que, para mim, não havia numeração, somente em loja especializada. Então, não é você que escolhe a roupa, é a roupa que te escolhe. É o que te serve! E isso é muito triste”, comentou.
A obesidade surgiu aos 18 anos. “Nenhuma dieta ou medicação resolvia meu problema, apenas a cirurgia bariátrica. Hoje, tenho uma vida normal e autoestima suficiente para escolher minhas roupas, meu estilo.” A cirurgia ocorreu por meio do convênio com o IPE. “Eu paguei apenas alguns medicamentos necessários, algo que hoje estaria em torno de R$ 1 mil. O convênio cobriu o restante, e a reparadora feita no ano passado foi paga completamente pelo IPE.”
Hipotireoidismo
Aos 8 anos, Rochelle foi diagnosticada com hipotireoidismo e desde então faz tratamento para controlar a doença. Aos 17 anos, ela engravidou do primeiro filho. Tinha 60 quilos e foi para 100 quilos com a gestação. Dois anos depois, na segunda gestação, engordou outros 9 quilos. No entanto, com o nascimento do terceiro filho em 2006, ela acumulou mais 32. “Nunca mais consegui voltar ao peso que eu tinha antes.”
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