Muitos brasileiros, eventualmente até ocupando cargos importantes na condução do país, desdenham ou exageram o que está acontecendo, em nosso país e no mundo inteiro. Mas, independentemente de avaliações, a pandemia do novo coronavírus representa uma circunstância completamente sem precedentes, tão nova quanto transformadora. Nenhum evento na história recente nos afetou tão profunda e amplamente. A pandemia da Covid-19 não apenas nos lembra da nossa fragilidade física, mas também prejudica a segurança econômica, lança rotinas diárias de pernas para o ar, destrói planos e nos isola de amigos e vizinhos.
Em meio a um processo de mudanças no mundo, impostas pela epidemia do novo coronavírus, tem sido cada vez mais questionado o que efetivamente ficará de transformação no dia a dia, quando “isso” passar. Tem quem acha que tudo vai mudar para muito pior, e será rápido e intenso.
Quando ocorrem mudanças bruscas, a primeira reação é a negação da nova realidade. Muitas pessoas ainda não se deram conta disso. Na sequência se instala o medo em diferentes graus. Depois prevalece uma pressão poderosa de busca de uma solução para os novos conflitos. As pessoas tendem a se unir em busca de uma redução de danos.
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Uma das mudanças é a maior adoção do trabalho remoto pelas empresas. Empresas que apenas pensavam em adotar o home office, pressionadas pela imposição do isolamento social, acabaram em aderir a essa forma de trabalho e, em muitos casos, de forma definitiva.
No aspecto pessoal, com comércio, lojas e escolas, principalmente, fechadas por determinação de gestores públicos para retardar a proliferação em escala geométrica do coronavírus, as pessoas têm aproveitado o tempo de isolamento para também repensar sua maneira de consumir. No início deste mês, pesquisa realizada pelo InfoMoney, com 3 mil pessoas do LinkedIn, constatou essa tendência com a maioria – 86% – que respondeu à enquete. Uma participante comentou que não cortará certos hábitos, mas a quarentena a fez pensar na frequência desses e o quanto isso pesa no bolso.
Muitas pessoas aprenderam com o distanciamento social que é possível fazer quase tudo pela internet. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou um aumento das compras online: 61% dos consumidores que já faziam compras nesta modalidade, aumentaram o volume devido ao isolamento social.
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Ocorre, entretanto, que na mesma pesquisa citada anteriormente, cerca de 70% dos consumidores perceberam prazos de entrega quase aleatórios. Existem casos, por exemplo, em que a pessoa precisa ficar em casa o dia inteiro para receber alguma encomenda, sem hora marcada. Enquanto a compra e o pagamento são realizados em websites cada vez mais amigáveis e rápidos, a entrega da encomenda não evoluiu. Mas o consumidor de hoje não quer mais que sua encomenda lhe seja entregue “assim que for possível”. Quer recebê-la na hora que lhe for mais conveniente, determinando inclusive as janelas de horário para isso.
Há uma esperança de que a atual situação fará muitas pessoas pensarem mais nos seus hábitos de consumo e em como sua relação com o dinheiro estava errada e, em alguns casos, complicada ou até desastrada. Era um processo desenfreado, tentando suprir carências que não sabíamos de onde vinham e, em decorrência, criava um desequilíbrio emocional que afetava tudo e todos.
De repente, um vírus obriga a todos voltarem para si e para a família. O cenário atual nos faz repensar nossas necessidades e prioridades pois toda realidade será transformada após este período de restrição e conscientização. Consumir por consumir saiu de moda. Esse é um desafio para as empresas: a necessidade de revisar as prioridades do negócio. Numa organização, o que antes gerava resultados financeiros, persuadindo, incentivando o consumo, aumentando a produção e as vendas desenfreadas, talvez não funcionará mais.
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Com o gradual fim do isolamento social, muitas pessoas vão manter hábitos assumidos durante a quarentena, como 1) cuidar mais de si mesmas (higiene, saúde e busca de conhecimento, inclusive de educação financeira); 2) evitar aglomerações, preferindo o pequeno e tradicional comércio; 3) um novo olhar sobre as mídias, principalmente a televisão e o rádio que, após poucas semanas de quarentena tiveram um crescimento acentuado de audiência que se mantem em índices acima dos anteriores à pandemia.
Hoje, faz-se necessário repensar no valor concedido às pessoas, no impacto ambiental, na geração de um pacto positivo na sociedade ou no engajamento com uma causa. É necessário também olhar definitivamente com confiança para os colaboradores já que o home office deixou de ser uma alternativa para ser uma necessidade. Importante repensar a sociedade do consumo e refletir o que é realmente essencial e ter isto como projeto de vida. Gostemos ou não, a imensa crise que estamos enfrentando faz aparecer o melhor de nós, mas também o nosso pior.
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