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Movimento escoteiro: sempre alerta há 83 anos em Santa Cruz

Cumprindo uma tradição centenária, no dia 10 de dezembro deste ano o rei da Noruega irá anunciar quem será a personalidade ou organização que receberá o Prêmio Nobel da Paz de 2021. A condecoração, instituída pelo industrial sueco Alfred Nobel em 1901, tem por objetivo destacar quem fez o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, a favor da redução nos conflitos e na promoção da paz.

Um movimento presente há 83 anos em Santa Cruz do Sul foi indicado a essa premiação: o escotismo, que é mundial, mas só na região reúne 1.021 pessoas, entre jovens e adultos, em 11 municípios. A educação para a vida, os valores, a fé e a cidadania que pautam as lições do escotismo são narradas por famílias inteiras envolvidas neste movimento, que tem como lema o famoso “sempre alerta”.

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Quando os filhos inspiram os pais

A família de Marcos André e Liane Cristina Werlang, moradores de Linha Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul, é toda comprometida com o movimento escoteiro há quase uma década. A primogênita Bruna Luiza, de 20 anos, foi a primeira a ingressar na atividade. Integrante do Grupo Maclaren, ela levou a irmã mais nova, Ana Júlia, de 17 anos, e as duas fizeram com que pai e mãe se tornassem meio escoteiros também. Meio escoteiros sim, pois adultos não são escoteiros. Miram no exemplo das crianças e adolescentes e atuam como coordenadores, chefes líderes que cuidam da parte administrativa.

“Eu entrei junto com uma prima, pois eu tinha muita curiosidade a respeito do que acontecia nos eventos e acampamentos”, conta Bruna. Logo depois a irmã mais nova ingressou como lobinha – categoria criada para receber crianças na faixa dos 6 anos de idade. As duas têm uniformes cheios de condecorações, que enchem de orgulho o pai, que é do Exército. “No caso delas, as promoções são muito mais difíceis que o próprio Exército”, brinca o pai, orgulhoso das filhas.

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A mãe da dupla, Liane Cristina, diz que as filhas são outras depois do escotismo. “Percebemos uma maturidade nelas, ao mesmo tempo em que vemos a felicidade com que atuam junto ao movimento. Este é o sonho de todo pai e de toda mãe”, revela. Ana Júlia conta sobre o desafio de superar medos e vencer a dificuldade, o frio e até a falta de recursos. “As tarefas envolvem muito esforço e persistência. É diferente do que todo mundo pensa, que escoteiro só aprende a fazer fogueira e acampamento”, resume.

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Bruna e Ana Júlia motivaram os pais no escotismo | Foto: Lula Helfer

Na busca por um mundo melhor

Em Santa Cruz do Sul existem três grupos escoteiros. O mais antigo em atividade é o Grupo Escoteiro Santa Cruz (Gesc), na atual formação desde 1986. Entre os 108 integrantes, uma em especial chama a atenção. A contabilista Carmen Jurema Koehler, de 64 anos, é escoteira há 33 anos.

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“Sempre alerta”, como é o lema dos jovens que entram no movimento, ela fala da satisfação de fazer parte da atividade. “Todo escoteiro sonha com um mundo melhor. Todo o nosso trabalho é fazer com que o jovem tenha uma consciência de fazer a diferença”, diz Carmen.

Fazer a diferença também significa comprometerse. Em um ano de atividades em grupo suspensas por conta da pandemia, escoteiros aliaram-se às forças da sociedade civil organizada e ao próprio Poder Público municipal, levando alimentos e doações para as vítimas indiretas da pandemia.

No caso do Grupo Escoteiro Santa Cruz, o Grupo do Bem, conhecido pela sopa, pães e doações diversas aos necessitados, recebeu o apoio da equipe. “O ano que passou foi desafiador, mas conseguimos manter o foco destes jovens no objetivo maior que era seguir com esta missão”, complementa a escoteira que atua na organização do seu grupo. Os escoteiros dividem-se em quatro classificações, de acordo com a idade dos seus membros. A primeira faixa vai dos 6 aos 10 anos, e são os lobinhos.

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Os escoteiros têm idade entre 10 e 15 anos. Dos 15 aos 18, são os membros seniores e dos 18 aos 21, os pioneiros. Passando dessa idade, são os adultos, que dão apoio e ajudam a aplicar a didática desenvolvida pelo fundador mundial do movimento, o inglês Robert Baden-Powell.

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Carmen: escoteira desde 1988

A prática para a vida

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O vice-diretor do Colégio Marista São Luís, Anderson Roberto dos Santos, é o presidente do Grupo Escoteiro Marista São Luís. Em atividade novamente há três anos, o grupo conta com 31 jovens e 12 adultos na coordenação. “Existe uma transformação do aluno que participa desta atividade. Os ensinamentos do escotismo fecham com os valores Maristas; por isso, tudo que eles aprendem na prática está relacionado com a educação desenvolvida pelo colégio”, explica o vice-diretor.

O Colégio São Luís já teve grupos escoteiros nas décadas de 1960 e 1970. A reedição da atividade vem com a proposta de inserir a prática da educação na vida do estudante.

Desde 1938

Registros históricos mostram que desde 1938 as lições de sobrevivência e humanismo já estavam por aqui.

O coordenador do 19º Distrito Regional de Escoteiros, Xavier Aloísio Scherer, é o responsável por 46 municípios na região dos Vales – Rio Pardo, Taquari, Jacuí-Centro e Centro-Serra, onde existem atualmente 14 grupos, em 11 municípios. “São 1.021 envolvidos diretamente. Desses, 727 jovens e 294 voluntários. O nosso distrito é um dos mais ativos no Rio Grande do Sul”, informa o coordenador.

Prestes a retomar os treinamentos e atividades presenciais, interrompidas por conta da pandemia, Scherer recorda-se do último encontro regional, ocorrido em Passa Sete, na Região Centro-Serra. Foi em 2019, com a participação de 700 jovens. “O Movimento Escoteiro do Brasil desenvolveu protocolos de segurança, que, assim que aprovados, permitirão a retomada das atividades presenciais”, informa. Segundo o coordenador, no Rio Grande do Sul existem 14 mil voluntários envolvidos com o escotismo, que no Brasil tem 110 mil participantes.

O próximo, a fé e a pátria

Criado a partir das técnicas militares de camaradagem, autodisciplina e coragem, o escotismo entra na formação de cidadãos com essas características.

A diretora de Métodos Educacionais do Grupo Escoteiro Maclaren, Gislene Oliveira dos Santos, a Gisa, conta que o grupo existe desde 2008 e hoje é o segundo há mais tempo em atividade em Santa Cruz do Sul. São 90 membros que, sob a supervisão pedagógica dela, aprendem as lições presentes no tripé compromisso com o próximo, com a fé e com a pátria, ou seja, com a coletividade. “Por isso os escoteiros se envolvem tanto com a comunidade. Servir ao próximo e realizar tarefas pelos outros é uma das atribuições”, conta.

Por ser a diretora de Métodos Educacionais, Gisa atua diretamente com os adultos envolvidos na formação dos escoteiros. De acordo com ela, neste último ano de pandemia, os aprendizados de amor e compartilhamento com o próximo estiveram em alta, sempre.

E seguem em 2021. O trabalho de auxílio após a enxurrada de 28 de janeiro, que atingiu mais de 500 famílias em Santa Cruz do Sul, contou com apoio do escotismo. Mobilizados, eles arrecadaram doações de roupas, móveis e alimentos para quem ficou sem depois do temporal. “Ser escoteiro é estar sempre alerta para também ajudar o próximo”, comenta.

Já as questões ligadas à espiritualidade também têm terreno fértil no escotismo. Base do juramento e do próprio cumprimento dos escoteiros, acreditar em Deus – independente da religião – está dentro do que fazer em benefício de um mundo mais humano e melhor. “Não é religião, é religiosidade, e cada um tem a sua. Dentro do escotismo ela sempre está presente.”

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O Nobel

A distinção internacional é dada a organizações ou pessoas que se destacam na promoção do bem-estar coletivo. A Organização Mundial do Movimento Escoteiro (WOSM) e a Associação Mundial de Bandeirantes (WAGGGS) foram indicadas para o Prêmio Nobel da Paz de 2021. A escolha ocorrerá durante o ano, sendo anunciada em 10 de dezembro, data de aniversário do fundador do prêmio, Alfred Nobel.

O escotismo concorre com um brasileiro. O ex-ministro e ex-secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Alysson Paolinelli, foi oficializado para o Prêmio Nobel da Paz 2021. Paolinelli é considerado o “pai da agricultura moderna” e foi indicado para concorrer.

O comitê norueguês, formado por cinco membros, terá até o mês de setembro para fazer uma profunda seleção entre os candidatos e definir quem será o vencedor.

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