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Motoboys aceleram negócios durante o isolamento social

A necessidade de entregar produtos e serviços em casa ampliou os negócios para os motoboys. Também conhecidos como motofretistas, os profissionais que se aventuram sobre duas rodas estão entre os mais requisitados nos mais diferentes ramos do varejo e da prestação de serviços, como ponte entre o freguês e a empresa, por conta do isolamento social forçado pela pandemia. Na carona do novo coronavírus, motoboys têm trabalhado até 16 horas por dia, tornando-se indispensáveis à nova realidade das cidades.

Em Santa Cruz do Sul estima-se que sejam 400 motoboys em atividade. Nem todos com curso, formação e equipamento adequado. “Nem todos são ‘motoboy-raiz’, aquele que enfrenta frio e chuva sempre com o sorriso no rosto”, disse Ezequiel Loreto, motoboy-raiz – segundo ele mesmo. Aos 40 anos, o santacruzense morador do Bairro Arroio Grande se aventurou na profissão há cerca de um ano e meio, por curiosidade. Foi o famoso bico de fim de semana que aproximou-o da função, fazendo com que nascesse ali uma paixão.

Hoje ele entrega de forma fixa para oito estabelecimentos, entre lanchonetes e restaurantes. Trabalha das 8 horas até perto das 23 horas, de segunda a sábado. Em cada turno, é um tipo de entrega. Das 11 horas às 14 horas é o período de entrega de almoço. No turno da manhã e do meio ao fim da tarde, roupas e produtos comprados pela internet. À noite, refeições variadas. “Cada entrega é diferente. Não existe uma rotina. Cada vez a gente descobre uma coisa nova e entrega um produto que é muito esperado”, definiu Loreto.

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Para ele, simpatia é fundamental para driblar a dificuldade nas ruas. Trabalhar com o público tem seus segredos e exige habilidade. “A profissão de motoboy é desafiadora. A gente está exposto ao risco do vírus, ao clima, ao risco de acidente e, em casa, temos esposa e filhos esperando. Porém, é uma profissão gratificante”, resumiu o motoboy do Arroio Grande.

Paulo Sérgio dos Santos Oliveira tem 36 anos, mora no Bairro Dona Carlota e há cinco é motoboy. Foi ele quem incentivou Loreto a começar na atividade. Oliveira coordena um pequeno grupo de motofretistas, chamado de Papa-Léguas, personagem que fugia do Coiote nos desenhos animados que estrearam em 1949. “A gente precisa fazer o serviço como o cliente espera. A entrega tem que ser na hora, por isso que somos papa-léguas”, contou o motoboy.

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Oliveira começou sua carreira na motocicleta depois de conhecer bem como funcionava o ramo de entrega de alimentação. Sócio de um restaurante, era ele que fazia a telentrega do estabelecimento. “Um dia vendi minha parte na sociedade, comprei a motocicleta e comecei como motoboy”, recordou. Hoje inspira novos profissionais, destacando o capricho e o compromisso com o trabalho. “A refeição precisa chegar direitinho, pois cada cliente do restaurante é o nosso patrão.”

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Profissão de risco e de responsabilidade
Paulo Sérgio dos Santos Oliveira conta que para ser um motoboy é necessário ter habilitação na categoria A com a especificação que regulamenta a direção em função remunerada. “É preciso ter curso e usar os equipamentos de segurança. Não é simplesmente subir na moto e sair entregando”, apontou.

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A motocicleta também precisa ser preparada para atividade. Na parte dianteira deve ser instalado o “mata-cachorro”, antena corta cerol e placa vermelha – que indica o uso para fim de transporte comercial. “A motocicleta passa também por vistoria. Todos estes itens precisam estar de acordo com a legislação”, assinalou Oliveira. Além da habilitação e curso específicos, o condutor precisa usar colete com faixas refletivas – e, claro, o capacete.

Com o aumento de demanda no período da pandemia, os profissionais chegam a fazer de 30 a 40 entregas por dia. A parada para o intervalo entre jornadas é, geralmente, entre 16 horas e 17 horas, período em que os trabalhadores almoçam e jantam, tudo na mesma refeição. “Ser motoboy exige disposição. É um serviço de risco, a gente precisa estar ligado o tempo todo”, contou Oliveira.

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O custo de uma telentrega varia de acordo com a distância a ser percorrida. Nas ruas do quadrante central de Santa Cruz do Sul, o preço médio é de R$ 7,00. Já na divisa de Linha Santa Cruz com Linha Nova, no interior (o destino mais longo para entregas de motoboy no município), o custo do frete alcança R$ 15,00.

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Ainda no mês março, a Secretaria Municipal de Saúde promoveu um encontro de capacitação com motoboys, para orientar quanto às normas de segurança e higiene para conter a contaminação pela Covid-19. Além de cuidados pessoais, como o uso de máscaras e álcool em gel, os motoboys foram orientados a higienizar máquinas de cartão de crédito e demais utensílios de trabalho.

Oliveira: “Não é apenas subir na moto”

Pandemia cria nova relação de consumo
Figura reconhecida de pizzarias, restaurantes e lanchonetes, o motoboy tornou-se peça-chave nos negócios de alimentação durante o período mais crítico do isolamento social, entre os meses de março e abril. Conforme o empresário Rene Schroeder, que há 25 anos atua no ramo de lanchonete, antes da pandemia o serviço de telentrega representava cerca de 30% do faturamento do negócio. “Enquanto era proibido ter clientes no salão, as entregas chegaram a responder por 100% da movimentação do nosso estabelecimento”, avaliou.

Quem também incorporou a figura do motoboy ao quadro de prestadores de serviço é o segmento do comércio. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Cruz do Sul, Márcio Martins, há algum tempo o uso de telentrega faz parte do varejo. “Porém, eles se popularizaram, realmente, agora no período da pandemia. E não só com o motoboy. Temos também pessoas fazendo entregas de bicicleta.”

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Martins informou que antes da pandemia o consumidor tinha receio de comprar em loja física por meio de telefone ou aplicativos – o chamado “comprar sem ver”. “Estes tiveram que se adaptar a essa realidade, popularizando assim as compras por telefone e as entregas via motoboy. Certamente aquelas empresas que ainda não têm um serviço de entrega em domicílio ficarão para trás agora, mesmo no pós-pandemia, pois a realidade do varejo é outra”, alertou o presidente da CDL.

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