As abelhas têm papel fundamental para o equilíbrio e manutenção dos ecossistemas. Além de produzirem o mel, são responsáveis pela polinização, contribuindo com a preservação de matas e o cultivo de produções agrícolas. Podem ser pequenas no tamanho, mas com grande relevância ambiental e econômica, pela geração de renda para muitas famílias.
Na tarde de terça-feira, 21, a equipe da Gazeta da Serra deslocou-se até duas propriedades rurais de Sobradinho que registraram mortandade de abelhas. Ambas ficam na localidade de Granja do Silêncio, próximo a ERS-400, um dos principais acessos ao município. O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Adriano Dreher, e o diretor de Meio Ambiente do município, Marcos Trindade, foram à residência do produtor Eli Pavanatto, 60 anos, que possui uma agroindústria familiar e cria abelhas há duas décadas. Ambos verificaram o ocorrido e realizaram a coleta de amostras dos insetos mortos, para posterior identificação do motivo da mortandade. “Sempre ocorre a mortandade de algumas abelhas, mas nesta quantidade é a primeira vez na região”, destacou Trindade.
Pavanatto deixou transparecer um sentimento de tristeza ao calcular a perda de ao menos 35 das suas 40 caixas de abelhas. “Fomos fazer a revisão e a limpeza para começar agora a florada. Foi então que eu vi, na sexta-feira, que ao invés de trabalhando, estavam todas mortas”, lamentou. “É uma tristeza para a gente. Eu nunca tinha visto, morrer tantas e dentro ou ao redor da caixa. Formou um tapete.”
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Pavanatto lida com a criação de abelhas há 21 anos, quando iniciou a Casa do Mel na Granja do Silêncio. “É uma fonte de renda que eu tinha”, acrescentou ele, que acredita que levará no mínimo três anos para retomar a produção das 40 caixas e uma média de 1,6 mil quilos por ano. Seu plano é descartar o mel e higienizar as caixas para poder retornar o trabalho, uma vez que não sabe ao certo o motivo da mortandade.
Já na propriedade de Valentin Redin, 73 anos, quem alertou sobre o problema foi o vizinho da localidade. “O (Eli) Pavanatto veio me dizer: ‘vamos ver tuas abelhas’. Olhamos e estavam quase todas mortas, muitas na frente das caixas e outras dentro. É a primeira vez que vi assim, na frente das caixas. E tem mel, o que significa que não estão morrendo de fome”, relatou o agricultor, que cria abelhas há cerca de três décadas junto com a esposa Terezinha, de 70 anos.
Das 80 caixas que diz ter na propriedade em Granja do Silêncio, acredita que em torno de 50 sofreram com a morte das abelhas. “A produção ajuda na renda porque nós plantávamos fumo e agora estamos cultivando pouco”, acrescentou Redin, que colhia, em média, entre mil e 1,5 mil quilos de mel por ano. “É uma tristeza de ver. Tem que limpar tudo e colocar cera nova. É uma coisa que não podia acontecer com o pessoal que cria abelhas, porque dá serviço”, destacou o produtor.
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Segundo a esposa Terezinha, que também ficou abalada com o que viu, a atividade se tornou um passatempo após a aposentadoria dos dois. É algo que amam fazer e no qual se dedicam muito, pois representa um importante incremento na renda.
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Em entrevista na quarta-feira ao programa Giro Regional da Rádio Gazeta FM 98,1, o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Adriano Dreher, relatou que foi procurado por Eli Pavanatto na última sexta-feira. Na propriedade, o que chamou a atenção foi o número de abelhas mortas. “Como profissionais da área técnica, temos qualificação para identificar o manejo destas abelhas. Ali se observou que eram enxames fortes e sadios”, destacou.
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Segundo Dreher, vários produtores procuraram a secretaria, especialmente das localidades de Granja do Silêncio e Linha Quinca. “O que fizemos, no primeiro momento, foi procurar a Inspetoria Veterinária do município, que é o órgão adequado em uma situação dessas. Entramos em contato com o Estado para comunicar o ocorrido e fizemos as visitas in loco”, salientou o secretário. Ele visitou três propriedades com maiores apiários na última terça-feira. “Observamos que são cerca de 200 colmeias mortas. Se pegarmos uma média, por baixo, de 30 mil abelhas por colmeia, temos aí uma perda de 6 milhões de abelhas. Dá para ter uma ideia do impacto que isso vai causar na natureza, tanto na produção de mel quanto na polinização das culturas de verão”, acrescentou.
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O diretor de Meio Ambiente, Marcos Trindade, informou que está sendo elaborado um relatório para envio à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Lá deve ser feita a análise da amostragem dos insetos, buscando identificar se as mortes são por causa natural ou por contaminação de agrotóxicos. “Isso vai demorar em torno de 20 dias. Vamos nos embasar bem para identificar realmente o causador”, destacou. Já o secretário Adriano Dreher pontuou que vão ver com o laboratório se, mesmo após alguns dias, ainda é possível analisar o material.
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Como recomendações para os apicultores, o secretário sugeriu vistoria de rotina na saída do inverno, para ver como estão os enxames, e limpeza das caixas. Também pediu que sejam informadas eventuais novas mortandades, para mapeamento dos pontos de enxames com problemas.
De acordo com o técnico agrícola da Inspetoria Veterinária de Sobradinho, Cleiton Raddatz, um dos produtores os procurou na terça-feira para relatar a mortandade de abelhas em sua propriedade em Granja do Silêncio e ver o que poderia ser feito, mencionando ainda os outros dois casos conhecidos. Também receberam ligação do secretário municipal. Segundo Raddatz, a Inspetoria do município está ligada à Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal (DPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) do Estado, e realizam também encaminhamentos de demandas ligadas ao Departamento de Produção Vegetal (DPV), para quem contatou assim que registrou o caso deste produtor. O técnico mencionou que estão recebendo orientações de como proceder, seguindo alguns passos formais para um caso como o ocorrido e devem ter mais informações nos próximos dias.
De acordo com Raddatz, o que lhe foi passado é que, por não haver no momento convênio do Estado com laboratório credenciado para análise, o material deve ser coletado por profissional da Inspetoria e armazenado em refrigeração até que se tenha laboratório credenciado, aguardando novas orientações do Estado. Segundo o técnico, a orientação também é de que o produtor pode realizar o encaminhamento para laboratório de forma particular, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), através do Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (Larp). Somente após análise poderá ser atestada a causa da morte das abelhas.
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Conforme o técnico da Inspetoria Veterinária de Sobradinho, Cleiton Raddatz, foi realizada nesta quinta-feira à tarde, 23, pelos técnicos e veterinária da Inspetoria, coleta oficial de amostras de abelhas mortas em duas propriedades que fizeram registro junto à Inspetoria, uma em Granja do Silêncio e outra em Linha Quinca. O material já se encontra em refrigeração. Aguardam laboratório credenciado para fazer encaminhamento do material para análise. Ainda segundo Raddatz, também já foi feita notificação no sistema do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
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