Depois de ler Balduino Rambo formei uma opinião. Incompleta. Sequenciar os acontecimentos, enumerar títulos e concretizações, ajuda, mas não revela o todo. Rambo via primeiro o conjunto para depois chegar ao detalhe. Por ser botânico identificou, nos mais de 80 mil exemplares por ele estudados, cada aspecto em particular, sem antes se extasiar com o “traje” da planta em análise. Interessava a árvore na floresta, a gramínea no campestre, o cactus no paredão, o aguapé no banhado. Amava as araucárias, ainda conheceu os pinhais. O formato da copa em cálice que se oferta, o tronco robusto e ereto. Cascudo como ele próprio. Aguentava quase tudo, até incompreensões.
Por ser o primeiro entre onze e, talvez, pelo intervalo de tempo de quatro anos entre o nascimento dele e do irmão, percebia-se solitário e amante do silêncio. Desde bem cedo se deixou atrair pela floresta. Ali se encontrava como menino que um dia seria jesuíta, líder social, orador, professor, escritor e cientista. O tanto que se faz facilmente nos induz a fixarmos nas realizações. Havia que se buscar o olhar primeiro de Balduino.
Para ver o que ele viu subimos o Morro da Manteiga, berço de Rambo. Territorializado em Tupandi, a elevação se faz evidente. Sua casa natal ficava bem no alto. Morada simples, atualmente deslocada para um terreno logo adiante, pois fora reconstruída por um familiar. No lugar do chalé original, ergue-se vistosa casa de alvenaria de uma sobrinha neta do Balduino. Todavia, a vista permanece. Tal qual um mirante que permite distâncias azuladas pelo verde que se entremeia a lavouras e edificações. Enquanto a Vera fotografava, a outrora floresta nativa foi tomando vulto. Ipês, canjeranas e imbuias entrelaçaram cipós. Pássaros nidificaram ocos e pica-paus batucaram tambores ancestrais. O sol deu lugar à neblina, ofuscando a realidade com paisagens imaginadas. Rambo dera particular atenção à bruma, à cerração e à chuva que se esgueira de mansinho, sem alarde.
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Balduino apurava a visão através da névoa, um dos termos preferidos dele. Se esplendorosos os pinheiros sob o azul profundo, encantados se mostravam ao tamborilar das gotas. Ainda sobrevivem algumas araucárias no morro da Manteiga. Uma bem próxima da já deslocada casa materna de Rambo.
Ao conhecer o morro da Manteiga, podemos ter uma ideia do olhar holístico daquele naturalista que descreveu o Rio Grande do Sul como poucos o fizeram. A partir da elevação natal, podemos compreender melhor a obra A Fisionomia do Rio Grande do Sul, publicada em 1942 e reeditada em 2005. Obra que se atualiza na frase consagrada: “As gerações do futuro nos hão de agradecer a piedade e reverência com que conservamos as mais grandiosas paisagens da nossa terra”.
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