Morre o Zé da Banca, aos 71 anos

Faleceu nesta segunda-feira, por volta das 19 horas, um dos mais populares personagens da vida cultural e da cena social de Santa Cruz do Sul, que marcou pelo estilo jovial, atencioso e descontraído ao longo de décadas: o incomparável Zé da Banca. Como a alcunha já deixava claro: era um dos atendentes da histórica A Banca, fundada e estabelecida na Rua Marechal Floriano, no centro da cidade, há mais de 60 anos por Albino Osvaldo Jordan, e hoje conduzida pelos filhos Raul e Renê. Junto destes dois proprietários, diariamente o Zé, diminutivo de José Manoel de Menezes, recepcionava os clientes. Sempre na beca, em roupa social, de gravata e paletó, traje inconfundível.

O Zé da Banca teve um mal súbito no banheiro coletivo da pensão na qual residia, na Rua Assis Brasil, no início da noite desta segunda-feira. Estava com 71 anos, aposentado, e nas últimas semanas vinha apresentando quadro de saúde mais debilitado, com muita fraqueza, embora sem especificar que estivesse com problema pontual. Entre os amigos mais próximos e queridos, o jornalista, comunicador e colunista social Luiz Henrique Kuhn, o Ike, foi um dos primeiros a chegar ao local, bem como o médico Mauro José Thies. “Foi-se o nosso querido Zé”, lamentou Ike, que com ele conversava quase diariamente há anos e anos.

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Outros conhecidos, que moram nas proximidades da Assis Brasil, igualmente foram informados, e compareceram à pensão. Um dos sobrinhos de Zé, residente em Santa Cruz, foi comunicado, e havia a informação de que um dos irmãos dele reside em Porto Alegre. Ainda não se sabe a causa da morte; uma equipe do Samu foi chamada e os paramédicos constataram o óbito; posteriormente, por volta das 20 horas, a partir da chegada de uma guarnição da Brigada Militar, e do comunicado à Polícia Civil, o corpo foi liberado, mas, por enquanto, não foram divulgadas informações sobre atos fúnebres ou sepultamento.

Junto ao estabelecimento A Banca, de comercialização de jornais, revistas e itens de tabacaria, Zé trabalhou por bem mais de duas décadas. Natural de Entre Rios, em Vera Cruz, radicou-se em Santa Cruz ainda menino, ao lado dos pais e de quatro irmãos (três rapazes e uma menina), e durante a adolescência auxiliava em tarefas diversas para as quais era contratado em toda a área central. Foi assim que em 1969 colaborou para a divulgação de um antológico show: o de ninguém menos do que um jovem Roberto Carlos, acompanhado de Erasmo e de Wanderléa, na Sociedade Ginástica. Ainda que não tivesse conseguido ingresso, Zé e alguns amigos deram um jeito de assistir à apresentação do Rei por uma janela, como contou à Gazeta do Sul em julho de 2021, relembrando daquela peripécia.

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Além de atender aos clientes em A Banca, Zé aventurava-se também na música, como cantor, tendo gravado diversos discos, com a ajuda e o incentivo de amigos e entusiastas. Entre as canções, claro, Roberto Carlos! Do mesmo modo, na década de 1970 lançou um livro de poemas, crônicas e pensamentos, Os Caminhos do Vento. E com frequência participava do programa Revista da Noite, apresentado por Ike, na Rádio Gazeta FM 107,9, entre as 22 horas e a meia-noite, e ali soltava a voz na interpretação de algumas das músicas preferidas. Também ocupava parte dos dias com a comercialização de bilhetes de títulos de capitalização, pelo centro. Sobre idade, costumava sair com uma tirada espirituosa: “Quando me perguntam, digo que tenho 41”, dizia, rindo.

Em 2018, ele fora um dos personagens da série O Lado Pessoal, então conduzida pelo jornalista Mauro Ulrich para a Gazeta do Sul, e na edição de final de semana de 24 e 25 de fevereiro contou um pouco da saga pessoal e familiar, sob o título “Zé Manoel, o Zé da Banca”. Que agora atenderá a leitores e amantes da melhor cultura no céu, certamente sem jamais abrir mão da melhor beca.

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