Brigitte já apareceu na televisão. Não por ser uma estrela do cinema, como o nome sugere, mas pela sua façanha. Em 2005, a labradora de pelos cor de café foi responsável pela prisão em flagrante de três pessoas que não se conheciam e, por acaso, estavam no mesmo ônibus. Uma com 10 kg de maconha, a outra com 6 kg de pasta base de cocaína e a última com cerca de 150 frascos de lança-perfume. Antes de se aposentar, Brigitte foi policial: o primeiro animal do canil da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de São Paulo.
Aos 14 anos, Brigitte morreu nesta segunda-feira, 23, por causa de um tumor. “Ela era muito focada, parecia que tinha um radar: levantava a fuça e varria o ar inteiro. Encontrava droga com muita facilidade”, conta o policial rodoviário Walter Júnior, de 52 anos, do Grupo de Operações com Cães (GOC) e um dos idealizadores do canil da PRF. Júnior calcula que, durante a carreira na polícia, Brigitte tenha sido responsável por mais de 60 flagrantes e apreensão de mais de uma tonelada de droga.
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Foto: Polícia Rodoviária Federal de São Paulo/Divulgação
Quando os dois se conheceram, em 2002, a labradora tinha apenas três meses. Júnior foi buscá-la em um quartel do Exército em Osasco, na Grande São Paulo, que havia aceitado doar um dos filhotes para a PRF. Foi lá que Brigitte nasceu. “Estava ela e uma irmã. Escolhi a primeira que veio para cima de mim, para brincar”, diz o policial. Os meses seguintes seriam destinados a torná-la uma especialista em descobrir entorpecentes escondidos e à construção do canil, inaugurado no mesmo ano.
Fora do trabalho, Brigitte é lembrada por ser muito dócil. Como gostava de criança, era sempre escolhida para participar de palestras promovidas pela PRF em escolas. “Ela chamava muita atenção pela beleza. Nunca houve nenhum incidente”, afirma Júnior.
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Das memórias com a labradora, o policial guarda o dia em que foi se despedir dos colegas em 2008, após saber que seria transferido para uma unidade em Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu nem queria falar com Brigitte, mas ela ficou me olhando, como se soubesse. Na hora de ir embora, dei um abraço nela e comecei a chorar.”
Em 2010, foi a vez de a cadela deixar a PRF, depois de cumprir oito anos de serviços prestados e se aposentar. De volta a São Paulo, Júnior não pôde adotá-la porque Brigitte era grande demais para o apartamento onde mora, em Santos, no litoral sul paulista.
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Foto: Polícia Rodoviária Federal de São Paulo/Divulgação
Aposentadoria
Policial rodoviária, Michele Dondoni, de 41 anos, não conhecia Brigitte na época. Em janeiro de 2011, um e-mail corporativo informou que havia três animais do canil da PRF disponível para adoção. “Minha filha tinha 4 anos e Brigitte gostava de criança. Eu pensei: por que não?”
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Michele conta que se encantou pela labradora quando a viu pela primeira vez. “Foi impressionante, ela era extremamente dócil. Bastava olhar, que se jogava no chão, com a barriga para cima, pedindo carinho”, diz a policial. A cadela era levada semanalmente ao pet shop para tomar banho e ganhar um lacinho na cabeça. “Eu não conheci a Brigitte policial. Para a família, Brigitte sempre foi o animal de estimação, o xodó.”
Brigitte pareceu levar a aposentadoria a sério. Um dia, Michele chegou em casa e percebeu que o portão havia sido arrombado por criminosos. Entrou na sala preocupada, mas só encontrou a labradora deitada no chão. Os ladrões haviam fugido. “Só faltou ela apontar o caminho para eles entrarem”, conta, rindo. Companheiros de PRF, Júnior sempre perguntava a Michele sobre a cadela. “Eu aproveitava para mostrar as fotos mais recentes”, diz a policial.
“Mas a idade chega para todos… Brigitte sempre foi muito gorda, mas começou a emagrecer”, afirma, emocionada. “Ela era velhinha e não podia fazer cirurgia para tirar o tumor. O veterinário disse que não havia o que fazer. Chegou a um ponto que não dava mais… A gente não ia deixar sofrer, e ela foi para o céu dos cachorros”, diz Michele. Para ela, Brigitte é uma estrela.
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