O Rio Grande do Sul foi surpreendido, na manhã do penúltimo dia de 2021, este ano marcado por tantas perdas, com a notícia da morte da escritora santa-cruzense Lya Luft, aos 83 anos. As informações sobre os atos fúnebres deverão ser divulgadas na parte da tarde pelos familiares.
Em convalescença nos últimos meses, para tratamento em virtude de um melanoma, Lya residia em Porto Alegre, na companhia do marido Vicente de Britto Pereira, ex-diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e também escritor. Em épocas anteriores de sua trajetória, foi casada com o linguista Celso Pedro Luft (de 1963 a 1985, e depois novamente de 1992 a 1995) e com o psicólogo e escritor Hélio Pellegrino (de 1985 a 1988). Com Luft teve três filhos, Susana, Eduardo e André, sendo que André morreu em novembro de 2017, aos 51 anos, quando estava surfando em Florianópolis, o que a abalou e fragilizou profundamente.
Com sua vasta obra, formada por poesia, romances e livros de cunho memorial e filosófico sobre a condição feminina em particular e humana em geral, Lya se transformou em uma das mais importantes escritoras brasileiras contemporâneas, ao lado de Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Nélida Piñon, Ana Maria Machado e Adélia Prado, entre outras. Seus primeiros textos – poemas escritos ainda na infância – foram publicados na Gazeta do Sul.
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A trajetória de Lya sempre esteve profundamente ligada a sua terra natal, onde seu pai, Arthur Germano Fett, cumpriu importante trajetória junto ao ensino superior. A família morava em casa na esquina das ruas Marechal Floriano com a Galvão Costa, imediatamente abaixo do atual Monumento ao Imigrante, e da infância e da adolescência naquele ambiente ela fez material de ficção e de lembranças em inúmeras de suas obras.
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Na juventude mudou-se de Santa Cruz para Porto Alegre, onde cursou o ensino superior na PUCRS e também na Urfgs, nas áreas de Letras e Pedagogia, tornando-se professora da própria Ufrgs. Após publicar livros de poesia, em 1980 surpreendeu a literatura brasileira com a publicação de As parcerias, já por volta de seus 40 anos, e desde então demarcou um espaço próprio no universo das letras no País. Ao romance de estreia seguiram-se vários outros livros de ficção referenciais, como A asa esquerda do anjo, Reunião de família, O quarto fechado, Exílio e A sentinela, com os quais firmou um jeito Lya Luft de fazer literatura de alta qualidade.
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Por ocasião do lançamento de seus livros, hoje todos no catálogo da editora Record, a autora vinha regularmente a Santa Cruz do Sul para lançamentos, e sempre buscava conciliar sua agenda com convites e compromissos em sua terra natal. Ao lado da obra ficcional, em 1996 lançou o livro O rio do meio, e nele inaugura um novo estilo de se expressar, entre o depoimento, a memória, o aforismo e a reflexão ampla sobre a vida, processo que ampliaria em Secreta mirada, de 1997, Histórias do tempo, de 2000, Mar de dentro, do mesmo ano, e especialmente em Perdas e ganhos, em 2003, um dos maiores best-sellers da história da literatura nacional, que a manteve por meses no topo dos mais vendidos da revista Veja.
Aliás, mais adiante tornou-se ela própria cronista da Veja, e ainda de outros jornais. Mais recentemente, assinava coluna na edição de final de semana da Zero Hora. Seu último livro publicado é As coisas humanas, com crônicas e reflexões sobre o complexo e sempre conflituoso mundo contemporâneo.
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