Chegar aos 100 anos de idade com saúde e lucidez é algo admirável. O francês Edgar Morin completou nessa quinta-feira, 8, um século de vida, ativo e trabalhando, sempre atento ao que acontece no mundo. Sociólogo, filósofo e antropólogo, um dos mais influentes pensadores europeus, lança agora novo livro – em que faz um balanço de sua trajetória – e alerta para os problemas que a pandemia evidenciou, além da Covid-19. “Deveríamos buscar uma vacina contra a raiva especificamente humana, porque estamos em plena epidemia”, escreveu há poucos dias no Twitter, sobre a violência que parece aumentar em tempos de confinamento.
Edgar Morin nasceu contra todas as expectativas. Sua mãe, Luna Beressi, havia contraído gripe espanhola e, como sequela, desenvolveu grave doença cardíaca. A consequência é que não poderia ter filhos, pois o parto seria fatal, segundo os médicos. Quando engravidou, Luna tentou induzir um aborto, mas o feto resistiu mais do que o esperado. Morin veio ao mundo estrangulado pelo cordão umbilical, na manhã de 8 de julho de 1921. “Nasci morto e fui reanimado pelos tapas ininterruptos do ginecologista que me manteve suspenso pelos pés durante trinta minutos”, recorda no livro É hora de mudarmos de via – As lições do coronavírus, lançado em 2020.
Desde então, ele se tornou testemunha e intérprete da história – que, assim como a própria vida do filósofo, segue a trilha do imprevisível. Contra as certezas teóricas dos que julgam saber de tudo, o tempo lhe mostrou que a história é a explosão do inesperado. Acontecimentos cruciais, como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e a desintegração do comunismo em 1989, ou o ataque às torres do World Trade Center, foram surpreendentes. Para o bem ou para o mal, o novo brota sem parar. Nada é estático.
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A obra de Edgar Morin, claro, é vasta demais para ser discutida aqui. Fiquemos com esta ideia, recorrente em seus textos: o novo brota sem parar. Essa constatação faz da esperança em mudanças – dias melhores, por que não? – algo maior que um sonho tolo, mas probabilidade, aposta de que o conformismo e o medo não vencerão a partida. Aos 100 anos, Morin aposta.
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