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Moradores do Navegantes querem ir embora: “a gente não vai pensar duas vezes”

Motorista continua trabalhando na retirada da lama dos cômodos da residência

Durante uma reunião no Palacinho na última sexta-feira, 10, em que foi anunciado pela Prefeitura um grande plano de reconstrução das áreas e setores mais afetados pela enchente, a prefeita Helena Hermany mencionou a possibilidade de realocar moradores do Bairro Várzea, principalmente os situados na região conhecida como Navegantes, às margens do Rio Pardinho. “São 128 famílias naquele local. Temos um projeto habitacional com 144 casas, então, assim como fizemos na Rua das Carrocinhas, queremos alocar essas pessoas em um lugar seguro”, disse a prefeita na oportunidade.

No que depender de alguns moradores, a opção será aceita. A Gazeta do Sul foi até o local na manhã de sábado, 11, onde muitos residentes ainda estão recuperando o que sobrou de suas casas. Mesmo com a chuva caindo – o que dificultava ainda mais o trabalho –, boa parte das famílias seguia tentando retirar o barro das casas, e arrumar nos imóveis as doações recebidas depois de perder praticamente tudo.

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“Se a Prefeitura nos der essa oportunidade, de ir para outro local, a gente não vai pensar duas vezes. Em primeiro lugar vem a minha família”, disse Jéferson Corrêa Silveira, de 39 anos. Ele mora no Várzea com a esposa Mariéti, 38, e o filho Cauã, de 10.

Na parede da casa de Jéferson, ainda está a marca da altura em que a água chegou | Foto: Alencar da Rosa

Jéferson trabalha como caminhoneiro em uma empresa de material para móveis e estava na cidade de Bom Princípio quando recebeu a ligação da esposa, na madrugada do dia 30 de abril, avisando que a água estava entrando. De forma assustadora, a água atingiu 1,68 metro de altura em sua casa. A lama que ficou quando a enchente passou chegou a 25 centímetros. As medições foram feitas por ele com uma trena, nas marcas que ficaram na parede.

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Do minimercado que tinha na garagem de casa, que era uma forma de ter uma renda extra, só restaram algumas latinhas e salgadinhos. Ele conseguiu ver sua família apenas três dias depois. “Quando cheguei em Santa Cruz da viagem, acabei indo para a casa de um conhecido, no Bairro Faxinal Menino Deus, e minha esposa e filho já tinham ido para um parente em Vera Cruz. Como não havia passagem de lá pra cá durante um tempo, só consegui os reencontrar na sexta”, contou.

Em 13 anos casado com a esposa e morando no Navegantes, nunca tinha visto algo parecido. “Não tem como seguir aqui. É complicado viajar e ficar pensando que toda hora pode vir uma enchente dessa”, comentou o morador, que reside a cerca de 500 metros da margem do Rio Pardinho. Na casa dele, as únicas coisas que conseguiu salvar foram algumas fotografias da família e a geladeira.

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Sem segurança

Lavando uma roupa militar em um tanque na garagem de casa, Marcos Raasch, de 46 anos, tenta colocar tudo no lugar na casa onde mora com a esposa Elisane, de 36 anos. A vestimenta que estava de molho é do filho Régis, 20 anos, que está atuando pelo Exército em missões de enfrentamento às enchentes na Região Metropolitana de Porto Alegre, e que dias atrás ajudava, nas imediações da casa do pai, a recuperar o que a família tinha perdido.

A exemplo do motorista Jéferson, Marcos não estava em casa quando a água começou a entrar. Ele trabalha no setor de merchandising de uma empresa de fabricação de produtos alimentícios e bebidas, e passou o início da manhã de 30 de abril em Venâncio Aires, na inauguração de um atacarejo. “Quando soube da água invadindo, voltei, mas não consegui mais chegar aqui. Tive que esperar os bombeiros resgatarem meu pai de 87 anos e a mãe de 70, que estavam ilhados com água até os joelhos”, contou.

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Ele perdeu praticamente tudo e recebeu doações como cama, colchão e pia. A televisão, que caiu na água, foi seca por ele e está em cima de um rack que recebeu de voluntários. Ainda é possível ouvir o áudio no aparelho, mas imagem não aparece mais. “Vou tentar ver se consigo fazer funcionar 100% de novo. Não dá pra jogar fora. A geladeira também sequei e fiz funcionar”, comentou.

Perguntado sobre a intenção de ir embora da região de Navegantes, caso haja uma possibilidade, Marcos Raasch foi direto. “Com certeza. A gente antes já não tinha uma segurança grande. E agora, depois dessa última, vimos que não tem segurança nenhuma. Como essa deu grande pode vir outra enchente, e não dá pra trabalhar a vida toda para adquirir as coisas e perder tudo desse jeito.”

Marcos Raasch viu os bombeiros salvarem o pai e a mãe idosos, que estavam ilhados | Foto: Alencar da Rosa

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