Santa Cruz do Sul

Moradores do Bairro Esmeralda avaliam perdas com a chuva; construtora e Prefeitura se manifestam

A forte chuva do fim da tarde dessa segunda-feira, 8, deixou uma série de prejuízos em Santa Cruz do Sul. A Defesa Civil atendeu sete ocorrências de alagamento em residências, a maioria no Bairro Esmeralda, sobretudo no Corredor Zanette e na Travessa Ilópolis. A moradia de Graciela Lenz Junkherr, de 43 anos, foi a mais afetada, ficando parcialmente destruída.

Sentada em uma banqueta na sala de festas, na tarde dessa terça-feira, 19, ela olhava incrédula para os estragos provocados pelas águas na noite anterior. Em uma das paredes estava a decoração da celebração do seu aniversário, festejado no dia 4 de novembro, incluindo balões metalizados dourados com a sua idade e uma cortina de luzes natalinas.

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A geladeira, cheia de comida, foi arrastada pela correnteza e parou na entrada da garagem junto com outros móveis. Em meio a eles estava a árvore de Natal que a filha Gabrielly Junkherr de Souza, de 10 anos, havia decorado recentemente. “Esse é o Natal que vou proporcionar para a minha família? E que farei para deixar minha filha feliz? Estou vivendo um pesadelo”, lamentou.

Construída pela sua mãe, Maria Irona Lenz Junkherr, a casa número 60 da Travessa Ilópolis, no Bairro Esmeralda, é seu lar há 26 anos. Ela divide a habitação com o irmão Fabiano Lenz Junkherr, de 45 anos, e o sobrinho Marcos Paulo Junkherr, de 27. Para erguer a casa própria, Maria Irona trabalhou em dois empregos – na safra de tabaco e como doméstica – até juntar o dinheiro necessário. “Era o seu maior sonho, lutou muito para nos dar uma vida melhor”, recordou a filha. A determinação da mãe se tornou um incentivo para Graciela, que atua como auxiliar de limpeza. Graças à sua dedicação, usou o salário para investir na casa e dar uma boa vida para Gabrielly.

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Após o fim do temporal, testemunhou o seu sonho e o da mãe completamente tomado pela lama. Durante a visita da equipe da Defesa Civil, foi informada de que ela e a família não poderiam ficar no local, pois o lodo era do esgoto e é considerado contaminado. Resta a incerteza de quando poderá voltar para o lar. “Minha vida toda está aqui. Todo o meu suor, toda a minha dedicação, todo o trabalho para ter uma vida melhor. E agora não podemos nem ficar aqui dentro”, desabafou.

Após noite de desespero, tristeza ao constatar os estragos

Graciela retornou do trabalho por volta das 19 horas. Logo em seguida, o temporal começou. Preparou um lanche e disse para a filha esperá-la no quarto com o ar-condicionado ligado. Cansada e com a pele queimada do sol, decidiu tomar um banho. Porém, ao entrar no banheiro, deparou-se com o ralo cheio. 
Enquanto gravava um vídeo para registrar o fato, a casa já estava inundada. Puxou a filha pelo braço e foi correndo para a garagem. Mas a pressão da água era tão intensa que precisaram arrombar o portão para fugir. 

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Fora da casa, começou a ver seus pertences – roupas, calçados, eletrodomésticos – carregados pela correnteza. A cachorra de Gabrielly, Belinha, chegou a ser arrastada pela água, mas foi resgatada. “Salvamos no último minuto”, disse. 

A menina passou o resto da noite na casa do pai, enquanto Graciela foi encaminhada para um hotel. Nessa terça-feira, retornou à casa para começar a avaliar os prejuízos. O acesso aos fundos do imóvel, reservado a ela e à filha, estava bloqueado pela porta da garagem, cadeiras e eletrodomésticos. Era necessário se abaixar e passar por uma fresta para entrar. 

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Todos os cômodos estavam cobertos de lama, não sendo possível enxergar o piso. Quanto mais adentrava a moradia, mais grosso era o barro, principalmente nos quartos e na cozinha.
Abalada, a auxiliar de limpeza não tinha coragem de abrir os armários para verificar o estado das roupas, ainda mais depois de presenciar os brinquedos que deu à filha destruídos. “Não consigo, quanto mais eu olho, mais me dá dor”, disse, chorando. 

Na tarde dessa terça-feira, uma equipe da Construtora CasaNova foi à residência verificar a situação e conversar com Graciela. Conforme a moradora, ela permanecerá no hotel até ser transferida, junto com a família, a uma casa alugada pela empresa, que também fará a manutenção da residência.

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Água derrubou muro

A residência de Graciela não foi a única na Travessa Ilópolis, no Esmeralda, a ser atingida. Em frente fica a moradia do mecânico Anildo da Silva, de 54 anos. No terreno está sua mecânica e a casa onde mora com a esposa e três filhos. Assim que percebeu a água chegar, levantou todos os móveis e eletrodomésticos para evitar maiores prejuízos. Passou a madrugada removendo o barro que tomou conta do piso.

A correnteza era tão forte que derrubou o muro construído há seis anos nos fundos da propriedade. Foi a primeira vez que testemunhou uma inundação no endereço. “Nunca vi isso, o fluxo de água era muito forte”, contou.

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O que diz a construtora

O Grupo CasaNova emitiu uma nota à imprensa sobre a situação ocorrida no Bairro Esmeralda. Segundo o texto, assim que tomou conhecimento, encaminhou prontamente uma equipe para prestar apoio aos moradores afetados pelo temporal enquanto apura se há “efetiva responsabilidade com os fatos ocorridos”. Segundo a empresa, “não é a primeira vez que a região é alvo de alagamento ao longo das décadas”.

Na nota, enfatiza-se que além de os danos apontados não serem pontuais, pois ocorreram em diversos bairros de Santa Cruz do Sul, as residências atingidas não são lindeiras ao empreendimento que está sendo construído pelo grupo. Conforme a empresa, essas moradias estão edificadas sobre um leito de drenagem natural e sobre tubulações antigas que não suportaram o volume da água da chuva.

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Além disso, a construtora salienta que todos os projetos foram elaborados de acordo com as normas do Município de Santa Cruz do Sul e que as obras são realizadas conforme normas técnicas vigentes. Por fim, destaca que empreendeu todos os esforços para, junto com a administração municipal, apurar as necessidades da região do loteamento e exigir que os sistemas pluviais dos arredores sejam adequados e modernizados, proporcionando mais segurança à região.

O que diz a prefeitura

Em nota, a Secretaria de Planejamento e Governança afirmou que está ciente dos fatos e já tomou providências, reunindo-se com a Construtora CasaNova para verificar as causas e possíveis soluções para o sistema pluvial do Bairro Esmeralda. “Tanto o Município quanto a empresa concordam que devem ser realizados serviços de melhorias na rede pluvial da localidade”, diz o documento.

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Associação de Moradores fará reunião nesta quinta-feira

Diante dos estragos provocados pelo temporal na segunda-feira, a Associação de Moradores do Bairro Esmeralda (Ambe) programou um encontro no pavilhão da comunidade Santa Clara nesta quinta-feira, 21, às 19h30, para debater a situação. As demandas levantadas durante a reunião serão encaminhadas ao Ministério Público.

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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