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SEM ESTRADAS

Moradores de Candelária se mobilizam para reconstruir acessos; veja relatos

Foto: Alencar da Rosa

O desvio construído pelos moradores, em trecho com brita, está ameaçado pelo avanço no desmoronamento de terra nas margens

Desde o início do mês, os moradores de pelo menos nove localidades do interior de Candelária seguem sem acesso à área urbana do município. Ilhados por conta da queda de parte da ponte que passa sobre o Rio Pardo, na RSC-287, não conseguem passagem nem de carro e nem a pé. Enquanto isso, se unem, cada um à sua maneira, para reconstruir, com os próprios recursos, o que é possível. Além das dificuldades, acumulam muitos prejuízos.

Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária, Juarez Cândido, que integra o Gabinete de Crise do município, as comunidades da Linha do Rio, Linha Facão, Linha Alta, Linha Sul, Quilombo, Chapadão, Cortadinho, Linha Ana e Barra do Quilombo, duramente atingidas pelas enchentes, não conseguiram obter maior aporte de auxílio por parte do poder público justamente por ainda estarem isoladas.

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“Os moradores dessas regiões foram e estão sendo verdadeiros heróis. Eles reconstruíram estradas, reconstruíram pontes. Houve locais em que fizeram uma ponte de madeira em dois dias. Para recuperar a estrada geral da Linha do Rio, que ficou completamente devastada em alguns trechos, receberam ajuda da Prefeitura, com algumas máquinas, que foram locadas fora do município, e também do Daer. Mas foi muito pouco se comparado a tudo o que eles próprios fizeram com os tratores e seus maquinários”, disse Cândido.

Um dos moradores que ajudou a organizar essa força-tarefa, na Linha do Rio, foi Cléber Gessinger, operador de máquinas da Prefeitura de Candelária. Além de mobilizar os vizinhos para a reconstrução, ele e outro colega servidor levaram para a localidade, passando em meio à correnteza do Rio Pardo, de uma margem a outra, duas motoniveladoras do município para limpeza e recuperação das estradas. “Aqui cada um ajuda como pode. Os moradores de toda a localidade estão envolvidos. Todos, sem exceção. Agora, estamos mobilizados para que o Daer venha fazer a contenção na margem do rio. Fizemos um desvio para dar passagem pela estrada geral, mas a correnteza segue levando a terra”, destacou.

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De acordo com Cândido, no que tange às lavouras, a recuperação exigirá muito investimento em maquinários. “Em alguns lugares ficaram somente os buracos e o solo, sem nenhuma fertilidade; em outros, ficou apenas um banco de areia ou acumulou cascalho, deixando apenas o rastro de um rio seco, e que não dá mais lavoura”. Por conta do isolamento, as comunidades não conseguem levar os doentes para a cidade de Candelária, escoar a produção e, tampouco, atender seus negócios nas áreas que ficam na margem contrária.

“Agora, para comprar comida, precisamos ir até Santa Cruz”

O agricultor aposentado Ruben Cláudio Mundstock, de 73 anos, e sua esposa Danila, de 72, moradores da Linha do Rio, driblam a falta de acesso à cidade de Candelária indo até Santa Cruz para fazer as compras no supermercado. “Está muito demorado e o tempo não colabora para a ponte ficar pronta na RSC-287”, disse Ruben. Com perdas na produção de soja e arroz, já estimadas em cerca de R$ 100 mil, ele também viu suas lavouras serem literalmente engolidas pela força das águas.

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Em entrevista à Gazeta do Sul, na tarde de sábado, mostrou, nos fundos da propriedade, os estragos deixados pela enchente. “Mudou totalmente o curso do rio. A lavoura de milho foi toda levada. A terra foi arrastada em profundidade de três a quatro metros”, calculou. Ruben disse que essa foi a terceira enchente que enfrentou. “Passei a de 1959, a de 2010 e essa, de 2024. Essa foi a maior de todas. Foi muito violenta”, frisou.

Ruben salientou que, até o momento, não foi procurado por ninguém da Prefeitura ou da Defesa Civil para fazer levantamento de perdas ou para auxílio. Outra queixa diz respeito à falta de sinalização no trecho; parte da estrada segue sendo corroída pela correnteza. “A margem continua caindo e quem não conhece pode se acidentar”, alertou. Só na última semana Ruben conseguiu trazer para a propriedade uma colheitadeira que havia ficado parcialmente encoberta pela água em meio a uma de suas lavouras.

Danila e Ruben, mesmo morando próximo da cidade, simplesmente não podem ir até lá | Foto: Alencar da Rosa

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“Planto nas duas margens do rio e não consigo me deslocar”

Quando ainda era possível o acesso a pé, pela pinguela de madeira colocada sobre a ponte na RSC-287, Renato Eduardo Melchior, de 36 anos, conseguiu salvar parte da produção que cultiva em lavouras situadas na margem oposta do Rio Pardo. Morador da Linha do Rio, na divisa que dá acesso à localidade de Linha Alta, conta que usou maquinário de terceiros para não perder toda a lavoura. “Planto nas duas margens. Aqui, na Linha do Rio, e em áreas da Rebentona, Vale do Sol, e próximo do Aqueduto, em Candelária”, disse.

Mesmo com todo o esforço, calcula que tenha perdido 20% da produção de soja. “Foi um ano difícil de plantar e de colher tudo. Para comprar combustível ou ir no mercado, não me preocupo, porque vou a Vera Cruz ou Santa Cruz, mas meus negócios estão todos para cá (Candelária), do outro lado do rio. Não tem muito o que fazer. A gente quer que as coisas sejam rápidas, mas não é tão simples, tem muitos entraves”, referiu.

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No sábado à tarde, ele fazia, com seu próprio maquinário, a drenagem das lavouras. “A canalização ficou toda entupida e preciso abrir esse bueiro para tirar o excesso de água. É muita coisa para a gente fazer; tem que começar a eleger as prioridades. Tem várias situações aqui, tem lugares em que lavou a terra, em outros aterrou. Áreas próximas daqui ficaram impróprias para plantar”.

Renato Melchior aproveitava o sábado para fazer a drenagem em uma de suas lavouras | Foto: Alencar da Rosa

“Precisei deixar meu carro para poder voltar para casa“

Fabrício Jaeger Pires, de 26 anos, morador da localidade de Vila Passa Sete, arriscou-se a passar pela ponte pênsil, ainda em reconstrução, para buscar o carro que precisou deixar em Vale do Sol no dia da enchente. Ele seguia a pé, pela estrada geral da Linha do Rio, na tarde de sábado, quando contou à reportagem da Gazeta do Sul que ficou ilhado na enchente ao retornar para casa. “Fui trabalhar em Santa Cruz naquele dia e tive problemas no carro, no trecho próximo à praça de pedágio de Candelária. Quando voltei, não deu mais passagem, porque o nível do rio tinha subido muito e precisei deixar o carro em uma oficina mecânica em Vale do Sol”, disse. A rota viável para retornar com o carro, que ele faria no fim de semana, seria por Rio Pardo e Cachoeira.

Fabrício: o carro ficou em Vale do Sol | Foto: Alencar da Rosa

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