Moradora de Santa Cruz do Sul já esteve em 58 países e pretende escrever livro

Jaciara Bridi Basso tinha 33 anos quando saiu do Brasil para morar no exterior pela primeira vez. De mudança com a família para as Filipinas, encontrou dificuldades de adaptação. Ao longo de cerca de 20 anos de períodos vivendo também na Suíça, na Colômbia e no México, a terapeuta holística, natural de Ibarama, investiu em viagens para conhecer 58 países. Em seus planos está a ideia de escrever um livro para compartilhar suas experiências como expatriada para ajudar mulheres na mesma situação. Hoje, residindo novamente em Santa Cruz do Sul, e apesar de já ter realizado o sonho da maioria dos viajantes e dado a volta ao mundo duas vezes, ela não pretende parar por aí e já planeja as próximas aventuras.

Nas Filipinas, onde começaram suas aventuras pelo mundo

Aos 58 anos, Jaciara Bridi Basso orgulha-se de já ter visto uma boa parte do mundo, e de fato já esteve no mesmo número de países da sua idade atual. Natural de Ibarama, formada em Psicologia pela Unisc e atuando como terapeuta holística, ela retornou a Santa Cruz do Sul há cerca de um ano e meio, após viver em diversos continentes. Neste caminho, ela acumulou memórias e adquiriu objetos de cada local onde esteve, e que agora decoram o apartamento no qual reside.

Sua jornada começou em 1996, quando o marido, Roque, foi transferido pelo trabalho na indústria fumageira para morar nas Filipinas. Jaciara tinha 33 anos e partiu com os filhos Raquel e Ismael para uma aventura desafiadora. O marido viajava a trabalho e os filhos estudavam em escola americana de ensino integral. O período de adaptação foi longo, com cerca de um ano até se ambientar.

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Uma das grandes dificuldades enfrentadas na época foi a comunicação. Diferente de hoje, quando há os recursos de internet e aplicativos, as conversas com a família eram limitadas. “Os telefonemas para o Brasil eram caríssimos. Eu ligava apenas uma vez por mês, por cerca de dez minutos. Enviava cartas também, mas levavam um mês para chegar”, frisa. O contato com o país se dava por meio de uma assinatura da revista Veja e pacotes enviados pela amiga Léa Lau, que na época chegou a mandar até edições da Gazeta do Sul.

O país, de povo acolhedor e amigável, possui clima tropical e quente, com duas estações bem definidas: uma de chuva e outra de seca. Capital dos shoppings da Ásia, Manila é conhecida pelo imensos centros de compras. O país é um conjunto de mais de 7 mil ilhas, nas quais se falam diversos dialetos. As línguas oficiais são o filipino, também conhecido como tagalog, e o inglês. A brasileira havia aprendido inglês antes, mas precisou estudar o idioma novamente no país.

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Cada viagem ao Brasil era garantia de uma mala cheia de comida brasileira e de livros. A família costumava levar pão de queijo, goiabada, requeijão e farofa para matar as saudades. Jaciara lembra que sentia falta do churrasco e das cucas daqui. E, enquanto estavam em Manila, receberam um ilustre visitante brasileiro, o apresentador Zeca Camargo, do Fantástico, que estava em sua viagem de volta ao mundo. Inclusive, no capítulo dedicado às Filipinas de seu livro Fantástica volta ao mundo, cita a gaúcha como a guia dele no país.

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Trecho do livro escrito pelo jornalista Zeca Camargo relembra visita a Manila | Foto: Rafaelly Machado

O período foi marcante para Jaciara, que realizou curso e trabalho voluntário na Crisis Hotline, serviço semelhante ao CVV no Brasil. Mais tarde, ela fez dois anos de mestrado em Counseling, sendo a única ocidental em sua formatura, e chegou a trabalhar em uma escola como conselheira. Ao todo, a primeira estada no país durou oito anos e meio.

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Após o período inicial de dificuldades, a família encontrou amigos com quem contar e estabeleceu relações até mesmo com o embaixador, com quem compartilhava jantares e reuniões. “Aprendi que os amigos são a família da gente. Naquela hora em que você está lá do outro lado do mundo, sozinha, se um dos filhos ou você tem um problema, são os amigos que dão apoio”, salienta. Jaciara estima que ainda tem contato com cerca de 90% dos amigos que fez morando no exterior.

Mais tarde, a família foi morar em Lausanne, na Suíça, e um novo choque cultural ocorreu. Vieram não só um novo país uma nova casa, mas um clima de neve e frio intenso, e uma nova língua – o francês. No total, foram dois anos morando na Europa, antes de mais uma mudança, desta vez para a América Central. Veio um período no México, onde o casal viveu por cerca de três anos e Jaciara aprendeu a falar espanhol.

Depois disso, foram para a Colômbia, onde permaneceram por três anos, nas cidades de Medellín e Bogotá. No país, ela integrou o grupo Aquarela, formado por mulheres brasileiras que se reúnem para ajudar instituições, além de organizar eventos beneficentes. Mais tarde, voltaram às Filipinas por mais dois anos antes de retornarem ao Brasil.

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Havia o sonho de morar na praia, e Maceió, em Alagoas, foi a cidade escolhida para residir durante cinco anos. “Foi uma cultura nova, pelo sotaque, pelas expressões e pelo modo de vida diferente. É quase como se fosse outro país”, define.

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Filhos nos EUA

Atualmente, os filhos de Jaciara moram e trabalham em San Francisco, nos Estados Unidos, onde ela e o marido costumam passar temporadas de alguns meses. Raquel e Ismael presentearam os pais com um quadro de mapa-múndi, com as viagens marcadas por alfinetes. Ao longo dos anos, as reuniões da família Bridi Basso ocorriam em outros países, mas após o nascimento dos netos, o casal prefere ficar nos EUA. Nos planos de Jaciara e de Roque está a residência definitiva por lá, para conviver mais de perto com os filhos e com os dois netinhos, reunindo novamente a família. “Como meus filhos estão há muito tempo nos Estados Unidos, eu quero ser a portadora da cultura brasileira para os meus netos”, anuncia.

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Mapa das viagens foi um presente dos filhos, que hoje moram nos Estados Unidos | Foto: Rafaelly Machado

Dicas úteis para quem adora viajar

Mesmo antes de morar fora do país, Jaciara ressalta que todo tempo livre era investido com viagens. “Desde quando recém-casados no Brasil, nosso dinheiro sempre foi para viajar. Nosso hobby de vida é viajar até hoje”, comenta. Antes da pandemia, os planos do casal eram de passar três meses nos Estados Unidos, visita que acabou sendo cancelada.

Para quem deseja aprender um novo idioma, a dica da viajante é criar o hábito de ouvir com atenção, escutando muito mais do que se fala, além de ter disposição para fazer uma imersão na cultura do local. Jaciara hoje fala inglês e espanhol fluente e costuma praticar lendo livros nesses idiomas; e entende e fala um pouco de francês, italiano e tagalog.

Outra sugestão da viajante veterana é explorar os locais, mas sempre se planejar bem. “Gostamos de pesquisar, fazer viagens com data de ida e volta, tudo organizadinho.” No entanto, vale a pena aceitar recomendações, que seriam um complemento. Ela indica também pesquisar muito sobre o clima do local para levar roupas apropriadas e aprender a fazer malas menores.

Segundo a terapeuta, problemas como perda de malas podem acontecer, mas sempre há solução. Para evitar desgastes, carregue sempre seus pertences valiosos e uma muda de roupas junto com a bagagem de mão. Uma sugestão que ela faz aos viajantes é sempre deixar o passaporte no local mais seguro, no hotel, e ter consigo apenas uma cópia do documento. Em caso de roubo, ou perda de documentos, o passaporte é o mais complicado para refazer, especialmente em outro país. Para quem ainda não possui o documento, mas planeja viajar no futuro, a dica é providenciar o passaporte e já ter ele pronto, evitando a burocracia e os gastos em cima da hora de viajar.

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Quando perguntada a respeito dos países que gostaria de visitar, Jaciara cita que quer muito ver a aurora boreal. O casal já fez cinco cruzeiros e, mesmo que a esposa não goste do frio, pretende fazer um cruzeiro pelo Alasca. Outras nações que ela ainda não visitou e estão na lista de desejos são Rússia, Áustria e África do Sul. Além dos EUA, ela não descarta morar em outros países no futuro. “Eu respeito todos os locais onde vivi e, se eu tivesse que morar de novo, moraria em qualquer um desses países, sem dúvida. Eu aprendi tanto!”

Memórias como uma expatriada

Segundo a definição dos dicionários, um expatriado é uma pessoa que reside em uma nação diferente de seu país de origem, alguém que voluntária ou involuntariamente deixou sua pátria. O termo costuma se referir a profissionais ou trabalhadores que são enviados ao exterior por seus empregadores, caso da família de Jaciara. “Na primeira vez que eu ouvi a palavra expatriado, aquilo me pegou bem forte, soa como sem pátria”, refere.

Ela conta que casos como o seu eram e ainda são comuns, em que o marido é transferido e a família toda se muda para um novo local. Mas ele trabalha, os filhos estudam e a esposa acaba ficando muito sozinha. “A mulher vai para lá, deixa seu trabalho, a estrutura familiar, amigos, redes de apoio, e quando chega não sabe nada. Dá muita solidão, medo e saudade.” Até mesmo atividades cotidianas, como ir ao médico e dentista e cortar o cabelo, se tornam desafios em países com culturas e idiomas diferentes.

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Conforme Jaciara, na maioria das vezes a esposa e mãe acaba sendo o suporte da família toda e, em alguns casos, é impedida de exercer atividade profissional, por não possuir visto de trabalho. “Nesse momento, de estar com essa situação toda de mudança, adaptação, língua, comida, eu vi como é difícil para mudar.” Ela destaca o apoio recebido do marido como fundamental para a adaptação. Realizou cursos de inglês e depois o mestrado, onde tinha a chance de socializar. Com o passar do tempo, e a ajuda de grupos de mulheres, como um clube de damas latinas e o American Women’s Club, ela acabou se habituando ao país. Mesmo guardando carinho por todas as nações nas quais viveu, a terapeuta admite que possui uma relação especial com as Filipinas.

Mais tarde, quando residiu na Colômbia, surgiu a ideia de escrever um livro em auxílio a outras pessoas que se encontrassem na mesma situação. “Comecei a pensar que poderia escrever para ajudar outras mulheres. Como achei um caminho, posso compartilhar”, explica. Para ela, no caso da mulher, existe quase uma despersonalização, já que ela se torna apenas a acompanhante do marido e é obrigada a deixar suas próprias ocupações. O projeto do livro ainda está em andamento, e Jaciara pretende contar suas histórias e vivências, também deixando um registro futuro, especialmente para os netos.

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Muitas lembranças

Além das experiências proporcionadas pelas viagens por terra, água e mar, Jaciara fez questão de trazer lembranças de suas andanças e hoje tem boa parte da casa mobiliada com essas memórias. Móveis da China e de Bali, tapetes e objetos decorativos, bonecos tradicionais filipinos, vasos do Vietnã e uma árvore da vida do México. Além dos itens únicos, mantém uma série de coleções, desde cartelas de fósforos de hotéis, máscaras, elefantes, pratos e caixinhas trazidos de cada um dos países visitados. Cada item tem uma história especial e foi transportado com carinho e muito cuidado a cada mudança.

Recordações das viagens decoram o apartamento do casal em Santa Cruz do Sul | Foto: Rafaelly Machado

Países visitados por Jaciara

  • Canadá
  • Austrália
  • Indonésia
  • Malásia
  • Singapura
  • Palau
  • Filipinas
  • Vietnã
  • Camboja
  • Tailândia
  • China + territórios de Hong
  • Kong e Macau
  • Coreia do Sul
  • Japão
  • Maldivas
  • Índia
  • Cazaquistão
  • Emirados Árabes Unidos
  • Turquia
  • Grécia
  • Macedônia
  • Bulgária
  • Romênia
  • Ucrânia
  • Itália
  • Suíça
  • Alemanha
  • França
  • Mônaco
  • Inglaterra
  • Polônia
  • Espanha
  • Portugal
  • Marrocos
  • Egito
  • Zimbábue
  • Zâmbia
  • Moçambique
  • Tanzânia
  • Quênia
  • Malawi
  • Argentina
  • Uruguai
  • Paraguai
  • Chile
  • Peru
  • Equador
  • Colômbia
  • Panamá
  • Costa Rica
  • Guatemala
  • México
  • Belize
  • Aruba
  • Curaçau
  • Haiti
  • República Dominicana
  • Cuba
  • Estados Unidos + territórios de Porto Rico e Havaí

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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Naiara Silveira

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