Morador de Santa Cruz, pai de Fernanda Garay acompanha o vôlei e acredita na medalha

De Santa Cruz do Sul, uma torcida toda especial emana boas vibrações direto para o outro lado do mundo – para Tóquio, no Japão, onde ocorrem os Jogos Olímpicos. Em todas as partidas da Seleção Feminina de vôlei, Luís Fernando Rodrigues, o Luisão, se aconchega em seu sofá, na sala de casa, no Bairro Renascença, para ver sua filha brilhar nas quadras. Ele é pai de uma das jogadoras mais importantes do vôlei mundial na atualidade, a porto-alegrense Fernanda Garay Rodrigues, de 35 anos, a Fê Garay, ponteira da Seleção Brasileira que busca mais uma medalha para o País.

Aos 58 anos, Luisão é “basqueteiro”, como ele mesmo se define. Sua relação com Santa Cruz do Sul nasceu através do esporte preferido dos santa-cruzenses, pois na década de 1990, como atleta, ele vinha enfrentar o Corinthians de Ary Vidal, Marcel, Alvin e Rolando, defendendo o Petrópolis Tênis Clube, de Porto Alegre. Inspetor de segurança pública, hoje aposentado, Rodrigues trabalhou em instituições como a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas e o antigo Instituto Penal de Mariante, em Venâncio Aires, e já foi delegado penitenciário na 8ª Delegacia Penitenciária Regional, em Santa Cruz do Sul.

Em 1999, Luís fixou residência no município para terminar o curso de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Eu conhecia a cidade de jogar e ir embora. Quando assumi o Instituto Penal de Mariante, eu ainda era casado com a mãe da Fernanda. Então, ficava nesse vai e volta de Porto Alegre, porque fazia faculdade de Direito na Uniritter. Em meados de 99, terminei o semestre lá e decidi me transferir para a Unisc. Acabei concluindo meu curso aqui e optando por morar em Santa Cruz”, conta.

Publicidade

LEIA MAIS: Luisa Stefani e Laura Pigossi conquistam primeira medalha olímpica do tênis brasileiro

Estrela no voleibol, Fernanda quase escolheu o basquete

Envolvido com o basquete, Luís conta que por pouco sua filha não seguiu no mesmo esporte que o pai. Fê Garay iniciou na Sogipa, em Porto Alegre, junto com seus três irmãos mais novos, Heleno, hoje com 34 anos, e os gêmeos Adriano e Adônis, atualmente com 32 anos. Na época com 11 anos, a ponteira da seleção de vôlei chegou a dizer ao pai que pensava em praticar basquete, mas foi orientada por ele a seguir no voleibol.

“Ela chegou pra mim e disse que queria jogar basquete. Eu disse que o basquete no Brasil era um pouco desorganizado. Tinha a Hortência, a Paula, as referências na época. Mas era só, não existia investimento. O vôlei já estava na frente. Aí ela pensou e decidiu seguir no vôlei.”

Publicidade

Luís com a filha, multicampeã pelo Brasil

A decisão se mostrou acertada. Após participar de seleções gaúchas de voleibol, aos 18 anos, Fê Garay já ingressava na Seleção Brasileira. Quase duas décadas depois, a atleta soma inúmeros títulos importantes, como os campeonatos mundiais pela seleção em 2013, 2014, 2016 e 2018, e a medalha de ouro olímpica nos jogos de Londres, em 2012. Nos clubes em que atuou, Fernanda também coleciona grandes resultados: foi campeã da Superliga 2017-2018 e da Supercopa Brasileira 2018 com o Praia Clube, de Minas Gerais.

LEIA MAIS: De virada, seleção masculina de vôlei vence EUA e reage na Olimpíada

Após o início na Sogipa, Fê Garay assinou com o São Caetano em 2003, passando por Minas (MG), Pinheiros (SP), Vôlei Futuro (SP), Osasco (SP). Atualmente, ela defende o Praia Clube (MG). Teve ainda experiências em clubes internacionais. Em 2010 foi para o Japão, contratada pelo NEC Red Rockets, da cidade de Kawasaki. Em 2013 jogou no voleibol da Turquia, representando o Fenerbahce. Em 2014 trocou a Turquia pela Rússia, onde atuou no Dinamo Krasnodar e depois no Dinamo Moscou, e em 2016 foi para o Guangdong Evergrande, da China, de onde retornou em 2017 para seu clube atual, em Minas.

Publicidade

Pai coruja confia no sucesso da Seleção na Olimpíada

Aficionado pelo esporte, Luís acredita que a Seleção Brasileira Feminina tem condições de estar entre as medalhistas na competição. O Brasil está no Grupo A e estreou na Olimpíada de Tóquio dia 25 de julho, vencendo a Coreia do Sul por 3 sets a 0. No segundo jogo, dia 27, o Brasil superou a República Dominicana por 3 a 2, e na última quinta-feira derrotou o Japão por 3 a 0.

Neste sábado, às 4h25 da manhã, Luís estava em frente à televisão para torcer para o Brasil contra a Sérvia, um dos adversários mais difíceis. A vitória veio, por 3 sets a 1. A Seleção fecha a fase de grupos contra o Quênia na segunda-feira. O Brasil lidera a chave e os dois primeiros passam para as quartas de final.

LEIA MAIS: Vôlei feminino: seleção oscila, mas bate Sérvia e lidera grupo

Publicidade

Para brigar pelo ouro, segundo Luís Rodrigues, a equipe brasileira precisa da recuperação de sua armadora titular, que lesionou o tornozelo na última partida, e de concentração para apresentar o seu melhor em quadra. “Neste momento, o maior adversário é a cabeça do time. Não existe jogo ganho. O Brasil tem condições de ganhar. É importante que a Macris se recupere bem. Ela não vai jogar neste sábado”, comenta. “O Brasil, mesmo que perca para a Sérvia, pode ganhar do Quênia e se classificar em segundo. Depois, tem condições de ganhar dos Estados Unidos e da Turquia. Mas a Itália é o bicho-papão do momento” (a entrevista foi dada antes do jogo deste sábado).

Na terceira Olimpíada disputada por Fernanda Garay, após defender as cores do Brasil em Londres em 2012 e no Rio de Janeiro em 2016, Luís tinha esperança de acompanhar sua filha na edição de 2020/2021. A pandemia acabou atrapalhando os planos do morador de Santa Cruz do Sul, que teve de ficar no Brasil. Mas a torcida a distância não tira o ânimo de Luisão, que decorou sua casa para acompanhar Fê Garay em Tóquio.

Em dias de jogo, Luís dá um jeito de acompanhar Fernanda do jeito que der. Em 2012, ele teve uma ajuda especial para conseguir assistir à final dos jogos olímpicos de Londres. Ele estava em seu local de trabalho, na penitenciária, e precisou pedir uma ajuda inusitada para ver o jogo em que Fernanda foi decisiva para a medalha de ouro. “Eu tinha uma tevezinha na minha sala, a imagem era uma droga. Chamei um apenado e pedi: ‘arruma essa antena, que eu quero ver o jogo’. Deu certo. No final, quando estava 18 a 18, eu pedi: ‘pelo amor de Deus, não me erre esse saque’. Ela fez um ace e no segundo saque elas não conseguiram devolver, a bola veio de graça e o Brasil matou o jogo. Sofrimento ao extremo. Toda vez em que eu revejo esse jogo, me emociono.”

Publicidade

A experiência em Londres rendeu a Fernanda o título olímpico, e Luís guarda com orgulho a réplica da medalha de ouro conquistada por sua filha. Apesar de manter contato quase diário com Fernanda pelas redes sociais, o pai garante que não há pressão. “A gente fala que está torcendo, não pedimos medalha.” Mas se a medalha vier, Luís garante que vai ter festa em todo o Brasil, e em Santa Cruz do Sul também.

Luís Fernando acredita que vem ouro por aí: “Não tem pressão, mas tem torcida”

LEIA TAMBÉM: Fora dos Jogos de Tóquio, Jaqueline Weber está na torcida por amigos e na expectativa por Paris

TI

Share
Published by
TI

This website uses cookies.