“É um pesadelo. Um pesadelo que a gente nunca pensou que fosse viver”. É assim que Rolf Jesse Fürstenau, casado, pai de duas filhas e morador do Bairro Rio Branco, em Canoas, termina seu relato sobre como teve que deixar para trás a casa onde reside com a família ao ver o sobrado ser invadido pelas águas. O bairro fica ao lado do Rio Gravataí e logo atrás passa o Rio Jacuí que desemboca no Guaíba.
Na região, o alagamento começou após o dique do Rio Gravataí ceder. Uma manutenção foi feita pela Prefeitura, que anunciou que não seria necessário que as pessoas saíssem de suas casas. “Mas, no meio da madrugada, estourou de novo ali no mesmo lugar e começou a inundar para um lado e aí a água foi tomando aos poucos o bairro. Os moradores nem acreditaram quando começaram a ver aquela água, achavam que o sistema de esgoto ia escoar. Só que era cada vez mais água, o sistema de esgoto não dando conta e a água foi avançando. Os moradores começaram a tentar construir formas de desviar a água, mas o volume era gigantesco. Fizemos uma barricada na porta do nosso condomínio, o que funcionou um pouco, porém, de sexta-feira, 4, para sábado, 5, a água veio rápido e aí começou a operação de tentar salvar o que dava”, contou Rolf.
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Ele acrescentou que o esforço naquele momento era para colocar o máximo de móveis, eletrodomésticos e objetos de valor para o alto. Até mesmo os carros foram levados para a parte mais alta do condomínio na esperança de que não ficassem submersos. Não adiantou.
Desespero
“A água tomou o primeiro andar todo em todas as casas do condomínio. Alguns moradores ficaram desesperados para remover as pessoas idosas, crianças, animais. As pessoas foram levadas para um prédio em construção ao lado do condomínio e isso envolvia pular um muro, o que foi feito com a ajuda de duas caixas d’água da própria construção, que também serviram para transportar os idosos, crianças e animais”, relatou.
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Rolf lembrou que alguns moradores que quiseram ficar no segundo piso das casas desistiram porque perceberam que, mesmo ali, havia risco e que a água demoraria dias para baixar. Os moradores ficaram no prédio em construção até que um deles entrou em contato com um parente que possui um barco e foi com essa embarcação que todos foram resgatados para locais mais seguros. “Em alguns lugares a água chegou até o segundo piso. Mas, na nossa região, o segundo piso ainda foi poupado. Só que os andares inferiores, os pequenos negócios, lojas de ferragens, mercado, agropecuária, padaria, açougue, carros, tudo foi destruído. É muito, muito triste. Mas claro que nossa maior preocupação é com as vidas, por isso acho que o resgate com barcos, motocicletas aquáticas e helicópteros está sendo muito importante”, opinou.
Para Rolf, os helicópteros são de suma importância porque há muitas pessoas que insistiram em ficar em suas casas com medo de que haja saques, porém, por não se saber quanto tempo demorará para que as águas baixem, isso se torna perigoso. “Não tem como ficar ali. Vão ficar sem água, sem comida. Não tem luz e agora falta água potável”, afirmou.
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Ele também citou que as pessoas não sabem por onde começar a reconstruir o que perderam. “Eu não tenho condição nenhuma de trabalhar nos próximos dias. Eu não sei onde vou morar e tenho duas filhas pequenas. Eu estou praticamente só com a roupa do corpo, que é um pijama e uma camiseta. Eu saí de casa usando um calção de banho e outra camiseta para molhar mesmo, e sem calçado, só um chinelo”, afirmou.
Vítimas
As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde a semana passada afetaram mais de 873,2 mil pessoas. Até o momento, 83 pessoas morreram, de acordo com o último boletim da Defesa Civil divulgado ao meio-dia desta segunda-feira, 6. Outros quatro óbitos ainda estão em investigação e 291 pessoas ficaram feridas. Há ainda 111 pessoas desaparecidas.
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O número de óbitos superou a última catástrofe ambiental do estado em setembro de 2023, quando 54 pessoas perderam a vida com a passagem de um ciclone extratropical. As autoridades afirmam que este é o pior desastre climático da história gaúcha. As chuvas também obrigaram milhares de pessoas a abandonar suas casas, entre 129,2 mil desalojados e 20 mil desabrigados. Dos 497 municípios gaúchos, 367 foram afetados pelas fortes chuvas, o que representa 73,8% das cidades do estado.
Ainda de acordo com o balanço mais recente das infraestruturas estaduais, mais de 435 mil pontos no Rio Grande do Sul seguem sem energia elétrica e 884 mil residências (28%) estão sem abastecimento de água.
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As chuvas também provocam danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Nesta segunda-feira, há 102 trechos em 58 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
Para quem quiser ajudar, os itens mais necessários para doação no momento são colchões novos ou em bom estado, roupa de cama, roupa de banho, cobertores, água potável, ração animal e cestas básicas, preferencialmente fechadas para facilitar o transporte.
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