Além de transtornos que vão de rachaduras nas paredes a deterioração da pavimentação, os moradores do Residencial Viver Bem, em Santa Cruz do Sul, convivem com outro problema grave, passado um ano e meio da inauguração: a ocupação irregular de residências. Mais de duas dezenas de casos já são investigadas, mas na prática pode haver muito mais.
A situação foi levantada durante reunião especial realizada na Câmara de Vereadores, na segunda-feira – à qual a Caixa Econômica Federal, responsável pelo empreendimento, não compareceu. À reportagem, a Caixa informou estar apurando 21 casos de ocupação irregular no Viver Bem. Já o Ministério Público Federal (MPF) confirmou ter recebido em torno de 25 denúncias.
Cerca de 5 mil pessoas moram nas 922 unidades do loteamento, construído por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. As residências foram entregues em dezembro de 2015 e só podem ser vendidas se o financiamento estiver quitado, o que tem prazo de dez anos para acontecer. Porém, de acordo com a presidente da ONG Voluntários da Paz, Karina Velozo, muitas moradias já foram repassadas a outras pessoas mediante negociação ou foram invadidas. Algumas, segundo ela, já foram ocupadas por mais de três famílias diferentes.
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Karina acredita que mais de 200 unidades não estejam ocupadas pelos beneficiários titulares. A maioria dos casos, conforme ela, não chega a ser denunciada. “Teve gente que recebeu a casa, mas vendeu antes de vir. Agora, a bagunça já está formada”, afirmou.
Para Karina, faltou fiscalização. “É claro que quem comprou ou invadiu fez errado, mas há outros culpados.” Os moradores pretendem discutir o assunto com a instituição nos próximos dias. A preocupação é porque muitas famílias irregulares não têm para onde ir. “Não queremos que a polícia venha aqui e simplesmente retire elas”, falou.
“Só tivemos incomodação”
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Entre as razões por trás da venda irregular de casas no Viver Bem estão os problemas estruturais no loteamento, que vêm levando pessoas a abandonar o local. Uma ex-moradora ouvida pela reportagem mudou-se para o residencial no início de 2016, após esperar por três anos, mas ficou apenas oito meses.
Segundo ela, que é empregada doméstica e tem 38 anos, a unidade na qual morava com o marido e dois filhos alagou seis vezes – em duas delas, sequer havia chovido – e também tinha problemas de esgoto. Por meio de uma vizinha, ela descobriu um comprador e acabou vendendo o imóvel por R$ 15 mil – o valor foi pago em duas vezes. “Queria muito ter ficado, a sensação de ter a casa própria é maravilhosa, é um sonho. Mas só tivemos incomodação naquela casa. Só não foi pior porque alguns vizinhos nos ajudaram muito”, relatou.
O PROBLEMA
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Situação é “bastante séria”, diz Helena
À frente do Departamento de Habitação da Prefeitura, a vice-prefeita Helena Hermany classificou a situação do Viver Bem como “bastante séria”. Atualmente, há cerca de 200 famílias suplentes na lista de espera para ocupar casas. “Em todas as reuniões e assembleias que fizemos, sempre enfatizamos que não pode vender, doar ou emprestar. Os moradores estão cientes disso”, afirmou.
Segundo Helena, denúncias recebidas pelo governo são encaminhadas à Caixa. A possibilidade de atuação da Prefeitura, no entanto, é limitada, já que o empreendimento ainda não foi recebido pelo Município.
De acordo com o MPF, procedimentos vêm sendo abertos para apurar todas as denúncias. Quando se trata de venda, a Caixa é acionada para explicar quais as providências tomadas.
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