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Mongólia: na capital mais fria do mundo

No final da noite aterrissamos finalmente no aeroporto Chinggis Khan, na capital mais fria do mundo. A temperatura de 18 graus negativos comprova, antes mesmo de o inverno começar. A infraestrutura das estradas, os carros, as construções etc. demonstram a simplicidade e os parcos recursos da nação. Percebo a predominante arquitetura soviética deixada pelos anos de domínio do império comunista. A estética associada ao frio intenso e o alfabeto cirílico tornam aquela paisagem familiar em razão do período que passei na Rússia nos anos 90. Parece um lugar congelado no tempo, e me sinto bem por ali logo na chegada. O espírito de um povo é sempre sentido nas primeiras horas de contato.

Na manhã seguinte, caminho até a praça central (Praça Sukhbaatar). A leste, vejo a ópera; ao sul, o teatro; e ao norte, o prédio do parlamento Mongol, dominado pela imponente estátua de, é claro, Gêngis Khan.

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O Museu Histórico da Mongólia guarda artefatos tribais, Na capital mais fria do mundo vestimentas de várias épocas e um interessante painel que cobre desde a revolução cultural do período comunista até a recente transição para a democracia, no início dos anos 90. Praticamente não há construções históricas antigas. Seguindo a tradição nômade, os nativos sempre moraram em tendas redondas, chamadas ger, presentes até hoje por todo o país. Um milhão de nômades ainda representam um terço da população mongol.

Longe de lembrarem tribos nômades de violentos guerreiros que um dia aterrorizaram metade do mundo, as pessoas são simpáticas, apesar de uma notável timidez. O russo ainda é a segunda língua, e poucos falam inglês. Percebo algumas características herdadas dos soviéticos. As mulheres têm traços bonitos e são carinhosas umas com as outras. Como na Rússia, procuram se vestir bem, por vezes exagerando em adereços e coloridas extravagâncias. Os homens aparentam uma certa brutalidade, mas são muito simpáticos, prestativos e honestos no comportamento.

O memorial sobre o monte Zaisan, nos arredores da cidade, e o monastério budista de Gandan são muito interessantes. O memorial é um monumento puramente soviético. O taxista me leva até o pé do monte e de lá subo mais de 300 degraus. A subida é íngreme e o vento intenso parece penetrar nos ossos, mas o esforço vale a pena. A vista da cidade e dos montes cobertos de neve é espetacular. Uma enorme estátua dourada do Buda, ao lado do monte, também chama atenção.

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O monastério de Gandan vale a longa caminhada desde o centro da cidade. Muitos monges e peregrinos budistas cumprem ali o ritual de girar os cilindros de oração e orar diante da estátua de 26 metros do Buda, folheada a ouro e cravejada com pedras semi-preciosas. Nas paredes, milhares de pequenos budas organizados em prateleiras completam a rica decoração.

Na despedida desta terra de estepes, desertos e montanhas, parto cedo com a empresa local, Mongolian Airlines, rumo a Seul. No voo, sento-me entre dois mongóis que poderiam trabalhar como guerreiros em um filme épico de Gêngis Khan. Com suas mãos calejadas e visivelmente sofridas, comem como se aquela fosse sua última refeição. Cheiram a tabaco e outros aromas menos nobres. Mesmo assim, são cordiais à sua maneira. A Mongólia é uma terra de guerreiros, de glória e sofrimento, que formaram um povo isolado, pouco numeroso, mas de muito valor.

Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.

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