Em 1162 nasceu o filho de um líder tribal da Mongólia, a quem chamaram Temujin. Nesta época, as estepes da região eram tomadas por guerras tribais, além dos conflitos com tradicionais inimigos vindos da China. O pai de Temujin foi morto em uma destas guerras quando ele tinha 9 anos e o menino seria o sucessor natural na liderança. Contudo, por ser ainda uma criança, foi rejeitado e teve que deixar a tribo com sua mãe e dois irmãos. Em mais um exemplo da influência materna na auto-confiança, a matriarca lhe deu um dia uma flecha e pediu que a quebrasse ao meio, o que ele fez facilmente. Em seguida, amarrou um feixe com várias flechas, e novamente pediu que o quebrasse, o que agora parecia impossível. O menino guardou consigo este exemplo de força pela união.
Temujin, hoje mais conhecido pelo seu nome adulto de Gengis Khan (Chinggis Khan), foi o líder que, após sangrentas e repetidas batalhas entre mongóis, tartares, uigures etc., conseguiu em 1206 unir as tribos da Mongólia, tornando-se o Rei (Khan) dos Mongóis. A partir daí, o império mongol iniciou uma expansão impressionante durante os reinados de Gengis e seus filhos. Os guerreiros mongóis, brutais e desumanos, espalharam terror e morte por onde passaram. Por outro lado, possivelmente sem querer, ajudaram a prevenir a dominação muçulmana sobre a Europa e abriram as rotas comerciais entre a Ásia e o ocidente.
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Em determinado momento, o império mongol compreendia uma área imensa, da península da Coreia até a Bulgária, e do norte da Rússia até o sul da China.
As rotas abertas por Gengis Khan não foram só geográficas, mas acabaram sendo principalmente culturais. Trouxeram para o oeste invenções chinesas, a sabedoria indiana, especiarias, arte oriental e muito mais. Em sua rápida expansão, trouxeram também a Peste Negra, que naquele século matou 30% da população europeia.
Os chineses têm um ditado que diz que todos os povos serão cedo ou tarde dominados por aqueles que um dia dominaram. As ocupações chinesa e, mais tarde, soviética sobre a Mongólia parecem provar este credo oriental.
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Decolo cedo do terminal 3 do aeroporto de Pequim, o maior terminal de passageiros do mundo, para Ulan Bator (Ulaan Bataar), a capital da Mongólia. O voo transcorre sem problemas, sobrevoando a província chinesa da Baixa Mongólia e o deserto de Gobi, em teritório mongol. Próximo ao destino, o piloto avisa que ventos de cauda não permitem o pouso e que retornaremos a Pequim. O principal aeroporto do país, chamado Gengis Khan, tem um dos lados da única pista bem próximo às montanhas, o que só permite o pouso em uma direção. De volta à China, retidos pela imigração em Pequim, eu e os demais passageiros aguardaríamos mais de 6 horas pela nova tentativa.
No lado positivo deste imprevisto, conversei por várias horas com uma senhora mongol que ha via sentado ao meu lado no voo, chamada Sanjaasuren Oyun. No meio da conversa, quando menciono ser brasileiro, ela revela que é a ministra de Relações Exteriores da Mongólia e membro do parlamento mongol. Ressalta ainda a ótima relação e admiração pelo ministro Celso Amorim, chefe do Itamaraty na época.
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Mais tarde, descobri que Oyun teve seu único irmão assassinado na revolta política de 1992 na Mongólia. Uma estátua perto do congresso em Ulan Bator o lembra como o único mártir da transformação democrática do país. PhD em Geologia pela Universidade de Cambridge, Oyun ocupa hoje o cargo de presidente da Assembleia do Meio-Ambiente nas Nações Unidas. Muito acessível, inteligente e simpática, já demonstrava a sofisticada simplicidade do povo que eu encontraria na Mongólia. Por mais espertos que pensemos ser, há sempre alguém para nos dar uma lição de humildade.
(Na próxima edição, a segunda parte do relato da visita à Mongólia)
Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.
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