Uma pintura a óleo com mais de 500 anos de existência, e que segue fascinando multidões em seu lar no Museu do Louvre, em Paris, a Mona Lisa ainda não revelou todos os seus segredos. A obra-prima de Leonardo da Vinci é tema de um livro escrito pela pesquisadora gaúcha Beatriz Zawislak. Mona Lisa e seus mistérios, lançado recentemente pela editora AGE, apresenta fatos pouco conhecidos do público sobre a obra mais famosa, e mais enigmática, de todos os tempos.
No livro, Beatriz faz conjecturas sobre a gênese do quadro, baseada em um conjunto de acontecimentos documentados, e monta uma espécie de dossiê sobre a Mona Lisa. A ideia surgiu numa viagem a Amboise, na França, em 2019. Naquele ano, celebravam-se os 500 anos da morte do gênio italiano e a cidade francesa fez uma exposição de réplicas das principais pinturas de Da Vinci, sepultado na região.
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A autora, natural de Porto Alegre, é formada em Física pela UFRGS e mestre em Educação. Após a aposentadoria, tem se dedicado a viajar, estudar italiano e escrever, e seu conhecimento científico ajudou na pesquisa. “Sempre fui muito curiosa e uma observadora detalhista, portanto, considerando as informações acumuladas com as minhas leituras, segui a metodologia da Física: fazendo perguntas, propondo hipóteses e buscando respostas”, relata.
Lisa Gherardini foi a musa inspiradora: a pintura corresponde ao retrato da esposa de Francesco del Giocondo, um rico comerciante de tecidos finos e que era membro do Conselho do governo de Florença, por volta do período de 1503.
Mona Lisa tem um retrato oculto: o cientista francês Pascal Cotte descobriu que Leonardo da Vinci havia criado uma versão inicial da modelo na tábua de álamo, onde está pintada a atual Mona Lisa do Louvre, mas se arrependeu e a cancelou. Contudo, Pascal Cotte conseguiu recuperar essa versão.
A paisagem atrás da Mona Lisa do Louvre é real: o local foi identificado recentemente pela pesquisadora Carla Glori e pelos arquitetos Angelo e Davide Bellocchi como um panorama real visto de uma janela do Castello Malaspina dal Verme. A edificação está situada na cidade de Bobbio, na região da Emilia-Romagna, no norte da Itália. Portanto, próximo de Milão, onde Leonardo da Vinci viveu do ano de 1482 até 1499, trabalhando para o duque de Milão, Ludovico Sforza.
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FICHA
Mona Lisa e seus mistérios
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Autora: Beatriz M. Mikusinski Zawislak
Editora: AGE
Páginas: 118
Preço: R$ 98,00 (impresso) R$ 44,50 (eBook)
Beatriz Zawislak
Autora
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Por que decidiu escrever um livro sobre a Mona Lisa?
No prefácio do meu livro, conto que vivi em Paris (devido a um intercâmbio científico) de agosto de 1979 a agosto de 1980. Foi um tempo proveitoso, não só para a minha atividade no ensino da Física, mas também para “mergulhar” na cultura e na arte dessa fantástica cidade, sede do Louvre, o proprietário da icônica Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Contudo, o que desencadeou o meu interesse pela Mona Lisa foi o livro Roubaram a Mona Lisa, de R. A. Scotti, editado em 2009 pela L&PM, que me levou à pergunta: por que uma obra de arte nos fascina e, em especial, a Mona Lisa de Da Vinci? Para responder a esta pergunta, fui lendo livros e acumulando informações. A seguir, decidi organizar o meu dossiê de informações num ensaio, que é o meu livro.
O livro constata que existem três Mona Lisas. Poderia contextualizar como chegou a cada uma delas?
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Tudo começou quando procurei informações sobre o ano em que Leonardo começou a pintar a Mona Lisa do Louvre. Fui fazendo perguntas, as quais me levaram à existência da Mona Lisa de Isleworth e à existência de um “retrato oculto” sob a Mona Lisa do Louvre. Inicialmente, descobri que entre 1504 e 1505, ao visitar Leonardo, enquanto este pintava o retrato, o então jovem pintor Rafael Sanzio desenhou um retrato do que vira no ateliê do mestre Da Vinci: uma Lisa jovem, com o cabelo preso para trás e um esboço de paisagem atrás de si. Logo, teria Da Vinci feito uma outra versão da Mona Lisa?
Ao buscar respostas para a existência de uma possível segunda versão da Mona Lisa, cheguei ao site da Mona Lisa Foundation, gestora de uma pintura conhecida como Mona Lisa de Isleworth. Esta foi apresentada ao mundo em 2012 (com provas científicas!) como a primeira versão da Mona Lisa pintada por Da Vinci. E, nessa versão, a modelo Lisa é jovem, com os cabelos soltos como os da Lisa da versão do Louvre e com uma paisagem que é um simples esboço, bem semelhante ao desenho de Rafael. Mas, se nenhuma das duas Lisas (a do Louvre e a de Isleworth) apresenta um penteado como o do desenho de Rafael, então, ou Leonardo mudou o penteado após a visita de Rafael, ou deixou um “pentimento” (isto é, um arrependimento, como se diz em italiano) sob a pintura.
Pesquisando, cheguei à existência de um Retrato Oculto, descoberto e recuperado pelo cientista francês Pascal Cotte sob a Lisa do Louvre, no qual vê-se uma Lisa jovem, com um penteado como no desenho de Rafael, porém com uma paisagem igual à do Louvre! Para resolver o enigma da gênese da Mona Lisa, desenvolvi sete conjecturas concatenadas.
Qual a sua conclusão sobre a importância da Mona Lisa para a humanidade?
Certamente, esta pergunta refere-se à Mona Lisa do Louvre, que representa um “ponto de giro” na arte, pois: 1) apresenta o retrato de uma mulher vestida de um modo não habitual, sem penteado sofisticado, sem joias, quase como uma deusa grega, com um manto no ombro esquerdo; 2) apresenta uma mulher de frente e encarando o espectador com um olhar meigo, um tanto materno; 3) as feições da modelo são como feitas de “carne viva”, graças à técnica do sfumato (pintura esmaecida, como que “enfumaçada”) desenvolvida por Da Vinci; 4) não era usual, na época, que um retrato contivesse uma paisagem como parte da pintura e talvez fazendo parte da sua narrativa, como eu discuto no final do livro. Sem dúvida, a Mona Lisa é a obra de arte mais discutida e a mais copiada.
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