Uma brincadeira comum nos meus tempos de guri, entre as décadas de 50 e 60, eram as brigas dos mocinhos contra os bandidos. Imitávamos os heróis das revistas em quadrinhos, nossa leitura predileta.
Nessas revistas apareciam grandes heróis como Zorro, Billy The Kid, Bufalo Bill, Cavaleiro Negro, Durango Kid e Tarzan, dentre outros. Eles sempre venciam os bandidos nos tiroteios que aconteciam nas cidades do Texas. A ordem era mantida pelo xerife e seus auxiliares.
O nosso cavalo era uma taquara, em cuja ponta se amarrava uma corda que servia de rédea. Na cintura usávamos revólveres de brinquedo. A gurizada tinha entre 6 e 12 anos de idade. O cavalo mais veloz era aquele montado pelo guri mais rápido na corrida e com mais resistência.
Publicidade
No bar, construído com muito esmero, dava-se o encontro entre os mocinhos e os bandidos. Fatalmente acontecia o desentendimento, ocasionando sempre um tiroteio intenso. Os tiros eram emitidos por cada menino, escondido atrás de algum abrigo. Era “bam, bam, bam” que não acabava mais. Alguns usavam a espoleta, mas esta falhava muito e custava caro. Depois do tiroteio, o problema era saber quem matara quem, resultando em sérias discussões. Às vezes, terminava em briga.
O uísque tinha que ser forte, ensinava a revista. Usava-se o limão bergamota espremido no copo, sem açúcar. Era servido no balcão pelo dono do salão. O dinheiro usado eram as carteiras de cigarros vazias, sendo que as mais raras tinham maior valor.
Estas brincadeiras aconteciam num mato nos fundos da Escola Evangélica Osvaldo Cruz, de Trombudo. Os personagens eram todos guris da vila, filhos das pessoas que não exerciam a profissão de agricultor. Os filhos dos colonos tinham a obrigação de ajudar nas lides rurais.
Publicidade
Abrimos trilhas na mata em direção ao riacho, em cuja margem fizemos os famosos fortes dos índios apaches. Esses eram considerados gente malvada, ideia disseminada nas revistas americanas e nos filmes que rodavam nas cidades mais desenvolvidas.
Os colegas que representavam os índios, todos com o rosto e o corpo pintados, esperavam os invasores com arcos e flechas para se defenderem. Lançavam as flechas contra os inimigos, que se defendiam atrás das árvores ou outro abrigo. O perigo de causar algum ferimento grave era real.
O arco era confeccionado com um galho de árvore flexível, que não quebrasse. Devia ser resistente para poder encurvar. As flechas tinham uma ponta aguda e realmente machucavam se acertassem algum menino. Algumas vezes alguém se feria com a brincadeira, mas nada que um bom curativo feito pela mãe não resolvesse.
Publicidade
Depois das brincadeiras, todos confraternizavam. Índios, mocinhos e bandidos tomavam um gostoso banho no poço do Arroio Plums. Todos eram exímios nadadores e mergulhadores. Conhecíamos os poços do arroio de olhos fechados.
Os mais corajosos subiam numa árvore e saltavam de ponta-cabeça na água. Outros usavam os cipós: davam um grande impulso a partir do barranco muito alto e se jogavam na água. A alegria contagiava estes meninos inocentes do interior.
Publicidade
This website uses cookies.