Não bastassem a crise nacional e a estadual, advém agora, com indicativos de longa duração, uma crise internacional que agravará ainda mais as contas públicas, inibirá investimentos estatais e privados, e resultará em desemprego e não trabalho.
Aos gestores diretamente comprometidos e desafiados a encontrar soluções e amenizar dificuldades, a exemplo de prefeitos, governadores e o próprio presidente da República, pouco há a fazer. Se reiterada a continuidade da queda de receitas públicas, concomitante com o crescimento de despesas vegetativas, pouco resta a fazer senão realizar contingenciamentos e realocações de rubricas.
Para simplificar o entendimento e o significado desagradável dessas medidas, imagine uma renda familiar em queda e sem perspectivas imediatas de recuperação. Qual será a reação dos filhos mediante a redução da mesada? O sentimento familiar na diminuição das compras de supermercado? Na redução dos churrascos de fim de semana? E menos visitas ao salão de beleza?
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Tanto no governo Sartori quanto no atual, o Poder Judiciário tem se mostrado contrário às adequações do orçamento. Quer porque quer sua parte sobre a receita idealizada. Indiferente ao que foi de fato arrecadado. Mais: quer previsão e garantia para atender aumentos salariais. Pior: está indiferente ao agravamento do déficit público estadual e ao parcelamento de salário alheio.
E não está sozinho. Com variações de comportamento e opinião, tem a companhia do Ministério Público, do Tribunal de Contas e da Defensoria Pública. Nacionalmente não é diferente. Há dezenas de órgãos de estado que representam as elites corporativas e os mais altos salários e benefícios complementares. E com um aliado igualmente indiferente, o Congresso Nacional.
Em resumo, trata-se de um absurdo conjunto de privilégios, constitucional e pomposamente nominados de direitos adquiridos. Quando ameaçados em seus ganhos, cinicamente afirmam que se trata de uma lesão ao estado democrático de direito.
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Entre dezenas de exemplos de escárnio e desprezo com os quais os brasileiros convivem desde sempre – antigamente de parte dos senhores coloniais e escravagistas, e atualmente a cargo das elites corporativas, a recente manifestação do procurador de justiça do estado de Minas Gerais é a consolidação de nossa tragédia principal.
Refiro-me àquele sujeito que afirmou que 24 mil reais líquidos mensais são um “miserê”. Não pense que se trata de uma opinião isolada. O comportamento intransigente e reivindicatório das corporações comprova que é um sentimento comum. Querem mais e mais.
Ora, ora, estado democrático de direito? Conta outra. O maior “miserê” brasileiro é ético. É da falta de vergonha e pudor das elites corporativas.
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