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Militar assume interinamente no lugar de Teich

Antes de completar um mês à frente da pasta, o oncologista Nelson Teich pediu demissão do Ministério da Saúde nesta sexta-feira. O general Eduardo Pazuello assumiu interinamente. O presidente Jair Bolsonaro vinha discordando das diretrizes de Teich e já declarou que não abre mão de um ministro que avalize o uso da cloroquina – remédio cuja eficácia contra o coronavírus não é comprovada. Na quinta-feira, Bolsonaro havia dito que iria “exigir” do ministério a adoção de um novo protocolo indicando o uso da cloroquina para pacientes em estágio inicial da doença.

Outros desentendimentos geraram desgaste, como o decreto assinado por Bolsonaro, sem avisar Teich, que ampliou as atividades essenciais no período da pandemia e incluiu salões de beleza, barbearias e academias de ginástica. Os detalhes do plano com diretrizes para a saída do isolamento seria pauta de uma coletiva na última quarta-feira, cancelada por falta de consenso no assunto. O presidente defende uma flexibilização mais imediata e mais ampla.

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Na coletiva para se pronunciar sobre a saída, Teich agradeceu a Bolsonaro pela oportunidade e elogiou a dedicação da equipe. “A vida é feita de escolhas. E hoje eu escolhi sair. Eu aceitei o cargo porque achava que poderia ajudar o Brasil e ajudar as pessoas”, disse. Ele não respondeu quando perguntado sobre o motivo da saída. Porém, afirmou que deixou um plano de combate ao coronavírus aos governadores e secretários estaduais. Segundo Teich, um programa de testagem também está pronto para ser aplicado.

REPERCUSSÕES EM DIFERENTES ESFERAS

Minutos depois do anúncio de Teich, o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, reagiu à notícia no Twitter: “Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé!” Mandetta incluiu no tuíte a #ficaemcasa. Ao deixar o ministério em meados de abril, ele admitiu que a sua defesa da estratégia de isolamento social foi um dos motivos que levaram o presidente Bolsonaro a demiti-lo. O exministro Sergio Moro, que também acabou de deixar o governo, comentou no Twitter: “Cenário difícil, em plena pandemia, 13.993 mortes até ontem. Números crescentes a cada dia. Cuide-se e cuide dos outros.”

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A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, acredita que Teich teve posições técnicas, mas não aplicou medidas abrangentes para todo o país. “O ministro não conseguiu mostrar exatamente qual é a política nacional de enfrentamento à pandemia, principalmente em questões sobre o distanciamento social. De outro lado, encontramos dificuldades em ter nossas expectativas atendidas, como na habilitação de novos leitos de UTI”, declarou. Para a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Maria Schilling Ranieri Muratore, uma nova troca no ministério é prejudicial para o andamento das estratégias de combate ao coronavírus. “ É uma lástima. Trocas consecutivas em um período conturbado são prejudiciais no momento em que estamos vivendo”, resumiu.

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O governador Eduardo Leite se mostrou preocupado e disse que lamenta que o governo federal não tenha encontrado seu rumo para o enfrentamento do coronavírus. “Não houve sequer tempo para que fizéssemos uma avaliação do desempenho do ministro, uma vez que neste mês nós tivemos apenas um contato em uma reunião com os governos da região Sul e observávamos uma ação tímida e acanhada do Ministério da Saúde”, considerou. “É fundamental que o governo federal se alinhe e ajuste sua política pública na área da saúde, com equipes técnicas, com respeito à ciência e com muita integração aos entes nacionais”, complementou.

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Questionado sobre a renúncia de Teich, o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, se limitou a dizer que está ciente da alta no número de novos casos no Brasil e evitou fazer comentários específicos sobre a situação política no país. “É crucial que haja coerência e coesão na abordagem da sociedade e do governo, especialmente em grandes federações, onde as comunidades precisam ouvir uma mensagem consistente das lideranças em todos os níveis”, afirmou, durante coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça.

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