Regional

Migração, natalidade e pandemia: fatores que influenciaram o Censo 2022

Apenas seis dos 28 municípios do Vale do Rio Pardo registraram aumento no número populacional de acordo com o Censo divulgado neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em toda a região, foram contabilizadas 455.753 pessoas, exatamente dez indivíduos a menos se comparado com 2010, quando havia 455.763 habitantes.

Silvio Arend é economista e professor da Unisc

O que explica essa estabilização? Migração para outros municípios, baixa taxa de natalidade ou de mortalidade? Para compreender alguns aspectos do último levantamento do IBGE, a Gazeta do Sul convidou o economista e coordenador do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Silvio Arend, para fazer uma análise sobre os dados na região.

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Novas informações vão ajudar na análise

Dados das coletas do Censo de 2022, como faixas etárias dos habitantes, para onde foram e de onde vieram, devem ser divulgadas posteriormente e poderão esclarecer melhor o comportamento da população. Santa Cruz do Sul, por exemplo, ganhou cerca de 15 mil moradores, o que significa que eles vieram de algum lugar.

“Não foram só mais nascimentos que falecimentos, tem migração no meio para dar esse resultado. Lajeado teve quase 30% de crescimento, não nasceram tantas crianças, é um saldo positivo de migração, de pessoas que vieram de outros municípios. Informações da estrutura, faixa etária, origem e destino dos moradores são fundamentais para entendermos o que está acontecendo.”

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Natalidade menor indica tendência de estabilidade na população

O Censo do IBGE de 2022 apontou que o Rio Grande do Sul tem 10.880.506 habitantes. No levantamento anterior, de 2010, o Estado somava 10.693.929, isto é, um aumento de 1,74%. Silvio Arend aponta o comportamento em algumas cidades da região dos Vales: Estrela tem agora 32.183 habitantes, um incremento de 5,11% em relação a 2010; Lajeado está com 93.646 habitantes, aumento de 29,67%; Santa Cruz do Sul com 133.230 habitantes, elevação de 12,55%; Venâncio Aires soma 68.653 habitantes, aumento de 4,09%. Já Rio Pardo tem 34.654 pessoas, o que evidencia queda de -7,81%; Sobradinho tem 14.226, redução de -0,41%; e Mato Leitão, 4.859 habitantes, aumento de 25,95%.

Mapa mostra os dados em alguns dos municípios nos Vales do Rio Pardo e do Taquari | Arte: Fernando Barros

Os dados mostram que os municípios apresentam comportamentos muito diferentes. Na dinâmica populacional, conforme o economista, houve diminuição na natalidade. “Na década de 1960, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos; na década de 1980, eram quatro filhos; no ano de 2000, passou para 2,2 e agora, pelos dados do Censo, está em 1,62 filhos por mulher. Uma taxa de natalidade dessa ordem indica que estamos próximos do ponto de estabilização da população total.”

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Tal estabilização ocorre no momento em que a natalidade diminui e a expectativa de vida aumenta. O Rio Grande do Sul e a Bahia serão muito provavelmente, de acordo com Arend, os dois primeiros estados brasileiros a estabilizarem a população e, logo em seguida, experimentarem uma diminuição em termos absolutos. “Pelas projeções populacionais, espera-se não muito mais do que uma década para a estabilização da população gaúcha, algo por volta de 2035”, afirma o professor da Unisc.

Busca por oportunidades colabora para a migração

Se por um lado há estabilização da população por conta da dinâmica das sociedades no que diz respeito à diminuição do número de filhos, de outro, fatores socioeconômicos e ambientais influenciam os fluxos migratórios da população, como é observado em alguns municípios dos Vales que enfrentaram redução no número de habitantes. “Muito provavelmente isso se deve a fatores econômicos, como a busca por oportunidades de renda em municípios maiores, que mantiveram a dinâmica econômica”, observa o economista Silvio Arend.

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Há, também, a questão da dificuldade em manter os jovens no ambiente rural, fazendo com que aconteça o envelhecimento da população do campo. “Muitos filhos vão para a cidade, não voltam e os idosos estão morrendo. Há o esvaziamento do campo por conta de não ter sucessão, ou seja, não tem quem continue”, complementa Arend.

Visto que diversos municípios perderam moradores, alguns desses locais poderiam vir a desaparecer? O professor da Unisc não acredita nessa possibilidade. “Eu diria que é difícil e não apostaria em algo nesse sentido. Acredito que vão continuar existindo, vão ficar menores, vão encolher, mas não vão deixar de existir.”

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Próxima edição

Para o economista, o ideal é que o próximo Censo do IBGE seja realizado na periodicidade correta, ou seja, em 2030, para voltar a acontecer no início da década e poder dar sequência nos anos seguintes.

Pandemia

Além de o Censo não ter sido realizado no início da década, como é de praxe, a pandemia de Covid-19 influenciou os números – afinal, foram mais de 700 mil mortes no Brasil em três anos. “Foi algo nunca visto anteriormente, então impacta muito os resultados do crescimento da população. Não foram apenas idosos que faleceram; pessoas jovens, que ainda poderiam ter filhos ou crianças que nem chegaram na vida adulta, também morreram”, comenta Arend.

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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Guilherme Andriolo

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