LIECHTENSTEIN
(160 km2 , 38.378 habitantes)
No caminho íngreme que leva ao Castelo de Vaduz, residência dos Príncipes de Liechtenstein desde o século 12, fiz uma pausa para descansar e admirar a paisagem das margens do Rio Reno e da pequena capital, ao pé da montanha. Perto de mim, uma senhora de idade avançada observava os galhos secos de uma árvore na beira da trilha. Depois de alguns comentários sobre a beleza do lugar, ela disse: “Está vendo essa árvore desprovida de folhas? Por vezes é assim que me sinto. Quando chegamos a uma certa idade, tudo o que temos e boa parte do que somos passa a ser gradualmente extraído de nós”. Vendo que eu parecia um pouco atônito com o que ouvia, ela sorriu e completou: “Não se preocupe, eu não me sinto mal com isso. Me sinto leve e aliviada”. Nunca esqueci daquele sotaque suíço em “leicht und erleichtert”.
Prensado entre Suíça e Áustria, no coração dos Alpes, o principado é o quarto menor país europeu, ou o menor se considerarmos aqueles que não são cerca dos por um único vizinho. Única monarquia de língua alemã, a nação saiu da falência no pós-guerra – para pagar suas dívidas, teve que vender até uma coleção de tesouros artísticos, incluindo uma pintura de Leonardo da Vinci – para se tornar um importante centro financeiro e única nação do mundo com mais empresas registradas do que habitantes. Destino popular para esportistas de inverno e exploradores de trilhas alpinas, a monarquia constitucional hereditária é um estado independente desde que o Príncipe Hans-Adam I de Liechtenstein comprou o território do Sacro Império Romano, no início do século 18.
ANDORRA
(468 km2 , 77.100 habitantes)
Famoso pelas estações de esqui, pela natureza das montanhas dos Pireneus e por ser um paraíso fiscal, o Principado de Andorra é outro microestado europeu, apertado entre Espanha e França. Fundado por Carlos Magno no século 8, o país tem, desde 1278, dois chefes de estado. Pela tradição, os copríncipes são o arcebispo católico da Diocese de Urgel, na Espanha, e o presidente da França, o que faz dela a única nação cujos chefes de estado são escolhidos por cidadãos estrangeiros: respectivamente, o papa católico e o povo da França. O sistema de governo é o parlamentarismo unicameral, que, até 1973, não permitia a eleição de mulheres.
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Não vi grandes atrativos em Andorra-a-velha, a capital mais alta da Europa, a 1.023 metros acima do nível do mar. Contudo, a paisagem montanhosa do país é magnífica. O principado, que tem a mais alta expectativa de vida do mundo (81 anos), adotou o catalão como língua oficial e, ainda que use o Euro como moeda, não faz parte da União Europeia. Somente 38% de sua população tem nacionalidade andorrana.
Voltando a minha conversa com a simpática senhora de Vaduz, que acabou se alongando, fiquei fascinado com o que me contou sobre seu trabalho, a família, as realizações e os sonhos que ainda nutria. Disse-me no final que continuava com muitas dúvidas, e que ainda aprendia muito com elas.
O aperfeiçoamento pessoal se dá muitas vezes em duro e intenso combate consigo mesmo. Fico sensibilizado com histórias de vida como aquela, de pessoas que souberam explorar seu potencial, e nas quais se percebe um ideal, um sonho, por vezes um talento extraordinário e, invariavelmente, muito trabalho, sacrifício e persistência. Procuro um traço comum nessas histórias, que contêm obstinação, autoconhecimento, autoconfiança sem arrogância, dedicação e comprometimento. No final, não há uma característica única, mas talvez o que melhor sintetize essas biografias seja a autenticidade. Viver sem receita pronta, como autor da própria história e com a coragem de, pela ação, decidir em cada momento que tipo de pessoa se quer ser.
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