Qual a posição mais importante dentro de um time de futebol? Se você fizer essa pergunta ao Google, a resposta será o meia de ligação, já que é responsável pela criação de lances ofensivos. Há, ainda, quem cite o goleiro, afinal, a defesa também é fundamental para garantir a vitória. O que a maioria esquece na hora de comemorar o gol ou lamentar a derrota é o trabalho por trás daqueles 90 minutos decisivos.
A preparação das equipes passa sempre pelas mãos de profissionais “invisíveis”, mas tão fundamentais quanto um grande artilheiro. E a mulherada chegou nesse lugar também. Quando se fala em futebol feminino, o nome que vem à cabeça é Marta. Só que a atuação de mulheres no futebol não se limita a isso – e a nada, na verdade. Michele Kanitz é exemplo disso.
LEIA TAMBÉM: Desmistificar que o luxo é inalcançável
Publicidade
A santa-cruzense nascida em Cerro Alegre Alto é, atualmente, uma das “cabeças pensantes” da Seleção Feminina da Bolívia. Analista de desempenho e auxiliar técnica, cabe a ela entender e alavancar o potencial das atletas, além de estudar o time adversário, na busca pelas principais vulnerabilidades. Michele ainda é instrutora da Conmebol e tem licença A da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Sonhando em trabalhar com esporte desde o ingresso na faculdade, Michele Kanitz começou a realizar esse desejo há cerca de uma década, quando se envolveu diretamente com o futebol. As habilidades de comunicação e liderança à beira do campo fazem diferença dentro das quatro linhas. Exemplo disso foi a conquista do acesso do Ipatinga para a série A do Campeonato Mineiro, no ano passado.
LEIA TAMBÉM: Elas: décima oitava edição destaca a perseverança feminina na busca pelo sonho profissional
Publicidade
O brilho no olho ao falar sobre o feito denuncia a paixão de Michele pelo futebol. Outro indício de que ela trabalha com o que ama é a coleção de camisetas – uma delas, do Santos, autografada pelo Pelé – e de troféus, que está em exposição na casa dos pais, em Vera Cruz. Michele, atualmente, mora em La Paz, na Bolívia.
Apesar da certeza sobre querer trabalhar com futebol, o caminho não foi totalmente certeiro. A primeira escolha dela foi pela Medicina, mas, como somente um semestre seria focado no desporto, optou pela Educação Física, e por se dedicar integralmente ao esporte. Logo no segundo ano da faculdade, começou a estagiar nas categorias de base do Santa Cruz e, desde então, não desviou mais do plano traçado.
“Eu entrei de verdade no mercado e entendi o que realmente era o futebol”, disse. A partir dessas oportunidades, focou em realizar cursos da CBF. Começou com a licença C, depois a B e, hoje, ostenta a licença A, que permite a ela trabalhar na comissão técnica de qualquer clube brasileiro. “Só falta a Pro ainda, que é a mais alta do Brasil”, detalhou. Além dessas formações, ela buscou aperfeiçoamento principalmente relacionado a tática de jogo, conhecimento essencial, segundo Michele, para “entender as nuances de cada partida”.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Programa de incentivo já beneficiou mais de 10 mulheres desde novembro
Para o futuro, Michele quer ser referência dentro e fora do Brasil. “Eu não sei quanto tempo isso vai levar, mas eu estou trabalhando a cada dia para ser a melhor profissional possível”, projetou. O objetivo é claro e o que precisa ser feito para isso também. “Vou quebrar todas as barreiras que se colocarem na minha frente.”
“Eu conquistei o respeito que mereço”
O primeiro passo em relação à consolidação do objetivo profissional de Michele Kanitz já foi alcançado. É ela quem afirma isso: “Hoje, há mais de dez anos trabalhando com o futebol, eu consegui montar a minha base, que é ser respeitada como profissional.”
Publicidade
Apesar do avanço da representatividade feminina no futebol, o ambiente ainda é predominantemente masculino. “No início da carreira, foi extremamente desafiador ser mulher. O olhar nunca era para a figura profissional, mas sim para a aparência física”, recordou. Segundo contou, Michele passou por muitas situações “desagradáveis”. “As pessoas não tinham respeito.”
Foi necessário que ela aprendesse a lidar com o preconceito. “Se eu disser que não houve situações em que cheguei em casa e chorei, vou estar mentindo, porque eu passei por muito disso”, lamentou. Em alguns momentos, teve vontade de desistir. Contudo, o sonho de trabalhar com futebol sempre foi maior.
LEIA TAMBÉM: Sthephane: de musicista iniciante a maestrina
Publicidade
Durante o curso para tirar a licença A da CBF, dividiu sala com técnicos reconhecidos nacionalmente como Fernando Diniz, Tite, Dorival Júnior e outros. “E eu era a única mulher. Eu passei a vida inteira sendo a ‘única mulher’”, disse. Foi nesse ambiente, que ela se deu conta da profissional que havia se tornado. “Eu conquistei o respeito deles, o respeito que eu mereço.”
Esse despertar deu a ela a confiança necessária para não baixar a cabeça diante das “situações desagradáveis”, que não deixaram de existir. “O que acontecia no início: se alguém fazia uma piada, eu demonstrava fraqueza, porque não conseguia rebater. Hoje, eu não deixo o outro terminar a piada, já consigo ser elegante e colocar ele no devido lugar. O meu olhar já intimida”, afirmou.
Desde 2018, uma das frentes em que Michele Kanitz atua é junto à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Como instrutora, ela é convocada a dar aulas sobre análise de desempenho – teoria e prática -, conforme as necessidades de cada país. O objetivo dessas capacitações é desenvolver o futebol.
Nesse sentido, outra função dela é a análise tática em competições como a Libertadores Feminina e a Copa América. Todo o conteúdo produzido a partir desse estudo é transformado em livros disponibilizados pela Conmebol. Michele também aceita convites de universidades para dar aulas e palestras sobre o esporte e cursos de formação.
LEIA TAMBÉM: Naturalidade é a tendência para os cabelos em 2023
Nos clubes, costuma analisar a própria equipe, conforme o modelo de jogo proposto pelo treinador. Também se dedica a observar o adversário – de forma individual e coletiva -, procurando pontos fortes e outros a serem explorados, para que se defina uma estratégia de jogo vencedora. Tudo isso é aplicado nos treinamentos, momentos em que ela intervém de forma imediata, visando ao melhor resultado possível.
Formação e carreira
Michele Kanitz tem 31 anos. Ela é graduada em Educação Física pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Também é especialista em Pesquisas e Estudos em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa.
Entre os clubes em que trabalhou, destacam-se a Seleção Equatoriana, Ipatinga, Inter de Limeira, Guarani, Metropolitano, Corinthians e Santa Cruz. Ainda foi treinadora do time feminino da Ferroviária.
No Instagram ela está como @michelekanitz
LEIA OUTRAS NOTÍCIAS DO CADERNO ELAS
Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!