Categories: Ruy Gessinger

Meu pai e eu (I)

Não que eu queira imitar nosso brilhante colunista Clóvis Haeser, mas nada obsta a que me inspire nele e em suas belas crônicas.

Meu pai tinha um armazém na Thomaz Flores, 876; nossa família morava na casa ao lado. Desde que me conheço por gente eu ajudei nas lides domésticas e, já mais taludinho, no comércio de meu pai. Lembro-me do meu orgulho quando pela primeira vez consegui carregar sozinho um saco de farinha “Donângela” de 25 quilos. Além de um caminhão Chevrolet verde, tínhamos uma caminhonete Dodge azul. Com esta fazíamos entrega de produtos pela cidade e interior. O pai era representante da Coca-Cola, que perdia feio em vendas para a Pepsi. Os engradados eram de madeira com uma fita metálica. Muitas vezes colegas de colégio ficavam bebericando algum refrigerante no Quiosque da praça enquanto eu carregava os engradados para dentro do bar do senhor Antelmo Emmel.

Com o caminhão verde muitas vezes acompanhei meu pai até Porto Alegre para trazer uma carga de refrigerantes. Saíamos às 4 da manhã em direção a Rio Pardo, atravessávamos o Jacuí de balsa, dali a Pantano Grande e depois direto a Guaíba. Tudo estrada de chão. Em Guaíba havia um serviço de barcas que nos deixava ali onde hoje é a Praia de Belas. Comíamos qualquer coisa e voltávamos a Santa Cruz já de noite.

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Muitas vezes acompanhei meu genitor na busca de produtos do interior. O roteiro de que mais gostava era Linha Antão e Monte Alverne. Na primeira havia a casa comercial do senhor Edwin Sulzbacher. Meu pai estacionava ali no fim  da tarde. Ele e Edwin ficavam bebendo cervejas, comendo pescada em lata, arrotando e maldizendo o Getúlio. Enquanto isso eu brincava com o Rui, que tinha minha idade. O salão de baile era nosso campinho de futebol.

De vez em quando o pai me convidava para o acompanhar em pescarias lá para os lados de Encruzilhada e Rio Pardo. Sempre ia uma turma de amigos. Me lembro dos nomes do senhor Menezes, que era “guarda-livros” e do senhor Rambo, comerciante. Este, quando eu tinha 12 anos, me ensinou a atirar com sua arma calibre 12, dois canos. No primeiro tiro caí sentado, mas nunca perdi o fascínio por armas.

Ocorre-me outra situação que hoje pode parecer estranha. Quando íamos à missa na hoje catedral, as mulheres ficavam do lado esquerdo e os homens do direito. Mulheres casadas usavam véu preto; as demais, branco. Assim, eu ficava com meu pai e minhas irmãs com a mãe. Na hora do sermão muitos homens saíam para conversar e fumar; depois voltavam.
Volto ao papo semana que vem.

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