Em nossa comunicação do dia a dia, utilizamos inúmeras figuras de linguagem sem nos darmos conta disso. Elas provocam efeitos de estranhamento e chamam a atenção sobre a mensagem, que através delas se enriquece. Remetemos de forma indireta para aquilo que queremos expressar. Se dizemos, por exemplo, que “os campos do Rio Grande estão cobertos de louros cabelos, que logo se tornarão pão”, é claro que esses louros cabelos não podem ser tomados no seu sentido literal. Quando ouvimos que o prefeito tem os pés no chão, entendemos que age com sensatez e equilíbrio, que não coloca a carroça na frente dos bois, que é outra figura de linguagem.
Quem passou pela escola, em algum momento se deparou com uma lição que tratava de metáfora, eufemismo, hipérbole, ironia, sinestesia, entre outras figuras. Nas gramáticas tradicionais, elas geralmente aparecem no último capítulo, parecendo ter importância menor. Em várias situações, quando o estudante está prestes a sair, tem breve contato com elas, o que significa uma grande perda de oportunidade de ter escrito textos muito mais elegantes e atraentes.
Em muitas figuras, diria que em quase todas, dizemos ou escrevemos uma coisa para significar outra. Na frase “André não é o melhor exemplo de honestidade”, somos levados a entender que ele é desonesto. A figura da ironia nos faz perceber o contrário do que afirmamos. Platão e Fiorin, em Lições de texto: leitura e redação, exemplificam: “Grandes obras fez o Governador: duplicou pontes e rodovias, ampliou as vagas nas escolas públicas e multiplicou a discórdia em seu partido”.
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Há figuras que encantam por seu esplendor. A sinestesia, por exemplo. Nela se associam, se misturam sensações de diferentes órgãos de sentido. Seu doce olhar me fascina, um exemplo para ilustrar. Ou estes versos de Alphonsus de Guimaraens: “Nasce a manhã, a luz tem cheiro… Ei-la que assoma/ Pelo ar sutil… Tem cheiro a luz, a manhã nasce./ Oh sonora audição colorida do aroma!”
Se há algum arrependimento na minha vida de professor, é as vezes em que ensinei mas não dizia ou não sabia para que isso serviria. Um dia me dei conta de que a metonímia se manifestava em situações concretas de nosso cotidiano. A metonímia, que utilizamos às fartas em nossa comunicação, consiste em dizer uma coisa por outra com a qual mantém relação. Em “ganhar o pão com o suor do rosto”, por exemplo, o pão está em lugar de tudo o que nos sustenta e o suor significa o trabalho, a luta pela sobrevivência. Em “Flávio vendeu cem cabeças de gado”, é claro que cabeça está no lugar da rês inteira. É um exemplo da parte pelo todo.
Transferindo isso para a nossa vida cotidiana. Quando paramos em um restaurante e nos deparamos com um banheiro imundo, imaginamos que a cozinha não deva ser diferente. Tomamos a parte pelo todo. Assim, pratos mal lavados, talheres e toalha sujos nos fazem desistir. Quando visitamos alguém e já na entrada vemos um jardim bem cuidado, deduzimos que ali devem morar pessoas caprichosas, deve existir esmero em tudo. Quando entramos numa repartição ou numa loja e somos bem recebidos pelos atendentes, levamos a melhor imagem e certamente voltaremos. O contrário também.
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Trazendo de Armindo Trevisan, fica bem dar sentido novo às palavras da tribo.
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