Os resultados do 1º turno das Eleições Gerais de 2022 apresentaram cenários diferentes do que os que estavam sendo projetados pelas pesquisas eleitorais. Tanto no Rio Grande do Sul como em outros estados e a nível federal, resultados foram distintos daqueles que muitos institutos apontavam.
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No Rio Grande do Sul, por exemplo, Onyx Lorenzoni (PL) alcançou 37,50% dos votos válidos, enquanto Eduardo Leite (PSDB), apontado como favorito durante toda a campanha, travou uma batalha voto a voto com Edegar Pretto (PT) para ir ao segundo turno. Na disputa pela presidência, as pesquisas apontavam uma diferença maior do que a vista nas urnas. No resultado final, Lula (PT) teve 48,43% dos votos válidos, e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), 43,20%.
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À frente de um dos institutos de pesquisa mais tradicionais do Rio Grande do Sul, o Methodus, o pesquisador José Carlos Sauer acredita que o descompasso entre o cenário apontado por levantamentos de intenção de voto e o resultado das urnas em vários cargos revela uma necessidade de alteração nas metodologias utilizadas pelas empresas.
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Confira a entrevista:
O que pode ter gerado os erros nas pesquisas eleitorais do primeiro turno?
Temos no Brasil em torno de 150 milhões de eleitores. Destes, 50 milhões não têm destinado voto a nenhum candidato. Ou votam branco/nulo ou não comparecem. Quando os institutos fazem os cálculos para definir o que chamamos de amostra – ou seja, quantas pessoas vamos ouvir, em quais segmentos e regiões –, o eleitor que não vai comparecer não é retirado, o que promove um desvio significativo. Isso tem sido observado por nós há mais tempo e é um cuidado que temos tomado na realização das pesquisas.
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Então, a metodologia das pesquisas precisa mudar?
Correto. É o que temos feito aqui há muito tempo. Se vocês tivessem me procurado na sexta-feira, eu diria que a maior probabilidade era de o Eduardo Leite não estar no segundo turno. Não foi uma surpresa a disputa que vimos nesse domingo, 2. Então, há de se questionar a forma como está sendo feito o trabalho e o que se estabelece como estratégia de pesquisa.
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No caso da eleição para o Senado, as pesquisas não apontavam a liderança de Mourão.
O que aconteceu foi que o eleitor que estava optando pela Ana Amélia tinha como segunda opção o Mourão. E quem optava pelo Mourão tinha como segunda opção a Ana Amélia. Nesse sentido, havia uma possibilidade de migração muito grande dos votos. Quando se percebe a possibilidade de vitória do Olívio Dutra, esse eleitor faz uma opção pelo Mourão e desidrata a Ana Amélia. Isso dá para ele esse crescimento praticamente na véspera da eleição. Por isso temos que olhar o que o eleitor apresenta como justificativa para o voto. Muitas vezes, olhamos apenas para a menção estimulada e tomamos aquilo como única verdade que a pesquisa está apresentando.
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Isso também aconteceu na eleição para governador?
40% dos eleitores do Eduardo Leite sinalizavam que podiam votar no Edegar Pretto. E é o que esse eleitor fez na reta final: abandonou o Leite e fez uma opção pelo Pretto, no sentido de conduzi-lo ao segundo turno. Na sexta-feira, eu já avisava algumas pessoas de que a probabilidade maior era de um segundo turno entre Pretto e Onyx.
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No caso da eleição presidencial, que deu a Bolsonaro um desempenho superior ao que estava sendo apontado, o senhor acredita no chamado “voto constrangido”?
Não é que haja um constrangimento do eleitor de declarar seu voto ao ser entrevistado em uma pesquisa. Antigamente, os nossos pesquisadores nas ruas abordavam as pessoas e as entrevistas eram concedidas. Hoje temos uma dificuldade enorme, porque o eleitor não quer. Como é um tema polêmico, que causa desconforto e ele não quer fazer o debate, ele é abordado e nega a entrevista. E esse entrevistado passou a ser uma quantidade significativa. Hoje a abordagem é muito mais exaustiva, porque eu tenho que falar com oito, dez pessoas para conseguir uma entrevista. E esses que não quiseram responder são automaticamente retirados da pesquisa. Ou seja, a metodologia está correta, mas não consegue chegar na opinião desse eleitor. Some-se a isso os ataques do meio político à instituição da pesquisa, que se estendem ao eleitor. Tive pesquisadores ameaçados durante a eleição, e não é algo que estamos acostumados a ver. Isso vai causando desvios e gerando um resultado diferente do que as pesquisas apontam.
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E quanto às pesquisas por telefone, que estão mais comuns?
São dois tipos de pesquisa por telefone. Em um deles, o entrevistador fala com o entrevistado. E precisamos compreender que não é a maioria da população que tem um telefone à disposição o dia todo para responder a uma pesquisa, em especial a população mais pobre. A pesquisa vai dar errado por isso? Não, mas é preciso contemplar esse desvio. O outro tipo é quando a pessoa atende o telefone e recebe uma gravação. Aí se distancia mais ainda, porque é preciso a adesão espontânea da pessoa, não há um convencimento. Imagina que tu estás dentro do ônibus, com muita gente e barulho, e recebe uma ligação. Veja como isso dificulta que o entrevistado compreenda o que está sendo entrevistado e que fique até o final, pois a tendência é que abandone. Isso também causa um desvio.
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