George A. Romero passou seus últimos anos desiludido com Hollywood. Tentava filmar, e não conseguia mais patrocínio – justamente ele, o pai dos filmes de zumbis. Não que os tenha inventado, porque já havia filmes de mortos-vivos nos anos 1940, mas não no seu estilo realista. Ele inventou o zumbi moderno e quem hoje se impressiona com “Walking Dead” é porque não viu direito “A Noite dos Mortos-Vivos”, o clássico de Romero, de 1968. Romero morreu neste domingo, 16, aos 77 anos, em Los Angeles, depois daquilo que sua família definiu como “uma severa batalha contra o câncer”.
No Dicionário de Cinema, Jean Tulard diz que “A Noite dos Mortos-Vivos” colocou Romero no interior do “restrito círculo dos mestres de horror”. E acrescenta que ele conseguiu tornar verossímil a velha história de ressuscitados graças ao “contexto neorrealista”. Mais que de horror, o filme é 100% político. Nos seus mortos-vivos, Romero conseguiu metaforizar a luta por direitos civis na ‘América’ dos anos 1960. Seu cinema foi sempre assim, político. E por isso ele criticava Hollywood. “Quando fiz Terra dos Mortos, e foi meu filme mais caro, o dinheiro não estava na tela. Só os charutos que Dennis Hopper filmava no set e foram incorporados ao custo da produção saíram mais caro que todo A Noite dos Mortos-Vivos. Hollywood inflacionou-se a si mesma”, reclamava.
Romero continuou historiando os EUA através dos mortos-vivos. “The Hungry Wives” (1973), “Zombie, Despertar dos Mortos” (1978), “Day of the Dead” (1986), “Terra dos Mortos” (2005) etc. A cada cinco ou dez anos ele voltava ao tema para, de alguma forma, refletir sobre o que se passava no país. Como diretor, porém, não se limitou a contar histórias de zumbis. Incursionou pelo cinema de vampiros, mas “Martin”, de 1977, está mais para sátira social, embora seja puro ‘gore’. Garoto de 17 anos pensa que é vampiro, mas como não tem caninos desenvolvidos usa lâminas de barbear para sangrar suas vítimas. E, como participa com frequência de um ‘late show’ na rádio de sua pequena cidade, vira a celebridade local.
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E Romero não parou por aí – em “Comando Assassino”, de 1988, macaco treinado para ser guia de um tetraplégico arrasta esse último a uma espiral de violência. Pior ainda – no sentido do horror -, foi seu experimento com o mestre italiano do ‘giallo’, Dario Argentino. Cada um dirigiu um episódio de “Dois Olhos Satânicos”, em 1990. No de Romero, “O Caso do Sr. Waldemar”, o cadáver de Harvey Keitel escapa do freezer para perseguir a mulher adúltera. Para quem curtia tanto emoções violentas, Romero, segundo a família, morreu pacificamente, ouvindo sua trilha preferida – a do clássico “Depois do Vendaval”, de John Ford, com John Wayne e Maureen O’Hara, de 1952. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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