Apesar da volta das chuvas ao Rio Grande do Sul, a estiagem que assola o Estado desde o final do ano passado ainda gera impactos na agricultura gaúcha e, consequentemente, no bolso do consumidor. Alguns itens, em específico, foram mais afetados e vêm apresentando preços mais altos nos últimos meses, como o tomate e a cenoura. A soja também sofreu efeitos negativos e, hoje, os mercados mostram que produtos à base do grão, como o óleo e a margarina, estão cada vez mais caros.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, explica que tais elevações de valores têm tudo a ver com a estiagem. “As perdas que acontecem no campo se transmitem para a cidade também. Estamos tendo uma perda importante no País inteiro, e o Brasil é o maior produtor de soja do mundo.” Na pesquisa de preços realizada pela Gazeta do Sul na segunda-feira, 28, por exemplo, o óleo de soja apresentou uma elevação de preço de 7,15% em relação a fevereiro. O produto, no mês passado, era comprado pelo preço médio de R$ 9,92 e atualmente sai por R$ 10,63.
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Segundo Luz, como o Brasil produz muita soja, a oferta mundial do grão diminui e os preços aumentam com as quebras na estiagem. “Por isso, somos tão incisivos sobre a importância de podermos fazer reservação de água, para aumentar a área irrigada no Estado e evitar perdas como as que estão acontecendo”, completa.
Dificuldades na agricultura refletem nos supermercados
Nos supermercados, os impactos são sentidos da mesma forma. O presidente do Sindigêneros Vales do Rio Pardo e Taquari, Celso Müller, comenta que o preço do tomate varia muito de acordo com a oferta. “Às vezes, inflaciona de 20% a 30% em 15 dias. Depois ele tem a tendência de diminuir de novo, e diminuindo vai aparecendo a oferta no mercado, porque é sazonal.” Quanto ao óleo de soja, com a queda do dólar e se a moeda se mantiver nesse patamar ou até diminuir, o presidente da entidade acredita que o preço do produto possa se estabilizar.
Mas não são só os alimentos que sofrem alterações em seus valores. A última pesquisa de preços da Gazeta, feita na segunda-feira e publicada na edição dessa terça, apontou que de oito itens de limpeza e higiene, seis registraram elevação de preço. O que ficou mais caro em março foi o xampu, que subiu 11,53%. Depois, o sabão em barra aumentou 7,84% em relação a fevereiro. Segundo Müller, nesta época, produtos de higiene costumam ter reajustes. “No início do ano é normal subir e depois, durante o ano, praticamente se estabiliza.”
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O proprietário da Redefort do Arroio Grande, Mauro Schwengber, afirma que o preço do quilo do tomate está em R$ 9,99. “O valor dobrou. Nosso preço já foi de aproximadamente R$ 4,00. E, na verdade, o tomate já chegou a custar R$ 13,90”, conta. Schwengber também sentiu a alta no preço da cenoura. “Já cheguei a pagar R$ 2,50 e, agora, cheguei a pagar R$ 8,00 o quilo. O colono que produz não tem como fazer milagre porque os insumos dobraram de preço.”
Cenoura
No Estado, o quilo da cenoura em janeiro custava R$ 4,26 e em fevereiro já estava em R$ 4,69. “A estiagem atrapalhou muito as lavouras”, comenta Antônio da Luz. “E temos notado aumento no preço de tudo: de comida, produtos de higiene, gasolina, conta de luz, e nossos custos de produção estão na casa de 50% mais elevados do que estavam 12 meses atrás”, ressalta o economista. “Também não sabemos se vamos ter fertilizantes neste ano, que estão mais de 200% mais caros.”
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Tomate, o carro-chefe, é o mais afetado
O produtor rural Clóvis Volmir Erdmann, de Linha João Alves, vende seus produtos na Feira Municipal do Bairro Arroio Grande. Segundo o agricultor, os itens mais afetados pela seca foram o tomate, a alface, a cenoura e a vagem. “O tomate está sendo vendido a R$ 7,00 o quilo e antes era vendido a R$ 5,00. Subiram os insumos, então fica mais caro conforme o nosso custo de produção. A vagem subiu, a cenoura também, mas não foi tanto quanto o tomate, que é nosso carro-chefe.”
Na feira, a cenoura é vendida por “molho”, e o preço está a R$ 4,00 na banca de Erdmann. Ele também destaca o grande aumento em fertilizantes. “A ureia tu compravas por R$ 60,00 a R$ 80,00, e hoje está em R$ 300,00 o saco.” O produtor complementa que depende do clima para fazer previsões sobre os próximos meses. “Vivemos do tempo. Essa última seca foi muito forte, pegou todo mundo. Estamos conseguindo produzir muito pouco, a planta não se desenvolve, ela queima”, conta o feirante.
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