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Mesmo com açudes secos, produtores mantêm boa qualidade de hortaliças

Na propriedade da família Pick, em Cerro Alegre Baixo, interior de Santa Cruz do Sul, nunca havia faltado água. Além de dois açudes que servem de reservatórios, eles mantêm um poço artesiano feito em pedra-ferro há mais de 40 anos, que serve para abastecer as casas e até irrigar mudas. Contudo, este vasto recurso hídrico está ameaçado com a forte estiagem no Estado.

Conforme o agricultor Roberto Pick, de 54 anos, o açude ao lado da casa precisou de manutenção. “Esse reservatório foi feito há cerca de 25 anos, nunca havia faltado água, é a primeira vez. Houve a necessidade de limpar e agora, com a seca, não temos mais nada”, lamentou. Nos fundos da propriedade ainda corre um arroio, agora fragilizado e quase sem forças para seguir seu curso.

Roberto planta junto com a esposa, Claudete Pick, 52 anos, 2 hectares de hortaliças, divididas entre couve, repolho, brócolis, couve-flor e alface. Para manter a produção, vendida semanalmente em feiras e mercados da região, o casal teve que buscar alternativas. A principal delas foi dosar a irrigação. “O ideal seria aguar mais vezes durante o dia. As hortaliças precisam de água. Hoje nós alternamos por área: em uma noite irrigamos em um lado, na outra, o outro. Só ligamos o sistema de noite porque, se colocar a água sob o sol quente, estraga a planta e perde o recurso”, disse.

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Pela primeira vez em 25 anos, açude situado ao lado da residência dos Pick está sem água. Situação exigiu nova estratégia de irrigação

Outra mudança adotada pelos produtores foi a preparação do solo. Anteriormente o casal utilizava o sistema de plantio direto, sem preparar o solo. Contudo, para este ano adotou o camalhão (pequenos morrinhos ao longo da lavoura). “Mexi a terra para ficar solta e manter mais a umidade no solo. Além disso, deixamos uma ‘sujeirinha’, um inço, nos pés da planta, porque protege o solo e mantêm a umidade”, ressaltou.

Essas estratégias têm surtido efeito e mantêm a boa qualidade dos produtos. Claudete relatou que ao comparar suas verduras com as de outros colegas de feira, que não têm a mesma estrutura de água, percebeu a diferença. “Por mais que o cenário seja ruim, a pouca água que temos está fazendo a diferença. Eles já não têm mais. A hortaliça, se não tem água, fica com as folhas duras, não vai ser saborosa e fica amarga. Além disso, nós aproveitamos para cultivar espinafre ao pé das outras plantas. Ele se aproveita da sombra, protege o solo do contato direto com o sol e se torna uma alternativa de renda.”

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A produtora ainda comentou que a família adotou por anos outras formas de irrigação. “Já tivemos o sistema de gotejamento, mas a planta não reagiu bem. Ela precisa de água em cima da folha.”

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“É um luxo ter água”
A família Pick deixou de plantar tabaco há 12 anos para se dedicar apenas às hortaliças. Pelo ciclo rápido, as plantas precisam de água para se desenvolverem e serem colhidas. Além disto, o recurso se faz necessário no preparo do solo. “Toda a semana temos que mexer na terra. Hoje, não tenho como me programar, tampouco pedir mudas. Com as chuvas na semana passada, aproveitamos para plantar. A lavoura sempre é incerta, planta-se sem saber se colhe”, disse Roberto. O produtor comentou que para o próximo ano o casal pretende adequar a produção com base no volume de água dos reservatórios.

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Para o consumo da casa e até mesmo para aguar as lavouras, Roberto e Claudete ainda contam com um poço artesiano de cerca de 4,5 metros que fica ao lado da casa dos pais, Hildor e Irene Pick, junto à propriedade. “Temos água encanada, mas não podemos perder uma riqueza dessas. É um luxo ter água. Essa é boa, natural, ótima para as plantas e também para o consumo”, garantiu ele.

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