Há poucos dias, o calendário de eventos marcou o Dia da Criança. Além dos negócios que movimentam esse dia especial, a data sugere que se façam outras considerações. É que crianças e dinheiro é uma combinação cada vez mais precoce. Um belo dia, sem que os pais ou responsáveis tivesse se preocupado com isso, a criança que mal consegue articular algumas palavras ou frases mas que é curiosa por natureza e presta atenção em conversas e situações, entende que existe dinheiro ou alguma ferramenta, sabe quem os tem e que com eles é possível comprar coisas coloridas, divertidas e gostosas. É o momento, então, de acordo com a maturidade da criança, começar a educação financeira.
Uma das maneiras, então, de introduzir a criança no mundo do dinheiro ou das ferramentas que o representam – cartões, celulares etc. – é através da mesada. Trata-se de uma quantia em espécie ou em cartão que os pais ou responsáveis dão por mês, quinzena, semana ou até diariamente, dependendo de cada situação, aos filhos ou enteados para atender a determinados gastos, previamente negociados e estabelecidos. Levando em conta a renda familiar e o local onde mora, o valor deve ser estipulado de acordo com a faixa etária da criança.
- de 3 a 5 anos: R$ 10,00 por semana;
- dos 6 aos 10 anos: R$ 2,00 multiplicado pela idade da criança por semana;
- dos 11 aos 18 anos; o valor pode ser dado por mês e deve servir para algumas despesas específicas como lanche no colégio, ônibus, baladas, viagens com amigos etc.
A jornalista de economia e finanças pessoais, Mara Luquet, escreveu em artigo de 13 de outubro, que, de acordo com estudos dos professores Sara Markowitz e John Tauras, de universidades americanas, há uma relação significativa entre o tamanho da mesada e o uso de maconha, cigarro e álcool por adolescentes americanos. Segundo o estudo, cada US$ 100 ao ano adicionais na mesada correspondem ao aumento de 0,45 pontos percentuais na probabilidade de o adolescente fumar maconha; 0,62 para o cigarro; e 0,96 pontos percentuais para a bebida alcoólica. No Brasil não se tem estudos da espécie, mas os percentuais talvez possam servir de referência para pais e responsáveis de crianças e jovens.
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A função principal da mesada é ensinar a criança ou o jovem a preparar e cumprir um orçamento. Isto é, a mesada existe para treinar o hábito financeiro de fazer dinheiro, gastar e poupar desde pequeno. Somente entregar o dinheiro para o filho ou enteado, dizendo que é mesada, ainda não é educá-lo financeiramente. Parece mais uma forma de livrar-se da chateação de ter que alcançar algum dinheiro, a toda hora. É importante saber que ao decidir pela mesada, os pais ou responsáveis precisam orientar e acompanhar a criança e adolescente em relação ao uso do dinheiro. Faz parte dessa orientação, a recomendação para que a criança e adolescente poupem uma parte da mesada para realizar algum sonho maior e, também, doem para alguma finalidade social.
Ao dar mesada aos filhos ou enteados, muitos pais ou responsáveis tem cometido alguns erros que podem fazer com que o efeito seja o contrário do que se está pretendendo. Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira, cita alguns:
- Desequilíbrio: a criança não deve guardar todo o dinheiro para realizar sonhos; ela pode ficar obsessiva com o dinheiro, tornando-se avarenta no futuro;
- Violação: usar o dinheiro guardado pela criança para pagar alguma conta da casa;
- Ruptura: nunca antecipar a compra do objeto para o qual a criança está guardando o dinheiro; ela pode achar que não precisa esforçar-se para conseguir as coisas que deseja;
- Permissão: se a criança gastou logo a mesada, não complementar o valor; ela precisa aprender a vivenciar as consequências de seus atos;
- Desmedida: a mesada não deve ser usada como prêmio pela realização de trabalhos domésticos ou notas boas na escola, nem ser suspensa ou retirada como forma de castigo;
- Remuneração: em complemento ao item anterior, a mesada não é salário;
- Sonegação: não dar exemplo errado para os filhos, negociando uma compra sem nota fiscal em troca de desconto.
Muitos pais ou responsáveis pensam que ao falar sobre dinheiro com os filhos poderiam estar sobrevalorizando o dinheiro. É evidente que a prioridade de nossa vida não pode ser o dinheiro. Entretanto, se não lhe dermos atenção suficiente, cedo ou tarde, nossas confusões financeiras vão roubar nossa energia e tempo que deveriam ser usados para ir atrás de objetivos mais importantes que o dinheiro. Como alguém já disse, “o dinheiro não aceita desaforo”. E uma boa educação começa em casa, inclusive quando o assunto é finanças.
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