Nesta quinta-feira, 12, feriado nacional em homenagem à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, comemoramos também o Dia das Crianças. Depois do Natal e do Dia das Mães é a data de maior movimento para o comércio. Já para os pais, responsáveis ou familiares, o problema ou desafio maior, às vezes, não é tanto saber o que comprar de presente para a criança ou jovem – eles já escolheram -, mas outras questões, como o custo financeiro do objeto desejado e até dúvidas se aquele item é apropriado, ou não.
- Chantagens – quem já não passou por alguma verdadeira chantagem emocional de crianças e jovens de sua relação? Muitas vezes, o pedido para ganhar determinado presente vem seguido de frases do tipo “todo mundo tem e só eu não…”; “eu prometo que faço isso ou não faço mais aquilo” ou, então, mais dramático ainda, “nunca mais vou pedir nada…”.
- Influências – a causa dessa dificuldade é, de um lado, ser difícil para as crianças e jovens não se deixarem influenciar pelos comerciais, vitrines, anúncios, redes sociais e pelas galeras – da escola, curso disso ou daquilo, grupo de dança, esportes etc – em que sempre aparece alguém com alguma novidade, despertando o desejo entre os colegas de ter algo igual. De outro, os próprios pais ou responsáveis que, sentindo necessidade de compensar eventual ausência – involuntária, necessária ou por desleixo mesmo – ou não sabendo como driblar as chantagens emocionais de seus dependentes, acabam cedendo.
- Dificuldades de abrir o jogo – nos dias de hoje, é bastante comum pais ou responsáveis conversarem com os filhos sobre os mais diversos assuntos, menos sobre dinheiro. Um dos motivos é que também não aprenderam porque, com seus pais, “dinheiro não era assunto de criança”. Outro, os próprios pais e responsáveis tem dificuldades de lidar com o orçamento, muitas vezes escondendo e enfrentando problemas financeiros. Os pais compraram um carro novo, por exemplo, mas não mostram aos filhos o financiamento nem as dificuldades que, eventualmente, enfrentam para pagar as parcelas do financiamento. É que dinheiro representa poder e, portanto, falar sobre dinheiro e, pior ainda, abrir as contas da família – quanto entra de salário ou renda, quanto e onde é gasto etc – pode significar abrir mão desse poder ou até perder o comando.
Por ser o mês do Dia das Crianças, a época pode ser aproveitada para começar a falar sobre dinheiro para as crianças e jovens. A estratégia é sentar com elas e compartilhar as principais informações do orçamento atual, alguns conceitos (preços, consumo, crédito, poupança, administração dos recursos etc), sempre respeitando a idade delas e a capacidade de entendimento. Deixar de falar abertamente sobre o tema, esclarecendo limites ou, até, dificuldades pontuais que a família esteja passando, pode deixá-las mais inseguras porque, espertas como são, elas já devem ter percebido que alguma coisa não vai bem.
- O exemplo – a melhor forma de ensinar os filhos a lidar com o dinheiro ou com outra coisa qualquer da vida é com o próprio exemplo dos adultos. Observadoras por natureza, se os pais costumam retornar do shopping com sacolas de compras, muito provavelmente as crianças e jovens copiarão esse comportamento consumista ou, para revelar sua inconformidade, tornar-se-ão mesquinhas. Embora a televisão, o marketing publicitário e os grupos em que a criança e o jovem estão inseridos possam influenciar no consumismo, os maiores causadores por tal comportamento são os pais ou responsáveis, eventualmente consumistas.
- Sugestões – o educador financeiro Márcio Martins dá algumas sugestões para começar a ensinar as crianças a lidar com o dinheiro de maneira mais saudável: 1) estimular a criança a pegar moedas e cédulas na mão; 2) mostrar o valor do dinheiro: uma forma prática é dar um cofrinho, de preferência transparente, onde a criança guarda e pode ver o “crescimento” das moedas e cédulas de dinheiro recebidas aleatoriamente de pais, avós, tios, pessoas próximas etc; 3) estimular e ensinar a criança a sonhar: deve haver um objetivo para depositar moedas e cédulas no cofrinho que pode ser comprar alguma coisa específica que ela deseja muito, gastar numa viagem etc; 4) comemorar sempre: toda vez que for realizado o sonho da criança com o dinheiro poupado, comemorar com ela.
Outra forma bem prática de introduzir as crianças e os jovens no mundo do dinheiro é através da mesada, quinzenada ou semanada, de acordo com a idade da criança ou jovem. Como regra básica, a concessão de um valor semanal, quinzenal ou mensal deve ser negociada com a criança ou jovem, visando atender a determinadas despesas – o lanche na escola, por exemplo – e, também, a induzi-la a poupar.
Em contrapartida, existem especialistas, como João Kepler Braga, que são contra a entrega desses valores, dizendo que, embora permitam à criança aprender coisas interessantes, como organização, controle e disciplina, podem também passar a sensação equivocada de que sempre haverá um dinheiro garantido.
- Educação financeira – polêmicas à parte, as novas gerações começam a ter educação financeira nas escolas. Nos últimos anos, milhares de instituições de ensino em todo o país já incluíram, voluntariamente, a disciplina em sua grade curricular, gerando resultados positivos nos lares dos alunos. Desde 2020, o tema está inserido de forma transversal na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No Rio Grande do Sul, a Assembleia Legislativa aprovou, em 7 de junho de 2022, o Projeto de Lei 231/2015 que obriga a inclusão da educação financeira nas escolas públicas e privadas, do ensino fundamental e médio. A propósito, pesquisa realizada em parceria entre o Instituto de Economia da Unicamp, o Instituto Axxus e a Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) apurou que 100% dos pais ou responsáveis disseram que o conteúdo apreendido pelos filhos ou enteados nas escolas está sendo absorvido e implementado pelas famílias.
- Conclusão – frase do educador financeiro e criador da DSOP Educação Financeira, Pós-Doctor Reinaldo Domingos: “Ao ensinar aos filhos quais são as recompensas de se fazer uma poupança; ao mostrar que vida não é só ganhar dinheiro, mas também pagar contas; e ao fazê-los entender que nem sempre terão tudo que desejarem na hora que quiserem, eles passam a lidar de forma mais consciente e saudável com o dinheiro e ficam mais preparados para lidar com eventuais problemas financeiros que possam ter de enfrentar quando crescerem.”
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