Quando mergulhamos em outra cultura, alargam-se nossos horizontes de compreensão de mundo. Percebemos que o modo como vivemos nossa vida, seja no mundo privado ou coletivo, é tão somente uma possibilidade entre muitas; que em outras culturas habitam também outras formas de organização da vida, outros valores, outras maneiras de lidar com a natureza, outras normas de convivência coletiva, outras formas de educar para a vida

Muito tenho observado a vida em meus mergulhos na cultura alemã. Dizem que os alemães são tão pontuais como seus trens. Ultimamente tenho tido a impressão de que os trens andam menos pontuais do que os alemães. Pontualidade é um dos requisitos fundamentais para eles. Um pouco menos em eventos informais. Nestes a boa Gastlichkeit recomenda que não se chegue antes da hora marcada, mas também não mais do que uns 15 minutos depois – festas têm hora para iniciar e para terminar. Na universidade rege o sistema CT “cum tempore” (15 minutos depois do horário marcado para início da Vorlesung) e ST “sine tempore” (pontualmente no horário especificado).

Em feriados e finais de semana, caminhões estão proibidos de trafegar nas autoestradas (somente caminhões que transportam produtos perecíveis têm permissão). Medida que favorece o trânsito de veículos de passeio e de turismo. Isso é possível porque o país dispõe de uma diversificada e densa malha viária para o escoamento da produção: ferroviária, hidroviária, aeroviária, para além de sua malha rodoviária. Como a Alemanha está incrustada no centro da Europa, cercada por nove países, cruzam por suas autoestradas um enorme contingente de caminhões.

Isso talvez explique que eu tenha lá conhecido Maut/pedágio somente para caminhões e em rodovias federais, com cobrança totalmente automatizada e controlada por colunas azuis. Afinal, são os caminhões que mais sobrecarregam e prejudicam as estradas. Se bem que lá conheci rodovia construída há mais de meio século e que continua em bom estado. Isso me faz pensar: se há tanto tempo existe tecnologia para construir estradas duráveis, por que será que as nossas abrem crateras a cada estação de chuvas?

Em Baden-Württemberg observei a existência de colunas pretas, controladoras de velocidade, em entradas de vilas e cidades, com aviso de velocidade máxima: 30. Nas periferias das cidades conheci Schrebergarten – conglomerados de pequenos jardins/ hortas que são arrendados, para neles as pessoas poderem cultivar flores, hortaliças, temperos, chás. Também durante primavera e verão se pode encontrar, próximo a cidades, grandes campos de flores, de morangos, nos quais se pode pessoalmente colher e pagar, depositando o dinheiro numa caixa junto aos canteiros, acompanhado de informações.

A propósito, flores são uma das grandes paixões dos alemães. O cultivo se faz presente por toda parte. Bairros realizam Wettbewerb/concurso, premiam os jardins mais lindos e organizam festa para celebrar a beleza do lugar de viver. Os estados organizam Gartenschau/exposição de jardinagem em grandes espaços a céu aberto, para apoiar o cultivo e tudo o que tem a ver com hortas e jardins. Cada ano um estado é escolhido para sediar o grande Bundesgartenschau do país. O cultivo de jardins, hortas e da terra recebe atenção em diversos programas de TV, em horário nobre.

Fazer a terra frutificar e florescer é um pendor que acompanhou os imigrantes alemães a sua nova Heimat. Em Santa Cruz do Sul, esse gosto pelo cultivo da terra e de flores continua vivamente presente e lhe confere um destaque todo especial.

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