Em meio aos acalorados debates políticos dos últimos dias, no ambiente belicoso das eleições, foi possível viver momentos mais calmos, pacíficos, relaxantes, que a arte da música consegue nos proporcionar em plenitude. Foi o que nos propiciou mais uma vez o Encontro de Corais da Afubra, na 24ª edição, no dia 24 de setembro, um espetáculo muito elogiado por quem o apreciou, oferecido de forma gratuita à plateia no Teatro do Mauá, e de modo virtual pela internet (quem não viu ainda pode assisti-lo em canais como o YouTube).
Intercalando a apresentação dos quatro corais presentes (dois da Afubra e outros gaúchos de Encantado e Não-Me-Toque, além do grupo instrumental infantl de Sinimbu), com variado e qualificado repertório, e esquetes teatrais enfatizando o tema do Reencontro, após o período pandêmico, o show traduziu muito bem o imenso valor da música e do canto, um afago à alma, como já tive oportunidade de refletir neste espaço. Inclusive, esse aspecto foi devidamente lembrado na ocasião, em frase destacada pelo presidente da Afubra, Benício Werner, de que a música entra pelo ouvido, chega ao coração, mas é absorvida mesmo pela alma.
Não há dúvida de que precisamos cada vez mais de corações reconfortados e almas leves diante de tantos conflitos pessoais e interpessoais, onde reassumem papel relevante as milenares tradições trazidas pelos nossos imigrantes, como é o caso do canto coral, que envolve ainda o exercício da convivência grupal. É momento também de revalorizar essas práticas ainda preservadas de forma exemplar em nosso meio, por conscienciosas instituições comunitárias, e assim é louvável que a nossa grande festa de identificação alemã, a Oktoberfest, mantenha espaço para essa arte, como vai acontecer no encontro previsto para o dia 13 de outubro, na Comunidade Santo Inácio.
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Da mesma forma, é relevante a programação destinada nesse evento festivo para sociedades típicas ainda mantidas, entre outras manifestações culturais da nossa gente que não podem ser olvidadas. Lembrei delas no meu mais recente livro, Carl & Ciss – Crônicas da Colônia Alemã, em especial na crônica sob o título “Diversão sim, mas com disciplina”, em publicação que homenageou os 170 anos de imigração germânica na região. E, nessa linha, é reconfortante observar a constante recuperação da memória sobre o que representou esse movimento histórico para nós, onde se salienta esforço persistente do diretor de conteúdo da Gazeta e presidente da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, Romar Beling, ao resgatar publicações de viajantes europeus nos primeiros tempos da colonização, entre outras, como se vê em sucessivas referências no jornal.
No seu amplo acervo, não faltam livros como Cem anos de germanidade no Rio Grande do Sul – 1824/1924, da Federação das Associações Alemãs, de 1924, que registra a presença, entre muitas, de inúmeras sociedades de canto e música em nossa região na época, como “Frohsin”, de Picada Velha, atual Linha Santa Cruz (desde 1884); Concórdia, de Sinimbu (1888); Harmonia, de Ponte Rio Pardinho (1894). Relata que em 1896, em Montenegro, com a participação da Sociedade “Liedertafel”, de Santa Cruz, ocorreu a primeira assembleia da Federação de Cantores do Rio Grande do Sul, que tinha como finalidade “o cultivo do canto alemão mediante a realização de festivais de três em três anos”.
É bom constatar que esses festivais prosseguem em nosso meio, que a música e a canção típicas, entre outras expressões culturais e identitárias de nossos antepassados, não foram esquecidas e continuam a trazer conforto para os corações e as almas de nossa gente, renovando o nosso vigor espiritual, sem o qual o físico não resiste e o futuro não existe.
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