Em sonhos recebi essa mensagem.
“E daí, patrão!
O senhor tem poderes sobrenaturais como, por exemplo, só olhando para um cara, já saber se ele gosta ou não do senhor. Acreditamos que consiga captar nossa mensagem telepática.
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Seu Ruy: aqui falam o Poeta e o Tiaraju. Se lembra quando dez anos atrás o senhor nos comprou? Não levando a mal, o senhor sempre foi baiano né, gaúcho de apartamento, como se diz? Nós dois deixávamos o senhor ‘amuntar’ na passarela da mangueira e ficávamos frios até o senhor conseguir se enforquilhar e meter o bico das botas nos ‘estrivos’. Nós sentíamos sua adrenalina, a égua Macaca vivia nos metendo pilha para atirar o senhor fora, só para ver o barulho do tombo, mas nunca deixamos. Êta égua maleva, coiceira, mal domada.
Depois que o senhor começou a ‘entordilhar’ as melenas, já notamos que se ressentiu dos tombos que levou. Também! quis montar em ‘culhudo’!
Seu Ruy, hoje tem rodeio grande lá no Seu Aldonino. Sempre éramos nós dois que íamos.
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Faz tempo que o senhor chega na fazenda – e nem as horas para nós, que somos seus amigos. O senhor, anos atrás, chegava, nos ‘amanunciava’, falava conosco, nos enchia de ‘balda’. Pois hoje o capataz encostou o caminhão e sabe quem ele carregou para o rodeio?
Aquele cavalo que o senhor comprou num remate, louco de cheio, meio se olhando de atravessado, eu acho que até haragano é. Sabe quem ele carregou das éguas? Aquelas sem fundamento que o senhor comprou na Expointer num remate depois de ter tomado um pouco demais de vinho. Tudo cavalo caro e de apartamento.
O senhor sabe que somos nós que fazemos as lidas do campo. Nós é que ‘campereávamos’ de sol a sol; os finórios e as frescas só no bem bom. Na hora de entrar no mato, atrás de uma vaca braba, éramos nós que nos ralávamos nos espinhos.
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Na hora do frio, eles dormem dentro das baias e o nosso cobertor é a geada.
Seu Ruy, o senhor não é mais aquele humilde que nós conhecemos, pois vem nessas caminhonetes grandes, já nem usa mais bota e bombacha, mais parece aqueles branquelas da cidade.
O senhor se lembra de quando saiu sozinho com o Tiaraju, se perdeu nos campos e o baio o trouxe de volta para as casas?
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Se não gosta mais de andar ‘de a cavalo’ conosco, por favor, nos solte para o campo, mas não nos venda para salame num matadouro. Prometemos que não daremos despesa, até ‘mio- mio’ a gente come, mas nos deixe numa invernada qualquer, na companhia de uma potranca novinha, que vamos rezar para o senhor ser abençoado pelo Deus dos bichos.”
Dedico a quem gosta de animais.
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