Medicina é uma profissão a serviço da saúde da pessoa e da coletividade. Porém, infelizmente, a medicina não lida somente com saúde. Lidamos também com doença, sofrimento e morte. Então ter que dar notícias ruins para as pessoas também faz parte do trabalho médico. Trabalho esse que o médico nunca deve terceirizar.
Os cursos de medicina geralmente não preparam especificamente o médico para ser este mensageiro. Felizmente a formação médica transcende o currículo. Muito do que aprendemos durante a graduação médica advém da convivência profissional com os professores médicos e de suas experiências profissionais compartilhadas.
Por conta da revolução da informação, os pacientes chegam muito mais preparados para as consultas médicas. Os pacientes de hoje não são os mesmos de outrora. Há de se ressaltar que estas informações nem sempre são de qualidade. Assim como a internet é uma bela ferramenta para informar, ela pode ser usada para disseminar muito lixo acerca da saúde e da doença do ser humano.
Publicidade
Hoje em dia é até mais comum as pessoas virem assustadas e com uma visão catastrófica de seus sintomas do que serem pegas de surpresa por um diagnóstico grave. Muito do nosso trabalho hoje é acalmar os pacientes por meio de uma investigação diagnóstica criteriosa e responsável e de uma melhor seleção das informações disponíveis.
Normalmente, os pacientes, nas primeiras consultas, estão com medo, ansiedade, tristeza e sofrimento antecipatório. No cérebro isso se traduz em ativação da amígdala, área responsável pelo sistema de resposta ao medo. Quando ativada, a lógica e a razão diminuem, contribuindo para a pessoa ficar mais confusa e assustada.
Atualmente, toda a nossa atenção deve ser voltada para o paciente. Ele precisa ser ouvido e acolhido. Isso leva tempo e precisa do interesse e comprometimento do médico. “Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença”, já dizia sabiamente William Osler, médico que contribuiu enormemente para a humanização da medicina.
Publicidade
Os pacientes não querem mais diagnósticos e tratamentos goela abaixo. Eles querem respeito, agilidade, empatia, proximidade e personalização dos cuidados. Eles querem tomar parte do processo decisório acerca de sua saúde, doença ou morte. E para isso eles precisam estar bem informados, acolhidos e confiantes no trabalho do médico. Sem isso, seu sofrimento só piora. Com isso, mesmo diante do pior cenário, ele lida muito melhor com a situação.
Ninguém está livre de receber más notícias. Mas dependendo do vínculo, competência e comprometimento do mensageiro, nossa forma de enfrentar os piores momentos da vida é aliviada e nos dá mais força. Essas experiências positivas, mesmo diante dos piores desfechos, marcam não só o paciente como todos os familiares à sua volta.
Publicidade