Minhas promessas para 2023: menos doces, menos sedentarismo, menos planos, menos celular. Menos celular? Como pensar a vida sem ele? Pois é, uma vida sem celular eu nem quero pensar. Mas usando menos, acho fundamental. Para mim. E talvez para você também.
Anos atrás, cobri a invasão de uma área verde por um grupo de sem-teto. Era algo inédito e atraiu muita gente. Prefeito, vereadores, secretários, líderes comunitários, curiosos. Uma confusão. No meio da lama e do burburinho da “novidade”, fui abordada por uma moradora da vila próxima: “Nunca vi tanto movimento aqui. Veio até um pessoal armado”.
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Sem entender, perguntei se falava da polícia. “Não dona, os vereadores, o pessoal da Prefeitura. Todo mundo de arma na cintura.” E só então percebi que se referia aos celulares. Ela realmente achava que eram revólveres aqueles primeiros aparelhos, pesados e volumosos, que as pessoas carregavam dentro de capinhas pretas pendurados nas calças.
Nem eu nem ela poderíamos imaginar que aquele telefone, na época inacessível para a periferia, iria se tornar de fato uma espécie de arma. Ficaria cada vez menor e quase não seria mais usado para falar. No Brasil de 2022, 98,8% dos acessos à internet ocorrem pelo celular. E neste território sem lei, o céu é o limite.
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As vantagens da conexão generalizada são inegáveis. Pena que essa conquista tenha um preço alto. Hoje, nosso cotidiano é mediado pela telinha. Tem gente que vai para uma festa com pessoas de carne e osso e passa a festa trocando mensagens. Que navega à mesa durante o almoço de domingo com a família. Que termina casamento pelo WhatsApp. Quantas vezes perdi a magnífica paisagem da minha cidade ao sol da primavera para ficar teclando? Será que valeu a pena?
Como se isso não fosse suficiente, a conexão 24 horas e em qualquer lugar nos aproximou de realidades que, vamos combinar, talvez fosse melhor nem saber. Certas visões de mundo, certas teorias conspiratórias, possíveis delírios, mensagens carregadas de ódio… É de assustar. Todas com resultados conhecidos. E outros tantos desconhecidos, porque a coisa não para de crescer.
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Não se trata, claro, de voltar à era analógica. Mas me diga, não está mais que na hora de começarmos a filtrar com critérios redobrados o que permitimos entrar em nossas mentes?
Nem falo de um controle legal. Falo tão somente de um autolimite. Saber menos o que se passa na cabeça dos outros, ter menos sede por essas estranhas novidades, voltar a apreciar a vida real, olhar mais para a paisagem. Já me parece um bom começo.
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