Desconhecer a trajetória do “Vida Nova”, mais conhecido como Sanatório Kaempf, equivale a ignorar, em boa medida, a história da cidade de Santa Cruz do Sul. Mais de 100 mil pessoas foram atendidas durante os 109 anos de existência do originalmente denominado “Natur-Heilandstalt Santa Cruz”, ou seja, o “Hospital de Cura Natural Santa Cruz.”
A casa de saúde natural, inaugurada por Eduard e Hedwig Kaempf no dia 15 de novembro de 1889, se manteria até janeiro de 1999, havendo transitado por três fases: de 1889 a 1918, com sua atenção voltada ao exercício da hidroterapia; de 1919 a 1969, na condição de hospital geral; e a partir de 1970, até 1999, enquanto clínica psiquiátrica. Cabe realçar que uma fase não anulou a anterior, mas se lhe foi acrescida com maior ênfase.
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Na condução de um dos seus, a família, ao adentrar pelo portão situado entre os dois receptivos plátanos, respirava esperanças de possível cura, até porque, não raro, esgotara as demais possibilidades. Processo de cura alinhavado, a par das evoluções e metodologias subsequentes, na própria escolha do local. Eduard encontrou na “Entrada Rio Pardinho” as condições ambientais propícias às práticas resilientes identificadas pelo icônico princípio: “mente sã em um corpo são”.
Por razões diversas, entre as quais a bem-vinda reforma psiquiátrica, a emergência de um novo modelo de atendimento à saúde mental e a instalação do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps), há 26 anos foi anunciada a mudança de atividades do Sanatório. Em maio de 2018 a propriedade, já reduzida de seus 46 hectares para 24, foi transferida para uma instituição de ensino privado.
Assim, respeitosamente, segue uma proposição reflexiva, em sentido contributivo, a ser trabalhada: a Implantação do “Memorial Eduard Kaempf”. Nos movem motivações diversas, entre as quais: o empenho pioneiro, visionário e empreendedor do fundador Eduard, que veio para se dedicar à cura das pessoas; a identificação, por Eduard Kaempf, de um local pleno em exuberância natural, evidenciado no arcabouço geológico, nas fontes e na drenagem, na fauna e na flora, constituindo-se em significativa área de pesquisa e preservação, uma universidade a céu aberto; a memória impressa em cada recanto e detalhe, pois a passagem das pessoas pelo Sanatório Kaempf não se apagou e não deveria ser esquecida por nenhum de nós, até para que valorizemos os acertos e evitemos os erros ali cometidos; a magia impregnada nas edificações (atualmente em processo de deterioração), nas trilhas e na “Pedra Encantada”, que magnetiza a quem dela se aproxima; a arquitetura e os materiais construtivos (o sr. Ivo Kaempf, por exemplo, relata que o cimento utilizado foi importado da Inglaterra, em tambores de 200 quilos); a relevante inserção comunitária, inclusive política, como enfatiza Jones Alei da Silva; a contextualização histórica e logística, bem lembrada por Romar Beling; e a relevante participação das mulheres no gerenciamento da casa de saúde.
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Se mais não fosse, como não aventar a possibilidade, mantidas as circunstâncias e a devida cautela conceitual, de ter vivido e atuado entre nós um “Freud naturalista”, que enxergou o que ainda não vimos de forma adequada, ou seja, a interação fluidal entre a saúde integral e a natureza geobiodiversa?
Temos, pois, motivações suficientes para encorpar um movimento em favor de um memorial que lembre a trajetória do fundador e de seus sucessores; dos familiares Kaempf, dos gestores, médicos, profissionais diversos e de todos os que contribuíram no atendimento aos milhares de pacientes ou hóspedes que buscaram a cura para seus males ou, ao menos, o apaziguamento de suas angústias em um ambiente naturalmente pródigo.
Louvando-nos na informação investigada por Márcio Scheibler, sabemos que o fundador Eduard Kaempf (1859-1918) chegou ao Brasil no dia 19 de abril de 1883, aos 24 anos de idade. Aproveitemos este mês de abril e tantos mais que forem considerados necessários para encetarmos, quem sabe, sob o formato de uma parceria público-privada, a implementação do “Memorial Eduard Kaempf”.
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