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JOSÉ AUGUSTO BOROWSKY

Memória: temporais causaram mortes no passado

Memória: temporais causaram mortes no passado

A grande tragédia atingiu Candelária e Sobradinho

Tragédias causadas por condições adversas do clima não são incomuns em Santa Cruz do Sul. Na coluna Memória, da Gazeta do Sul, o tema foi tratado em mais de uma ocasião. Em 1919, uma grande enchente praticamente destruiu o então povoado de Sinimbu, 4º distrito de Santa Cruz. A chuvarada matou três pessoas e centenas de animais, arrasou lavouras e causou prejuízos materiais incalculáveis.

Segundo registro do jornal Kolonie, a chuva começou na noite de 21 de novembro e se acentuou na manhã seguinte, um sábado. De forma rápida, a água começou a descer dos morros, transformando córregos e arroios em rios caudolosos. A enxurrada espalhou-se com força, levando árvores, pedras, animais e barro. 

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Os moradores fugiram para o alto do morro nos fundos do hospital e outros abrigaram-se no segundo andar do Hotel Poll. Quem não conseguiu, subiu para o sótão das residências. Casas inteiras de alvenaria e madeira, assim como galpões, eram carregados.

A alfaiataria de Antônio Becker, a sapataria de Henrique Bohre, a marcenaria de Henrique Neitzke, a farmácia de Arno Neumann, o armazém de Bernardo Fischer, enfim, nada escapou. Na cooperativa, 6 mil arrobas de fumo foram destruídas.

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Emílio Swarowsky tentou salvar alguma coisa da sua selaria, mas foi levado pela correnteza. Madalena, esposa do alfaiate Becker, lutou para resgatar alguma coisa, mas uma onda arrebentou a porta e derrubou a casa. Seu corpo foi encontrado a 500 metros de distância.

Situações causaram pavor

Criança morreu

Depois de terem sua casa derrubada, o dentista Bertholdo Wünsch e a esposa Hilda correram com o filho Harry para o sótão da residência do médico Rudolf Eichenberg, onde já estavam outras pessoas.
A construção, porém, não resistiu e um caibro atingiu a criança, que ainda não tinha dois meses.

Bertholdo jogou-se na água, erguendo o filho com uma mão e nadando com a outra. Por infelicidade, suas pernas ficaram presas em ramos de uma parreira e o bebê caiu na correnteza. Apesar das buscas, o corpo nunca foi localizado. Até hoje, moradores ainda lembram da tragédia.

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Os prejuízos também foram grandes em Rio Pardinho, Picada Rio Pardinho, Linha Desidério, Linha Rio Grande, Alto Sinimbu, Linha São João e Rio Pequeno. Na cidade de Santa Cruz, houve menos estragos, pois a várzea do Pardinho possuía espaço para a água espraiar-se. Os registros indicam que o alagamento chegou até na entrada de Vila Thereza, hoje Vera Cruz. A região do atual Bairro Navegantes foi inundada e a olaria de Otto Herig sofreu enormes perdas.

Odor insuportável

Uma semana após a tragédia, o redator do jornal Kolonie voltou a Simimbu e relatou o drama das famílias, que tiveram casas, móveis, lavouras e pomares destruídos, sem contar os animais perdidos. Nas barrancas do Pardinho e seus afluentes não havia mais árvores, pois elas foram arrrancadas. Por dias, o mau cheiro era insuportável. 

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Estradas não existiam mais e as pontes de arame (pênseis) arrebentaram. Outras perdas também foram registradas, como dinheiro, documentos, roupas, banha e arrobas de erva-mate prontas para a venda. Os estoques dos armazéns sumiram. A Igreja Católica foi alagada e, anos depois, a comunidade investiu em uma nova matriz.

Água veio da serra

O volume de água começou a se formar ainda no território de Soledade, onde nasce o Rio Pardo, e avolumou-se nos arroios menores, nas localidade de Banhado Grande, Gramado Xavier e Estância Schmitt.  Em 13 de maio de 1858, a região já havia sofrido uma grande enchente. O diretor da colônia, João Martin Buff, alertou que os episódios iriam se repetir devido ao desmatamento das margens dos rios e arroios.

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Outras tragédias registradas na região

O primeiro registro de uma grande enchente na antiga colônia é de 13 de maio de 1858. O Pardinho transbordou e causou muitos problemas, devastando lavouras, casas, pontilhões e moinhos. A localidade mais atingida foi a então Picada Nova (hoje distrito de Rio Pardinho).

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O cidadão Mathias Melchior, de 1899 a 1910, dedicou-se a fazer observações meteorológicas na vila, publicadas no jornal Kolonie. Naquele período, a maior precipitação pluviométrica ocorreu em 1902, quando choveu 2.314 milímetros. Depois aparecem 1899, com 1.727; e 1905, com 1.702. O ano de menos chuva foi 1910, com 919 milímetros.

Padre morre

Em 6 de novembro de 1927, mais uma forte chuva provocou enchentes e muitos prejuízos na região de Trombudo (hoje Vale do Sol). A grande tristeza foi a morte do padre jesuíta Guilherme Deckelmeyer. Ele tentou atravessar o passo do Arroio Plums, no lombo do seu burrico, e acabou sendo levado pela correnteza. Seu corpo foi encontrado uma semana depois, a um quilômetro de onde caiu.

A enchente de 1941

No final de abril e início de maio de 1941 ocorreu uma enchente que, até hoje, era apontada como a maior já verificada no Estado. A região de Santa Cruz foi duramente castigada,  com a água atingindo toda a várzea do Rio Pardinho, até a entrada da Vila Tereza (hoje Vera Cruz). Santa Cruz e Rio Pardo ficaram isoladas por vários dias.

Enchente de 1941 alaga a Estação Ferroviária de Rio Pardo

Um ciclone, com ventos de 100 quilômetros por hora, acompanhado de granizo e muita chuva, atingiu a cidade em 14 de outubro de 1959. O aeroclube, que ficava no atual Distrito Industrial, foi completamente arrasado. O hangar caiu e destruiu quatro aviões (um Paulistinha, um Stinson e dois Piper). Dezenas de casas e galpões foram derrubados e várias pessoas sofreram ferimentos.

População do Bom Jesus registrou a enchente em alemão

111 mortes em 1959

Mas a grande tragédia estava reservada para 1959. Após vários dias de chuvas, que afetaram também Santa Cruz do Sul, o Rio Pardo, o Arroio Sobradinho e afluentes, na divisa de Candelária e Sobradinho, saíram do leito, provocando deslizamentos de terras que carregaram tudo que ficava próximo. Em Candelária, 54 pessoas morreram e outras 40 em Sobradinho. O número de vítimas pode ter chegado a 111, pois alguns moradores nunca foram localizados. 

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Nos anos seguintes, outras enchentes aconteceram em Santa Cruz, mas os prejuízos foram mais materiais. Em 1974, as águas tomaram conta da vila de Monte Alverne. Na cidade, os danos foram enormes na várzea do Rio Pardinho e no Bairro Avenida. Em Pinheiral,  parte da RS-287 foi arrancada pelo Arroio Schmidt. Dois caminhões carregados com toras de madeira foram arrastados pela correnteza. Em maio e junho de 1984, novas enchentes atingiram Santa Cruz, deixando 5 mil flagelados e cinco mortos na região.

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