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Memória: Heitor Saldanha nos ilumina

O Rio Grande do Sul celebra em 2024 a passagem dos 50 anos desde a publicação de um clássico da literatura brasileira, o livro A hora evarista, de Heitor Saldanha. Obra-prima da poesia, chegou a público em 1974, como uma lufada de vento novo, primaveril, na cena cultural gaúcha. O autor já havia adentrado seus 60 anos de vida quando tomou a decisão de compartilhar esse conjunto de poemas, divididos em quatro partes, desde então leitura obrigatória para todos os que queiram compreender a alma dos diversos quadrantes do Estado.

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Em relação à percepção das diferentes atmosferas do interior gaúcho, há um aspecto que prontamente se salienta para os leitores. Heitor é natural de Cruz Alta, no Noroeste, a cerca de 440 quilômetros de Porto Alegre (ou a 260 quilômetros de Santa Cruz do Sul), e nasceu em 28 de abril de 1910.

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Poucos anos antes, em 1905, nascia por lá outro cruz-altense que viria também a marcar para sempre as artes e a cultura brasileiras, o romancista Erico Verissimo, que se eternizou com uma obra magistral, na qual se destaca a trilogia O tempo e o vento.

Se Verissimo teve na prosa ficcional e na crônica a sua via de expressão, Saldanha tinha alma de poeta. Sua produção iniciou-se com A outra viagem, em 1951. Curiosamente, este seria incorporado, em 1974, ao volume A hora evarista como a quarta parte desse conjunto. A primeira era justamente “A hora evarista”, que dava nome ao livro, seguida de “A nuvem e a esfera”, a segunda, e de “As galerias escuras”, a terceira.

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Especificamente esta última é uma das mais instigantes e originais reflexões sobre uma atividade (e uma profissão) de forte relevância econômica e social no Estado: a dos mineiros. Em 21 poemas, Heitor tematiza a rotina e a agrura dos trabalhadores nas minas de extração de carvão mineral, e para tanto se baseia na experiência advinda de seu contato com a região carbonífera.

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As metáforas e as próprias imagens que cria a partir do ambiente de extração da matéria-prima em galerias subterrâneas, longe da superfície e da luz solar, sempre às escuras, de dia e de noite, emocionam o leitor pela empatia que estabelecem com esses personagens. Os carros de transporte do carvão ribombam no interior da terra, e ele dá voz aos trabalhadores: “A vida cavou em nós / dificuldades remotas”. É a legítima “vida evarista”, determinada a, apesar do drama asfixiante, transformar tudo para melhor, e iluminar.

Um mestre para gerações

Heitor Saldanha faleceu em 13 de novembro de 1986, aos 76 anos, em Porto Alegre, onde havia se radicado. Em comparação com outros poetas e escritores de sua geração, sua obra é relativamente enxuta, resumindo-se a cinco livros específicos, a partir de Casebre, de 1939, quando ainda não tinha nem 30 anos.

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E A hora evarista paira justamente como a sua principal e incontornável contribuição (para todo leitor de poesia que se preze). Por sua visada social e pelas questões existenciais a que remete, é uma influência muito evidente na música e na literatura de cunho tradicionalista. E, na capital gaúcha, desde o momento em que ali se tinha fixado, passou a integrar o popular Grupo Quixote, que marcou a cena cultural.

Em sua biografia, são constantemente citados a sua admiração e fascínio pelo universo da mineração. Ele chegou a trabalhar em uma mina em São Jerônimo, nos anos de 1950, e assim capta ainda com mais vivacidade esse universo.

A noite madura está suspensa

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As vezes é como a estrela candente:
um rastro luminoso no infinito;
outras vezes é como um sol morrente
que se reflete em mim quando medito.

Agora ela é teu rosto me fitando,
é teu sorriso claro proclamando
um poema que não posso conter

e cultivo esta insônia pensativa
para que tua imagem seja viva
antes que o dia venha te perder.

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Ficha

A Hora Evarista,
de Heitor Saldanha. Porto Alegre: Movimento/SEC, 1974. 208 p.

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