Uma tradição persiste no meio rural, em especial na agricultura familiar e nas pequenas propriedades. É a da melancia forrageira, ou de porco (de nome científico Citrullus lanatus var. citroides), como cultivo de subsistência. Conforme a região, ainda pode ser nomeada de melancia de cavalo, melancia do mato ou melancia nativa. Ela também costuma ser utilizada (menos do que devia) para consumo humano, embora sua polpa não seja doce, além disso é toda branca, ao contrário da melancia de polpa vermelha ou, eventualmente, amarela, largamente apreciadas.
Em diversas pequenas propriedades da região, o cultivo da melancia de porco ainda é realizado todos os anos. Como o nome sugere, acaba sendo direcionada a alimentar suínos e também outros animais. No entanto, isso não significa que ela não tenha uso ou aproveitamento culinário, e nem que não tenha excelentes propriedades nutricionais ou não faça bem à saúde do organismo.
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Em sua composição, apresenta em torno de 90% de água, e o restante de matéria seca, com 7% a 10% de proteína, sendo rica em sais minerais. Ela apenas não tem o mesmo apelo comercial da variedade de polpa vermelha e adoçada, consumida in natura.
Por seu cultivo ser menos difundido, fora de estatísticas, organismos identificados com o meio rural sequer dispõem de dados sobre área plantada ou volumes colhidos. E a semente costuma ser guardada pelo produtor, para realizar o plantio na temporada seguinte.
Em Cerro Alegre Alto, no interior de Santa Cruz do Sul, quem mantém a tradição do cultivo anual de melancia de porco é a agricultora Rosa Weber. E neste ano, com a colaboração do clima, a safra foi excepcional, uma das melhores.
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Dona Rosa, ao lado do marido Aloísio, e na companhia do filho Giovane Luiz Weber, com sua família, contabiliza mais de cem unidades produzidas a partir das poucas sementes que plantou junto a lavouras de aipim e cana-de-açúcar. “E as melancias ficaram todas de porte muito bom. Assim, ao longo dos meses de inverno, vamos poder alimentar os suínos, e também aproveitar elas na culinária”, frisa.
A melancia forrageira, ou de porco, é classificada como Planta Alimentícia Não Convencional (Panc). Por não ser doce, não se assenta ao paladar se consumida in natura. Mas a polpa é usada na produção de schmiers ou geleias; por possuir muita água, desmanchar-se e não ter sabor marcante, agrega textura diferenciada quando misturada com outras frutas, como laranja, bergamota ou pera. E por ter bastante polpa, é preferida porque garante alto rendimento no produto final em relação a frutas menores.
Além disso, quando a polpa é cortada em pedaços ou fatias menores, pode ser usada em cobertura de cucas, algo comum junto a famílias alemãs. E ela ainda pode ser transformada em sobremesa, cozida em água com açúcar e pedaços de canela.
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A origem dessa melancia é africana, mas ela se adaptou bem ao clima do Brasil. A casca é lisa, toda amarela ou mesmo rajada, como as melancias vermelhas.
Os produtores precisam tomar o cuidado de não cultivá-la próximo da melancia tradicional, vermelha; com floração cruzada, a de porco acaba afetando a produção da vermelha, que tende a perder a doçura e se mesclar. O ideal é deixar as melancias forrageiras maduras na lavoura mesmo, não levá-las para o galpão. Ao ar livre, conservam-se por muito tempo, por meses até.
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Dona Rosa Weber, a exemplo de muitas donas de casa no meio rural, adora fazer a cuca com cobertura de melancia forrageira, inclusive uma das mais apreciadas em família, pelo seu sabor e aroma diferenciados.
O aproveitamento no preparo de schmiers e geleias também é muito difundido, assim como em algumas localidades e regiões a sobremesa feita com essa melancia é uma iguaria. Nesse caso, retira-se a casca externa, dura, e corta-se o miolo em pedaços pequenos, depois cozidos, com açúcar a gosto, e pedacinhos de canela em casca. Resfriada, por sua refrescância e sabor único, faz muito sucesso para concluir uma refeição. Abaixo, dona Rosa compartilha uma receita.
“CUCA COM COBERTURA DE MELANCIA DE PORCO” (rende duas cucas)
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Ingredientes:
1 kg farinha; 1 xícara de chá de açúcar; 100g de banha; 1 ovo; 1 pitada de sal; 20g de fermento; água morna até dar o ponto.
Deixar a massa descansar por mais ou menos uma hora e meia. Depois, colocar na forma e deixar descansar novamente por mais ou menos uma hora e meia. Colocar a cobertura.
Cobertura:
400g de melancia de porco em fatias (sem a casca).
Cozinhar com 400g de açúcar.
Colocar sobre a cuca na forma e finalizar com farofa de açúcar.
Levar ao forno por cerca de 20 minutos, a 180 graus.
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