Em viagem que fiz no final de semana à terra natal – Arroio do Meio – eu estava ao volante quando engoli o chiclete depois de devorar um pastel na beira da estrada. Confesso que foi um baita susto que, na verdade, é resultado de uma espécie de trauma de infância.
Engolir uma goma de mascar rendia terríveis consequências junto aos nossos pais. “Nó nas tripas”, dificuldades de digestão, mal-estar, enjoo, risco de vida e um sem-número de malefícios eram as consequências aludidas por nossos responsáveis. Eram tempos de muitas crendices e pouca informação científica. Manias, superstições e boatos transmitidos por várias gerações, consolidados no imaginário de milhões de famílias.
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A minha geração – sou nascido em 1960 – sofreu muito com as proibições a determinadas misturas envolvendo frutas. Lembro-me da melancia, esse fruto vilipendiado por nossos pais e avós. Era impossível consumir a planta com qualquer outro fruto que imediatamente éramos advertidos:
– Tu tá lôco, guri! Vai passar mal. Vamos te levar pro doutor!
Melancia com leite, pêssego ou ameixa – e outros frutos – era condenação fatal de indigestão/congestão, mal-estar generalizado e risco de vida na certa. Com o passar dos tempos, no entanto, aprendemos que nem tudo aquilo correspondia à verdade. Para ser honesto, muito pouco daquelas superstições resultava em malefícios reais para o nosso organismo.
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Atualmente, com os avanços da medicina e proliferação da tecnologia da informação, multiplicam-se os conteúdos dos mais variados segmentos tratando de temas que à minha época de piá eram inimagináveis. Mas cá entre nós: qual o percentual de verdade de tudo que é postado nas redes sociais?
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O WhatsApp é um território sem lei. Observo inúmeros amigos alarmados com determinadas mensagens que tratam de malefícios de determinados alimentos e hábitos. Da mesma forma, dou risada diante dos “milagres” prometidos a partir do consumo de certos produtos e da manutenção de algumas rotinas do tipo “consuma cinco litros de água e durma bem”.
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A proliferação de conteúdos enganosos é muito anterior à era da internet onipresente. Lembro-me do ovo, tecnicamente chamado de “zigoto dos animais”. Este foi um pobre coitado por décadas.
Durante décadas o ovo foi o grande vilão, culpado de todos os malefícios à saúde. De colesterol alto, hipertensão, flacidez, tonturas, fobias e até confusão mental. Tudo era creditado “à parte amarela do ovo”. A gema virou “a Geni” (lembram da música do Chico Buarque?). O tempo, no entanto, desfez essa injustiça.
Por causa das crenças de guri, quase morri de susto por causa de um chiclete. Só porque engoli um chiclete. Viu como a infância é marcante?
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