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Medo

O segundo turno da eleição presidencial me surpreendeu sem um candidato capaz de emprestar esperança do fim do ciclo interminável de crises. Insegurança, desemprego, corrupção, indignação e desânimo dominam o País há anos. A jovem democracia brasileira parece um veículo com bateria gasta que precisa ser empurrado para cumprir um itinerário aos trancos e barrancos.

O pleito de domingo tem semelhanças com outra eleição, o que me tira o sono. Em 1989, um jovem bonito, comunicativo e notório por “caçar marajás” (funcionários públicos que ganham salários exorbitantes, por vezes indevidos) emergiu para enfrentar Lula, reluzente liderança sindical do ABC paulista, esperança de encarnar o povo no poder.

Collor irrompeu no cenário político através do desconhecido PRN – Partido da Reconstrução Nacional. A ascensão meteórica do político alagoano marcou um novo estilo de fazer política. A novidade incluía ruidosas ações de marketing, com caminhadas nas manhãs de domingo ou através de esportes radicais, sempre envergando camisetas com slogans e frases de efeito.

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O mais marcante, porém, era a forma autônoma como Fernando Collor governava. Ele ignorava as lideranças políticas tradicionais, não recebia deputados e senadores. Aos poucos se criou um clima de beligerância. A gota d’água foi a entrevista que seu irmão, Pedro Collor, concedeu à revista Veja, em 1992. Ele expôs as vísceras de um governo corrupto desde os tempos de Alagoas. Paulo César Farias seria o mentor das falcatruas. O desfecho é conhecido de todos, acabou no primeiro impeachment do Brasil.

Neste final de outubro me dá arrepios ver o País dividido entre furiosos derrotados e vencedores vingativos, sem generalizar. Fúria e vingança não combinam com política. Vejo jovens e minorias desesperados com o que virá. O temor resulta do comportamento na campanha eleitoral, onde esses segmentos foram “jurados de morte” pelos seguidores de Jair Bolsonaro, respaldados pelas declarações do candidato.

Frequentemente lembro a meus filhos que, apesar da ojeriza suscitada pela política, foi por meio dela que o Brasil saiu das trevas da ditadura sem guerra civil. Por isso, estou apreensivo diante do clima messiânico que ungiu as comemorações de domingo. O “anti-isso” e o “anti-aquilo” geraram ódio generalizado, um sentimento desprezível.

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Tenho medo. Deparei com postulantes ao mais alto cargo da República que se inspiraram no rancor e fúria. Por isso, resumiram tudo que desprezo em política. A omissão da maioria dos brasileiros em termos de política culminou com esta amarga realidade permeada pelo medo.

TI

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