Aprovado em novembro do ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Spravato (cloridrato de escetamina) foi aplicado pela primeira vez em Santa Cruz do Sul. O novo tratamento foi liberado para um morador do município por intermédio da Defensoria Pública. Segundo o médico psiquiatra Vinicius Alves Moraes, essa é uma das cinco aplicações do medicamento já realizadas no Rio Grande do Sul. Além de Santa Cruz, as outras quatro aconteceram em Porto Alegre.
O psiquiatra conta que estava tentando conseguir o medicamento de forma gratuita para o paciente há quatro meses. De acordo com o médico, a depressão tem prevalência estimada em 20%; a cada cinco pessoas, uma terá depressão durante a vida. Desses pacientes, aproximadamente 30% não apresentam melhora com tratamentos convencionais, e cada vez que há troca de remédios, a chance de resposta é menor.
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Por isso, o Spravato, que é a escetamina intranasal, é utilizado para quem tem Depressão Resistente ao Tratamento (DRT). “São pessoas que fizeram pelo menos dois tratamentos com doses adequadas durante período adequado e não melhoraram. O Spravato é o primeiro medicamento aprovado e regulado pela Anvisa para uso nesses casos de depressão resistente”, explica.
A grande vantagem do uso do produto, conforme o psiquiatra, é que não é preciso mexer na medicação do paciente. “A pessoa mantém o tratamento e tu adicionas o Spravato, que tem uma ação antidepressiva em horas. Normalmente, remédios tomados via oral levam em torno de três a quatro semanas para começar a fazer efeito. A escetamina é a única substância que a gente sabe que faz com que as pessoas melhorem em horas, é impressionante.”
Vinicius Moraes comenta que, após a primeira aplicação, o paciente já apresentou melhora. “Em poucas horas ele já referiu menos angústia, uma leveza, uma melhora no humor e nos pensamentos.” A aplicação do medicamento só pode ser feita por profissionais, em ambiente clínico.
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O Spravato custa cerca de R$ 2 mil por dispositivo, que conta com dois jatos. No primeiro mês de uso, segundo o especialista, o paciente precisa usar três dispositivos duas vezes por semana, o que torna o tratamento oneroso. “Por isso a importância da disponibilização pelo poder público, já que é um medicamento caro, mas aprovado pela Anvisa, para casos que não melhoram com nada. Outra possibilidade são os convênios, pois a medicina de grupo também pode colaborar com esses pacientes”, observa.
Diferentemente de outros, esse medicamento deve ser adquirido e guardado pelo próprio médico. O paciente não pode levar as caixas para casa. Além disso, precisa ser aplicado por alguém treinado. “Se o remédio custa R$ 2 mil, cada jatinho vale R$ 1 mil. Se a pessoa não souber aplicar, o medicamento é desperdiçado.”
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O tratamento preconizado é de pelo menos seis meses. Pacientes que começam vão manter o Spravato de forma mensal com aplicações semanais. Após esses seis meses, são feitas aplicações de manutenção.
“O que a gente observa é que, se a pessoa usava cinco antidepressivos e passa a usar o Spravato por seis meses, depois ela talvez fique com um ou dois antidepressivos de manutenção ou, eventualmente, somente com o Spravato. Depende de cada caso”, detalha o psiquiatra.
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Vinicius Alves Moraes comenta que a pandemia de Covid-19 causou impactos na saúde mental da população. A busca por ajuda também diminuiu ou foi retardada. “As pessoas têm chegado no consultório mais doentes, talvez pela restrição de ficar em casa, nem todo mundo tem como fazer consultas virtuais. Elas adiaram muito a busca por ajuda, sem falar que as pessoas estão bebendo mais, e álcool é um depressivo que pode piorar o quadro e até mesmo as ideações suicidas.”
Quanto mais tempo se leva para procurar ajuda, mais complicado fica o tratamento. A restrição econômica também foi fator determinante, de acordo com Moraes. “Ela acaba não conseguindo investir adequadamente na saúde. A gravidade das situações aumentou, daí a importância de ter um medicamento rápido e que cubra o pior desfecho da psiquiatria, porque o suicídio é a pior coisa que pode acontecer. Se tivermos tempo antes do suicídio, os outros transtornos a gente consegue melhorar”, salienta.
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Ainda segundo o psiquiatra, a maioria dos que não respondem ao tratamento para depressão, mais cedo ou mais tarde, acabam tendo ideação suicida e a escetamina é um medicamento que pode resgatar essas pessoas. “Lembrando que nossa região é campeã brasileira de suicídio e o Estado tem estatísticas de suicídio muito maiores que a média nacional. Nossa região é bem endêmica, por isso a importância da possibilidade de usar esse medicamento, justamente para tirar as pessoas do risco suicida”, acrescenta.
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